Correio Braziliense, n. 21102, 04/03/2021. Negócios, p. 12

 

Petrobras sobre novas perdas

Simone Kafruni 

04/03/2021

 

 

Com a suspeita de que houve vazamento de informação privilegiada sobre a interferência política na Petrobras — o que teria rendido R$ 18 milhões a um investidor no dia seguinte ao anúncio feito pelo presidente Jair Bolsonaro sobre a troca no comando da estatal —, os papéis da petroleira derreteram mais um pouco no pregão de ontem. As ações ordinárias caíram 4,88%, e as preferenciais, 4,32%. Enquanto a estatal segue perdendo valor de mercado, em cifras que extrapolam R$ 108 bilhões, a debandada de conselheiros aumenta, com o temor de verem seus nomes e CPFs envolvidos em ações judiciais.

Além dos quatro membros do Conselho de Administração que pediram, na terça-feira, para não terem o mandato renovado — João Cox Neto, Nivio Ziviani, Paulo Cesar de Souza e Silva e Omar Carneiro da Cunha —, a Petrobras anunciou, ontem, a saída do conselheiro Leonardo Pietro Antonelli. Ele informou à companhia que também não pretende ser reconduzido como indicado pelo acionista controlador, a União, na próxima Assembleia Geral Extraordinária (AGE), ainda sem data marcada, para eleição dos integrantes do colegiado. "A não recondução do conselheiro não impede que ele seja eventualmente indicado e eleito novamente pelos acionistas minoritários, caso haja solicitação de voto múltiplo e ele receba votos para tanto", explicou a Petrobras, em comunicado.

A debandada começou a ocorrer após a notícia de que acionistas da Petrobras se preparam para entrar com ações coletivas contra a empresa por conta das suspeitas de informação privilegiada. Para o presidente da Macroplan, Claudio Porto, a preocupação dos conselheiros é ter a reputação atingida, com o envolvimento dos seus CPFs nos processos. "No lugar deles, eu faria a mesma coisa", disse. "O risco da interferência política está se espalhando entre as estatais. Veja o caso do Banco do Brasil (o presidente do BB, André Brandão, colocou o cargo à disposição por divergências com Bolsonaro). Pode chegar à Eletrobras", ressaltou.

Má reputação

Einar Porto, gerente de Relacionamento Institucional da Economática, explicou que o principal prejuízo da empresa é reputacional. "Esse é muito sério, porque a Petrobras perdeu reputação com a Lava-Jato e com a interferência no preço dos combustíveis durante o governo Dilma. A gestão de Castello Branco vinha tentando, a duras penas, se pautar pelos parâmetros do mercado globalizado. Não podemos esquecer que a Petrobras já foi a companhia mais endividada do mundo e continua muito alavancada", avaliou o especialista.

"O golpe na reputação tem impactos negativos na atratividade das ações. As agências de classificação rebaixaram a recomendação. Isso tem um efeito no custo do financiamento da empresa, porque o prêmio de risco fica maior", acrescentou Porto.

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Investidores cobram apuração 

Vera Batista 

04/03/2021

 

 

Após a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) abrir investigação para apurar suspeita de informação privilegiada na demissão do presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, que beneficiou especuladores com lucros de R$ 18 milhões, a questão que preocupa o mercado é a origem do vazamento. Na reunião em que foi decidida a defenestração do principal executivo da petroleira, havia apenas autoridades próximas ao presidente Jair Bolsonaro. Há uma pressão dos investidores para que sejam citados nomes, e os culpados, punidos.

É preciso esclarecer, por exemplo, se a informação privilegiada partiu de alguém que estava dentro ou fora da sala onde Bolsonaro se reunia com os subordinados; se foi intencional ou apenas um comentário com um amigo esperto; se partiu dos próprios ministros ou de seus assessores. "Nesse momento, com certeza, a CVM já tem nome e CPF de quem cometeu o crime. Lógico que não vai ser divulgado agora, porque isso só é feito no final das investigações. Pela importância do fato, a impressão é de que não vazou das autoridades, mas não deixa de ser responsabilidade delas, porque não tomaram o devido cuidado. Só não se sabe se há interesse em se chegar mesmo a esse nome", disse Cesar Bergo, sócio-investidor do Corretora OpenInvest.

O problema, na análise de Bergo, é delicado. "Já atuei nesse tipo de investigação. É muito complexo. Qualquer comentário em tom de voz mais alto, o pessoal do corredor, que não é surdo, pode reproduzir em cascata. Mas também é possível que a CVM, o Ministério Público e a polícia descubram esse elo. Para o bem do mercado de capitais, é importante que tudo seja resolvido", advertiu o economista.

Na reunião do dia 18 de fevereiro, estavam presentes com o presidente Jair Bolsonaro os ministros Braga Netto, da Casa Civil; Paulo Guedes, da Economia; Tarcísio Gomes de Freitas, da Infraestrutura; Bento Albuquerque, de Minas e Energia; Luiz Eduardo Ramos, Secretaria de Governo; e Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional (GSI). Todos negaram que tenha sido responsáveis pelo vazamento.