Correio Braziliense, n. 21080, 10/02/2021. Brasil, p. 5

 

Brasil abdicou de produzir IFA

Edis Henrique Peres 

10/02/2021

 

 

O Brasil importa a maioria do Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA), matéria-prima para qualquer vacina que faça parte do Plano Nacional de Imunização, do governo federal. Mas essa realidade já foi diferente: na década de 1990, o país produzia aproximadamente 50% dos medicamentos que consumia e, hoje, esse índice caiu a modestos 5%. O alerta é de Igor Calvet, presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e foi dado no CB.Poder de ontem –– uma parceria do Correio Braziliense com a TV Brasília.

"Isso demonstra a nossa dependência, não só dos insumos, como dos medicamentos finais. Já passamos da fase da discussão sobre autossuficiência. O momento atual é de diminuir as vulnerabilidades do sistema de saúde e do país", salientou.

O executivo ressaltou que, em um passo importante para reduzir a dependência de imunizantes da China e da Índia, a ABDI firmou um termo de cooperação técnica com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) para modernizar a produção de produtos biológicos. Serão investidos R$ 2,5 milhões na transformação digital do processo de produção de vacinas e medicamentos.

Calvet observou, ainda, que a saúde da população está diretamente ligada ao desempenho da economia. E que a vacinação contra a covid-19 é fundamental para a retomada do crescimento do país. "Com um imunizante, o paciente não precisa de internação, por exemplo. Também vale lembrar a importância da área de saúde para a nossa balança comercial. Esse setor, somando tanto medicamentos como os serviços, apresentou em 2020 deficit em torno de US$ 20 bilhões", explicou.

Por isso, o presidente da ABDI sugere que o Brasil pense em elaborar uma política de exportação de IFA. "Temos que obter essa visão. Hoje, o mercado chinês faz isso, assim como o indiano, que possuem grandes escalas de produção e exportam seus insumos. Ficou claro na pandemia que os detentores de tecnologia e dos insumos primeiro garantem o necessário para a sua própria população", disse.

*Estagiário sob a supervisão de Fabio Grecchi

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Brasileiro quer se vacina, diz pesquisa 

10/02/2021

 

 

A interferência das fake news e a negação do governo federal sobre a importância da vacinação para o combate à covid-19 perderam força após o início da imunização no Brasil. Uma pesquisa nacional realizada pela Hibou, empresa de sondagem e monitoramento de mercado e consumo, apontou que nove entre 10 brasileiros acreditam na importância do medicamento como estratégia de saúde e estão dispostos a tomá-lo.

O levantamento foi realizado em meio ao novo cenário da vacinação, incluindo as aprovações para uso emergencial pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a chegada de insumos ao país, bem como a crescente movimentação do Ministério da Saúde nas negociações com diferentes farmacêuticas. "Ficou claro que o brasileiro acredita na vacina e quer tomá-la o quanto antes para retomar 100% das atividades", destacou a responsável pela pesquisa e sócia da Hibou, Ligia Mello.

Entre 29 de janeiro e 2 de fevereiro, foram entrevistadas 2,5 mil pessoas pela internet, das classes A a D. Sobre a pretensão de se vacinar, 87,4% declararam que iriam aos postos receber as doses e 12,6% foram contra a medida. Além disso, 72,8% dos que participaram da sondagem acreditam que receberão pelo menos a primeira dose até o fim do ano.

Dentro do grupo daqueles que afirmaram que não tomarão a vacina, mais da metade (54,4%) justificou que não confia nas que estão disponíveis e 21,3% não acreditam que haja imunização contra a covid-19. Para 8,5%, o fármaco não é recomendado para o quadro de saúde individual. Assim como o presidente Jair Bolsonaro, 5,2% dizem que não tomarão a vacina por terem contraído o vírus.

Mesmo provocado pelo presidente da Anvisa, Antônio Barra Torres, em transmissão ao vivo, na última quinta-feira, Bolsonaro reforçou a não adesão à campanha vacinal. O presidente afirmou que iria acompanhar o momento em que Barra Torres fosse imunizado e questionou se poderia ele mesmo aplicar a injeção. "Vai ter uma moeda de troca. Quero saber se o senhor está disposto (a receber a vacina)". Mesmo entrando na brincadeira, Bolsonaro não deu o braço a torcer. "Sem contrapartidas", disse. (BL)