O globo, n. 31970, 16/02/2021. País, p. 6

 

Bar­ro­so: há 'ope­ra­ção aba­fa' con­tra a La­va-Ja­to

Aguirre Talento

16/02/2021

 

 

Ministro diz que 'eventuais excessos' da força-tarefa não podem desviar o foco de 'corrupção sistêmica' no Brasil
O ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), avaliou que "eventuais excessos" da Operação LavaJato, que teriam sido demonstrados nos diálogos entre procuradores obtidos após um ataque hacker, não podem desviar o foco do combate a uma "corrupção sistêmica" que existe no Brasil.

Em uma entrevista ao historiador Marco Antonio Villa, Barroso citou existir em curso uma "operação abafa" por meio da aliança de todos os setores para enterrar as ações de combate à corrupção.

— Não é esse o ponto, alguém ter dito uma frase inconveniente ou não. É que estão usando esse fundamento para tentar destruir tudo o que foi feito, como se não tivesse havido corrupção. O problema do Brasil foi a Lava-Jato e os seus eventuais excessos, não foi a corrupção —ironizou o ministro.

Barroso ressaltou que um ex-gerente da Petrobras devolveu mais de R$ 100 milhões de propina desviada dos cofres da estatal e lembrou da apreensão de R$ 51 milhões em dinheiro vivo em um apartamento ligado ao ex-ministro Geddel Vieira Lima (MDB), entre outros casos apurados na Lava-Jato. Citou também a existência de agentes públicos desviando recursos da saúde que deveriam ser utilizados no combate à pandemia:

— Então, é claro que se tiver um excesso, ele deve ser objeto de atenção. Mas é preciso não perder o foco. O problema não é ter tido exagero aqui ou ali. O problema é esta corrupção estrutural, sistêmica, institucionalizada, que não começou com uma pessoa ou um partido, vem de um processo acumulativo que um dia transbordou. E o que a gente assiste hoje é a tentativa de sequestrar a narrativa como se isso não tivesse acontecido. Barroso concluiu:

— E um dos problemas é que no andar de cima no Brasil quase todo mundo tem um parente, um amigo, um parceiro que esteve envolvido com alguma coisa errada. E aí se forma um arco de alianças. O Brasil está polarizado de Norte a Sul, só há um consenso: varrer a corrupção para baixo do tapete.

Em junho de 2019, o site The Intercept Brasil divulgou diálogos, interceptados por hackers, entre o então juiz federal Sergio Moro, responsável por julgar os casos da Lava-Jato em Curitiba, o procuradores da forçatarefa, entre eles, Deltan Dallagnol, coordenador da operação. Através do aplicativo de mensagens Telegram, eles discutem detalhes de fases da Lava-Jato, o conteúdo de depoimentos de executivos presos pela força-tarefa e reações institucionais e da opinião pública às investigações. Com base nessas conversas, cuja autenticidade ainda não foi confirmada por perícia, a defesa do ex-presidente Lula pede a suspeição de Moro nos julgamentos da Lava-Jato.