Correio Braziliense, n. 21096, 26/02/2021. Brasil, p. 6

 

Pazuello admite força do vírus

Bruna Lima 

Maria Eduarda Cardim 

26/02/2021

 

 

O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, reconheceu, ontem, que o Ministério da Saúde falhou ao acreditar que a chegada da vacina colocaria um freio no avanço da covid-19 no país, sobretudo porque o governo observava uma situação de "estabilidade" no número de mortes e casos em outubro e novembro. Embora não tenha sido claro ao admitir a reação equivocada da pasta, disse que a nova fase da pandemia é ainda mais grave do que a primeira. Ontem, de acordo com os números do ministério, o Brasil chegou a 251.498 mortes pela covid-19, sendo que nas últimas 24h foram registrados 1.541 óbitos. O número de casos é de 10.390.461 infecções.

"Várias cidades do país, vários locais estão subindo (os números de infectados). Não está centrado apenas no Norte e Nordeste, como vimos ano passado. Precisamos estar alerta e preparados para isso", salientou Pazuello, ao lado dos presidentes dos conselhos nacionais de secretários de saúde estaduais (Conass) e municipais (Conasems), Carlos Lula e Wilames Freire, respectivamente.

O general atribuiu ao surgimento das novas variantes a atual dificuldade em controlar a pandemia. "O vírus mutado tem três vezes mais capacidade de contaminação, e a velocidade pode surpreender o gestor em termos de estrutura e apoio. Essa é a realidade que temos hoje no Brasil", explicou. Segundo ele, a cepa descoberta em Manaus, a P.1, "já faz parte do cotidiano e está em outros estados brasileiros".

Os presidentes dos conselhos fizeram declarações em tom de alarme e preocupação. Lula disse que o país vive o momento mais duro da pandemia, e Freire afirmou que é preciso voltar a orientar a população a seguir medidas contra o vírus. Eles alertaram, ainda, que o sistema de saúde de estados e municípios funciona no limite e que a iminência de colapso não está concentrada em apenas uma região. Durante o pronunciamento, o presidente do Conass afirmou que há, pelo menos, 15 estados com capacidade de lotação dos leitos de UTI acima de 90%.

"Todos os estados têm criado mais leitos, mas apenas isso não adianta. Precisa de ajuda da sociedade. Tem de entender que não é hora de fazer festa. O que a doença precisa é de pouco ar, ambiente fechado", disse. E acrescentou: "Precisamos ligar o alerta porque, sem dúvida, viveremos as semanas mais difíceis em março e abril", salientou.

No limite
O ministro anunciou que o governo federal voltará a realizar o financiamento de leitos de UTI de forma antecipada, com depósitos a cada mês para viabilizar o uso destes espaços –– o repasse para leitos tem sido uma reclamação de secretários. Sem dar detalhes, o general também citou a possibilidade de mais remoções de pacientes de locais em colapso, mas o presidente do Conass afirmou que os estados estão "no limite".

Pazuello salientou que a vacinação está "tendendo à estabilidade em termos de produção e quantidade de doses" e voltou a afirmar que metade da população "vacinável" deve receber o imunizante até metade do ano –– menores de 18 anos, por exemplo, ainda não recebem as doses. O ministro estimou que a população total que pode ser imunizada é de 160 a 170 milhões de pessoas. Acrescentou que a compra das vacinas da Pfizer e Janssen pode ser viabilizada com mudanças na legislação para que a União assuma riscos de efeitos colaterais dos produtos.
"Temos quase um ano de pandemia. Acredito que o governo federal, o SUS como um todo, não deixamos nada para trás. Não deixamos nada nem ninguém para trás", disse.

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Estados se fecham 

26/02/2021

 

 

O impacto do aumento da transmissão da covid-19 por causa da escassez da oferta de leitos de UTI deixou os sistemas estaduais e municipais de saúde na iminência do colapso. Enquanto o governo patina na campanha de vacinação, a solução para governadores e prefeitos é tornar mais rígidas as medidas de isolamento social, buscando esvaziar as ruas para tentar mudar a realidade dos lotados hospitais.

Além do Amazonas, cuja gravidade do descontrole acarretou em uma disparada nas mortes em mais de duas vezes superior ao ápice da pandemia, em 2020, o pico do registro de óbitos em 2021 também superou os recordes do ano anterior verificados em Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Rondônia e Roraima.
Na tentativa de frear o agravamento da pandemia, o governo de Rondônia tem contado com ajuda de outros estados para cuidar de seus doentes, pois 100% dos leitos de UTI destinados a pacientes de covid-19 estão ocupados. Em um desabafo pelas redes sociais, o secretário de saúde, Fernando Máximo, foi enfático: "Para você que aglomera, que está fazendo festinha e não usa máscara: nós não temos leito de UTI para sua mãe, não tem leito para o seu pai, tio, filho, namorada... Nós não temos leito de UTI para você, seja rico ou pobre".

No Rio Grande do Norte, todas as vagas de UPAs (unidades de pronto atendimento) estão lotadas e, por enquanto, as transferências de pacientes ocorrem internamente. "Natal e a Região Metropolitana estão com a assistência de saúde colapsada e já estamos transferindo doentes para Mossoró, Caicó e Pau dos Ferros", disse a governadora Fátima Bezerra. O estado está com 88% de ocupação dos leitos de UTI e 90% na Grande Natal.

"Estamos apavorados"
O Rio Grande do Sul vive sua pior situação hospitalar até o momento. "Eu estou enxergando o pico do Everest. Estamos aqui apavorados", assegurou a secretária da saúde, Arita Bergmann. Em pouco mais de um mês, o estado teve uma alta de ocupação superior a 200% e opera com 91,8% da capacidade máxima de atendimento de casos que necessitam de cuidados intensivos.

Para tentar barrar o aumento na ocupação de leitos, os estados apostam no fechamento do comércio e em regras mais rígidas. A partir de hoje, a Bahia, por exemplo, determinou lockdown de todas as atividades não essenciais até as 5h da próxima segunda-feira. O secretário de saúde de Salvador, Léo Prates, indicou que a situação é de pré-colapso. "O ideal é que não se precise chegar ao leito de UTI e que se tente diminuir a demanda com medidas restritivas", disse. Até ontem, a capital baiana registrava 84% de ocupação das vagas de UTI. Salvador e outros 416 municípios terão as atividades não essenciais suspensas, conforme anúncio feito pelo governador Rui Costa, em coletiva conjunta com o prefeito de Salvador, Bruno Reis, e gestores da Região Metropolitana.

O governador de Sergipe, Belivaldo Chagas, disse na última quinta-feira que não descarta o toque de recolher no estado como medida para conter o avanço do novo coronavírus. Por enquanto, ele sugere que "os municípios coloquem barreiras sanitárias para abordar as pessoas que estejam transitando da Bahia". A preocupação se dá pela alta circulação de novas cepas no estado vizinho.

A combinação das medidas de restrição com as mudanças para o repasse federal destinado aos leitos de UTI deve dar uma resposta positiva diante da crise, como afirmou o presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde, Carlos Lula. (BL e MEC)