O globo, n. 31966, 12/02/2021. Sociedade, p. 8

 

Pazuello pede a senadores que não ''politizem'' o debate da Covid-19

Julia Lindner

12/02/2021

 

 

Ministro promete vacinar população até o fim do ano e produzir oxigênio no Norte

Em sessão temática sobre o novo coronavírus, ontem, no Senado, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, pediu aos senadores que evitem “politizar” o debate. Do contrário, afirmou que a situação “vai apertar” e o combate ao novo coronavírus será dificultado. O desempenho de Pazuello no Senado é considerado decisivo para a instalação ou não de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar a conduta do governo federal na pandemia.

—A guerra é contra a Covid. Ela é técnica, de saúde, não é política. Se abrir duas frentes, política e técnica, vai apertar — disse o ministro, argumentando que a abertura de uma nova frente resultaria em “perda de mais gente”. O Brasil registra quase 235 mil óbitos decorrentes da doença.

Pazuello voltou a se comprometer com a vacinação de toda a população “vacinável ”( menores de 18 anos, por exemplo, não estão sendo vacinados) até o fim do ano. A proposta é mais otimista do que a apresentada no Plano Nacional de Imunização, que prevê a campanha até meados de 2022.

—Vamos vacinar o país em 2021: 50% da população vacinável até junho; 50%, até dezembro —disse.

Sobre o colapso do sistema de Saúde de Manaus, onde houve falta de oxigênio, Pazuello disse que o governo tem o compromisso de evitar que a situação se repita:

— A estratégia para a Amazônia é fabricar oxigênio. Estamos requisitando todas as fábricas e usinas geradoras para isso. Não há como continuarmos carregando tubos de oxigênio para lá e para cá. Temos que fabricar o oxigênio no local. Vou atender todos os estados da Amazônia, por requisição, transporte e instalação.

Pazuello admitiu que o governo acreditou, erradamente, que havia alcançado a estabilização dos casos:

— Estávamos focados na compra das vacinas, em vacinar a população e manter a estabilidade de números. Essa ideia foi quebrada. Nos últimos 90 dias, houve números inacreditáveis de casos e óbitos mundo afora — disse, assumindo a surpresa com a curva de casos no Norte do país:

— Havia um aumento previsível, mas não na velocidade da curva que nós vimos. Estamos no meio do inverno do Norte, que é de chuva, quando aumenta o número de doenças pulmonares. Estávamos preparados para isso, mas não para o que aconteceu. Se essa curva acontecer em qualquer lugar do Brasil, vai ser drástico. Se nós tivermos, em três semanas, 150%, 120% e 90% de aumento, não há estrutura que aguente.

CRÍTICAS E MAIS CLOROQUINA

Questionado sobre orientações do Ministério da Saúde e do presidente Jair Bolsonaro para que a população usasse remédios sem comprovação científica durante a pandemia, postura apurada judicialmente, o ministro disse que a pasta só deu orientações sobre fármacos para estabelecer as dosagens corretas de cada um e que o Ministério da Saúde “não define qual remédio é usado” nos tratamentos, só recomenda que as pessoas procurem atendimento médico.

Apesar de ter afirmado a jornalistas que a pasta não teria concluído a aquisição de cloroquina para distribuí-la dentro da política de combate à pandemia, reportagem de ontem da Folha de S.Paulo revelou que um documento do Ministério da Saúde enviado ao Ministério Público Federal (MPF) em 4 de fevereiro apontou a distribuição do medicamento produzido na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) a pacientes com Covid-19. Segundo a publicação, o governo teria usado a Fiocruz para a produção de 4 milhões de comprimidos do remédio, com recursos emergenciais liberados a partir de uma medida provisória editada por Bolsonaro em abril. O dinheiro também serviu para a produção de Tamiflu. Tanto a cloroquina quanto o antiviral têm sido usadas para o combate à Covid-19, mesmo sem sua eficácia comprovada.

Autor do pedido de abertura da CPI da Covid-19, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) disse que as respostas de Pazuello não foram satisfatórias:

— São temas demais para serem esclarecidos, que essa audiência não deu conta. Se o ministro veio para cá por articulação ou estratégia do governo para evitar a CPI, saiu enfraquecido e vai ter a CPI.