O Estado de São Paulo, n.46392, 23/10/2020. Internacional, p.A11

 

Em tom mais ameno, Trump e Biden questionam honestidade um do outro

Beatriz Bulla

23/10/2020

 

 

Último debate era considerado oportunidade de o presidente americano reverter a vantagem do rival democrata; durante uma hora e meia, os dois candidatos trocaram farpas sobre integridade, ética e formas de conter ataques externos contra o processo eleitoral

CORRESPONDENTE / WASHINGTON

No último debate antes da eleição, Donald Trump e Joe Biden trocaram acusações sobre a honestidade um do outro. Atrás nas pesquisas, Trump buscou tirar o foco de seu mandato, enquanto Biden abordou de forma mais assertiva questões sobre os negócios do republicano e tentou fazer da noite uma discussão sobre o governo atual.

Diferentemente do que aconteceu no debate anterior, não houve interrupções frequentes. No primeiro encontro, Biden chegou a pedir que Trump calasse a boca. Desta vez, os dois tiveram o microfone silenciado durante a resposta do opositor.

Biden foi firme e manteve a calma mesmo diante das acusações contra sua família e buscou mostrar contradições no discurso de Trump, com menções a declarações passadas do presidente. Trump teve uma participação mais moderada do que o habitual, respeitando tempo de fala de Biden.

Os dois mostraram visões contrastantes em temas importantes, como acesso à saúde, imigração e meio ambiente. Ao falar sobre proteção ambiental, por exemplo, Biden afirmou que o país tem “obrigação moral de lidar com as mudanças climáticas”. “Vamos passar o ponto de não retorno nos próximos oito ou dez anos”, disse. Já Trump afirmou que não “sacrificará empregos e empresas pelo Acordo de Paris”.

O democrata repetiu parte da retórica emocional que teve no primeiro debate ao falar sobre como o vírus atingiu as famílias americanas e acusou o presidente de não assumir a responsabilidade pelo problema. “Assumo responsabilidade total. Não é minha culpa que (o vírus) chegou aqui. É culpa da China”, respondeu Trump.

Um dos momentos mais tensos foram as acusações, de ambos os candidatos, de receber dinheiro ou manter negócios com países estrangeiros. “Eu não recebi um único centavo de nenhum país estrangeiro na minha vida”, disse Biden, que citou reportagem no New York Times segundo a qual o presidente tem uma conta bancária na China. “O que você está escondendo?”

Trump voltou a dizer que divulgará suas informações fiscais – algo que não fez nos últimos quatro anos – e garantiu que pagou previamente “milhões e milhões de dólares em impostos”

O debate de ontem foi a última chance de Trump reverter a vantagem de Biden nas pesquisas. Menos de 10% dos americanos estão indecisos. Muitos já votaram. No total, 46 milhões já enviaram os votos pelo correio ou de maneira antecipada.