Correio Braziliense, n. 21074, 04/02/2021. Política, p. 6

 

Fim da linha para a Lava-Jato

Renato Souza 

04/02/2021

 

 

Depois de quase sete anos de operação, 79 fases deflagradas, 533 acusados e R$ 4,3 bilhões recuperados, a Lava-Jato deixa de existir em Curitiba. Desde 2014, a cidade se tornou o centro de investigações que atingiram a cúpula dos Três Poderes, estremeceram os pilares da República e levantaram controvérsias no meio político e jurídico. O Ministério Público Federal (MPF) informou, ontem, que o grupo da força-tarefa na capital do Paraná foi desmobilizado. A mudança ocorre após uma portaria da Procuradoria-Geral da República (PGR), que estendeu os trabalhos do grupo até outubro deste ano, mas com nova estrutura.

Cinco integrantes passam a compor o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e devem continuar nos casos investigados pela Lava-Jato. No entanto, outros 10 procuradores que estavam na força-tarefa não serão alocados no Gaeco e deixam de ter atribuições delimitadas.

A decisão foi anunciada sem ter sido acompanhada de discursos em defesa da Lava-Jato, como ocorria nos anos anteriores, todas as vezes em que surgiam rumores de que força-tarefa poderia ser finalizada. O único a se manifestar, entre os integrantes do grupo, foi o coordenador, Alessandro José de Oliveira, que substituiu o procurador Deltan Dallagnol no comando da operação em Curitiba.

Os procuradores que não foram alocados no Gaeco ainda poderão atuar em casos eventuais, até outubro. "O legado da força-tarefa da Lava-Jato é inegável e louvável, considerando os avanços que tivemos em discutir temas tão importantes e caros à sociedade brasileira. Porém, ainda há muito trabalho que, nos sendo permitido, oportunizará que a luta de combate à corrupção seja efetivamente revertida em prol da sociedade, seja pela punição de criminosos, seja pelo retorno de dinheiro público desviado ou pelo compartilhamento de informações que permitem que outros órgãos colaborem nesse descortinamento dos esquemas ilícitos que assolam nosso país há tanto tempo", afirmou Alessandro José de Oliveira.

Trabalho

Somadas, as penas aplicadas durante a Lava-Jato ultrapassam os 2.600 anos. No período de quase sete anos, foram expedidos 1.450 mandados de busca e apreensão, 211 conduções coercitivas, 132 mandados de prisão preventiva e 163 de temporária. Também foram firmados acordos de cooperação internacional, somando 735 pedidos — sendo 352 pedidos a outros países (ativos) e 383 passivos (solicitações de outras nações a autoridades brasileiras).

Apesar das acusações contra o PT, especialmente investigações que chegaram ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, terem maior repercussão no âmbito da operação, o PP é a sigla que lidera em integrantes que foram alvos das diligências. Trinta e cinco pessoas ligadas à legenda foram acusadas de desvios de dinheiro no esquema montado para saquear os cofres da Petrobras e suas subsidiárias.