Correio Braziliense, n. 21107, 09/03/2021. Brasil, p. 5

 

Governo finalmente fecha com a Pfizer

09/03/2021

 

 

Depois de muita relutância e acusações à farmacêutica de querer jogar para o governo federal o ônus das eventuais ações judiciais relativas a efeitos colaterais, o Palácio do Planalto acertou um acordo com a Pfizer para obtenção de 14 milhões de doses da vacina contra a covid-19. De acordo com o ministro da Economia, Paulo Guedes, os imunizantes serão entregues até o mês de junho, sendo que uma remessa com 5 milhões de doses chegaria ao país antes desse prazo. A assinatura do contrato, contudo, ainda não aconteceu. A vacina é a única que possui registro definitivo da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

De acordo com os dados colhidos pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), que são reproduzidos pelo Ministério da Saúde, pela primeira vez o número de mortos pela covid-19, em 24 horas, ficou abaixo de mil: 987 óbitos. O total de vidas perdidas no Brasil, porém, está em 266.398, com uma taxa de mortalidade de 126,8 por 100 mil habitantes. A taxa de letalidade no país é de 2,4%.

Depois de reunião com a cúpula mundial do laboratório, ontem, que contou com presença do presidente Jair Bolsonaro, de ministros e do CEO do laboratório, Albert Bourla, Guedes afirmou que "a vacinação em massa é a primeira prioridade do governo". Ele acrescentou, ainda, que o governo está empenhado em "vacinar e manter a economia em movimento".

"A solução para o Brasil é vacinar para manter imunidade da população e preservar sinais vitais da economia. O presidente da Pfizer disse que o Brasil é muito importante, são 200 milhões de brasileiros. Ele se comprometeu a olhar para essa expansão potencial e vai olhar com carinho futuros aumentos na produção do Brasil", disse o ministro da Economia, acrescentando que a Pfizer informou ao governo brasileiro que vai aumentar a produção diária de 1,5 milhão para 5 milhões de doses.

Segundo Guedes, houve "problemas de escala" na negociação com a Pfizer. "Os dois lados demoraram um pouco com as negociações, mas temos que olhar pra frente", completou. A decisão do governo brasileiro pela compra da vacina da Pfizer só veio semana passada, depois de meses rejeitando propostas feitas pela empresa, que foi o primeiro dos grandes laboratórios a procurar o Ministério da Saúde para oferecer o fármaco, em 2020.

Em agosto passado, o governo federal recusou uma oferta de aquisição de 70 milhões de doses do imunizante. E, em dezembro passado, em reunião com governadores, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, chegou a dizer que "se houver demanda e houver preço, nós vamos comprar" –– em resposta ao governador João Doria, sujeitando a aquisição de imunizantes à quantidade e ao valor a ser cobrado pelas doses.

A mudança de postura do governo federal deve-se ao fato de que o presidente Jair Bolsonaro ordenou a Pazuello que negocie todos os contratos possíveis para a obtenção de vacinas, antes que estados e municípios consigam formar consórcios entre eles para a obtenção de imunizantes. Ele teria sido "taxativo" na ordem que deu ao ministro, pois não admite que o governo federal perca a primazia na compra de fármacos. Nos últimos dias, Pazuello negociou contratos com a Pfizer, a Johnson & Johnson e a Moderna, que ainda não se materializaram em medicamentos.

Doses a menos
Paralelamente à reunião com a Pfizer, Pazuello garantiu que o país terá disponível entre 25 milhões e 28 milhões de dose de vacinas até o fim de março. Esse volume de imunizantes inclui as produções da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), por meio da Bio-Manguinhos, e do Instituto Butantan. O número é menor do que os 30 milhões de doses anunciados no último sábado. Quase que diariamente o governo vem reduzindo as previsões de ofertas de vacina.

A afirmação de Pazuello foi dada depois de encontro com governadores e integrantes da Fiocruz, no Rio de Janeiro. Segundo o ministro, a fundação e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) estão acertando os últimos detalhes para regulamentar o processo de produção da fundação.

A meta é que a Fiocruz produza 1 milhão de doses por dia da vacina desenvolvida pela AstraZeneca e a Universidade de Oxford nas próximas duas semanas. A instituição enfrentou problemas na produção.

No encontro, também foi discutida a necessidade de se fazer um esforço diplomático para destravar a importação de vacinas da Índia e de insumos da China. Segundo representantes da Fiocruz e o governador do Piauí, Wellingon Dias, representante do Fórum dos Governadores, há muitos entraves para que o Brasil receba os imunizantes e a matéria-prima necessária, o ingrediente farmacêutico ativo (IFA), para que as vacinas possam ser produzidas no país.

Há a possibilidade de o Brasil recorrer ao Reino Unido, aos Estados Unidos e à Coreia do Sul para importar vacinas e insumos, como forma de reduzir a dependência da China e da Índia. Espera-se, ainda, que o país receba, de imediato, 2,8 milhões de doses de imunizantes da Covishield, desenvolvida pela Universidade de Oxford e pela AstraZeneca, por meio do consórcio Covax Facility, administrado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).