Valor econômico, v. 21, n. 5187, 25/02/2021. Brasil, p. A2

 

Bolsonaro sanciona autonomia do BC e diz que Guedes ‘tem coração’

Edna Simão

Fabio Murakawa

Estevão Taiar

Matheus Schuch

25/02/2021

 

 

Bolsonaro assina autonomia do BC e diz que não interferiu na Petrobras

Criticado por interferir na Petrobras, o presidente Jair Bolsonaro sancionou ontem a autonomia do Banco Central (BC). Em solenidade no Palácio do Planalto, o presidente da instituição, Roberto Campos Neto, afirmou que a autonomia monetária não significa liberdade total, mas um equilíbrio de forças. Para ele, a autonomia separará o ciclo da política monetária do ciclo político.

Mesmo com as vantagens da autonomia do BC apontadas por Campos Neto, como a associação a uma inflação mais baixa e menos volátil, sem prejuízos ao crescimento econômico, Bolsonaro disse que só sancionou a medida porque confia na honestidade do executivo. “Se o Banco Central nasceu com Castello Branco [em 1964], ele se imortalizou com Jair Bolsonaro”, frisou em discurso.

Bolsonaro ainda aproveitou a solenidade para destacar que não fez ingerência na Petrobras ao propor a substituição de Roberto Castello Branco por general Joaquim Silva e Luna. “Eu não interferi [na Petrobras], minha querida imprensa”, alegou. “Eu simplesmente resolvi substituí-lo (Castello Branco) por seu mandato estar no fim.”

Bolsonaro justificou que o atual presidente da companhia pode até ter feito um bom trabalho, mas está “cansado” - uma ironia ao fato de que, segundo o presidente, Campos Neto vem trabalhando em regime de home office.

O presidente ainda saiu em defesa do ministro da Economia, Paulo Guedes, chamando-o de “uma âncora” para o governo, mas que tem que demonstrar ao mercado que tem responsabilidade.

Com a nova indicação para o comando da Petrobras, a avaliação do mercado é que o ministro está cada vez mais enfraquecido.

“Paulo Guedes é uma âncora para o nosso governo. Nós passamos de governos que gastavam muito, que não tinham tanta responsabilidade com o seu dinheiro, e passamos para uma austeridade quase absoluta. Aos poucos nós vamos nos adequando, precisamos um do outro [Bolsonaro e Guedes]. Ele [Guedes] precisa demonstrar ao mercado que tem responsabilidade”, afirmou

Dias após dizer que o mercado “não tem coração”, no contexto do aumento no preço dos combustíveis, Bolsonaro afirmou que “o nosso ministro da Economia tem coração, pode ter certeza disso”.

Com a autonomia do BC, o presidente e os diretores da autoridade monetária terão mandatos fixos de quatro anos e não coincidentes com os do presidente da República. Dessa forma, conforme Campos Neto, o ciclo da política monetária, que é de longo prazo, fica separado do ciclo político, de curto prazo. O presidente manterá o poder de escolher toda a diretoria do BC durante o seu mandato.

Ele destacou que o BC também zelará pela estabilidade e pela eficiência do sistema financeiro, suavizar as flutuações do nível de atividade e fomentar o pleno emprego. Para Campos Neto, a aprovação da autonomia ajudará Brasil a entrar na OCDE.

O presidente do BC destacou que o aprimoramento institucional trazido pela autonomia contribuirá para consolidar ganhos alcançados nos últimos anos em termos de estabilidade de preços e financeira. E que abre espaço, disse ele, para mais avanços.

Na mesma cerimônia, no Palácio do Planalto, o presidente deu posse aos ministros Onyx Lorenzoni (Secretaria-Geral) e João Roma (Cidadania).