Correio Braziliense, n. 21093, 23/02/2021. Política, p. 4

 

Diálogos indicam atropelos

Sarah Teófilo 

23/02/2021

 

 

A defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva enviou, ontem, ao Supremo Tribunal Federal (STF), uma manifestação com mais diálogos que teriam sido trocados entre integrantes da força-tarefa da Operação Lava-Jato do Paraná. As mensagens, obtidas no âmbito da Operação Spoofing –– que prendeu hackers suspeitos de invadir celulares de autoridades em 2019 ––, foram obtidas pelos advogados após autorização do Supremo.
Em um dos diálogos, que seria entre o ex-coordenador da extinta força-tarefa de Curitiba, Deltan Dallagnol, e o procurador Januário Paludo, no dia 15 de setembro de 2016, Deltan teria escrito: "Deixe essa burocracia chata que não serve pra nada e vem pra cá vc tb January (sic). Venha prender o Lula". A defesa do ex-presidente afirma, no documento remetido ao ministro Ricardo Lewandowski, que, na ocasião, "não havia sequer uma acusação formal contra Lula, (...) reforçando a obsessão em relação a ele".

Em outra mensagem, Deltan teria dito que uma delegada federal, supostamente Erika Marena –– que atuou na Lava-Jato ––, lavrara um termo de depoimento de uma pessoa sem que tivesse sido ouvida. "Como expõe a Erika: ela entendeu que era pedido nosso e lavrou termo de depoimento como se tivesse ouvido o cara, com escrivão e tudo, quando não ouviu nada... dá no mínimo uma falsidade... DPFs (delegados da Polícia Federal) são facilmente expostos a problemas administrativos", teria escrito Deltan, em 25 de janeiro de 2016.

O diálogo seria entre Deltan e o procurador Orlando Martello Júnior, que teria sinalizado que lavrar depoimento sem ouvir a testemunha já havia ocorrido: "Podemos combinar com ela (Erika) de ela nos provocar diante das notícias do jornal para reinquiri-lo ou algo parecido. Podemos conversar com ela e ver qual estratégia ela prefere. Talvez até, diante da notícia, reinquiri-lo de tudo. Se não fizermos algo, cairemos em descrédito. O mesmo ocorreu com Padilha e outros. Temos q chamar esse pessoal aqui e reinquiri-los. Já disse, a culpa maior é nossa. Fomos displicentes!!! Todos nós, onde me incluo. Era uma coisa óbvia q não vimos. Confiamos nos advs e nos colaboradores. Erramos mesmo!" (sic).

Deltan responde: "Concordo. Mas se o colaborador e a defesa revelarem como foi o procedimento, a Erika pode sair muito queimada nessa... pode dar falsidade contra ela... isso que me preocupa".

A PF afirmou que "todas as ações de polícia judiciária, depoimentos e interrogatórios inclusive, praticadas no âmbito de suas operações, são pautadas pela legalidade". Já os procuradores que integraram a força-tarefa reafirmaram que as mensagens são fruto de atividade criminosa e que não tiveram autenticidade reconhecida.

Disseram, ainda, que embora não reconheçam o conteúdo dos diálogos, foram apresentados fora de contexto e omitem parte da questão. "Se refeririam a depoimento específico prestado por Fernando Moura que, após confessar seus crimes em acordo de colaboração premiada e depoimento perante a Polícia Federal, negou os fatos perante a Justiça Federal em depoimento prestado no dia 22 de janeiro de 2016".

Sobre o ex-presidente Lula, afirmaram que "as mensagens mostram somente uma brincadeira entre colegas de trabalho.