Correio Braziliense, n. 21107, 09/03/2021. Política, p. 4

 

"Meu Exército" não obrigará lockdown

09/03/2021

 

 

O presidente Jair Bolsonaro criticou, ontem, as novas medidas de isolamento nos estados e municípios para conter o avanço do novo coronavírus e descartou a possibilidade de decretar um lockdown nacional. "Alguns querem que eu decrete lockdown. Não vou decretar e pode ter certeza de uma coisa: o meu Exército não vai para a rua pra obrigar o povo a ficar em casa", disse, em conversa com apoiadores no Palácio da Alvorada.

Ontem, pela primeira vez, ficaram abaixo de mil as mortes pela covid-19 em 24 horas: 987, ainda assim o maior número de óbitos na medição de domingo para segunda-feira. As vidas perdidas chegaram a 266.398, de acordo com os dados coletados pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), que são replicados pelo Ministério da Saúde.

"Eu quero paz, tranquilidade, democracia, respeito às instituições, mas alguns estão se excedendo", disse Bolsonaro aos apoiadores, em tom ameaçador aos governadores. "O povo vai se conscientizar do que precisa ser feito. Na hora certa, tudo vai acontecer", completou, enigmático.

O presidente citou o auxílio emergencial, pago a trabalhadores informais e desempregados por causa do fechamento de negócios durante a pandemia do novo coronavírus, como o "maior projeto social do mundo". O governo se prepara para lançar uma nova rodada do benefício em 2021 e, ontem, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que serão pagamentos de R$ 250, em média. "Parece que está voltando a onda de lockdown", disse Bolsonaro, pressionado pelo avanço da doença e pela falta de vacinas para a população. "Vamos ver até onde o Brasil aguenta esse estado de coisas". Mais uma vez, ele evitou se responsabilizar pelo quadro da covid-19 no país. "Não cobre de mim. Se eu fosse o dono de tudo aqui, seria o que chamam de ditador".