Correio braziliense, n. 21067, 28/01/2021. Política, p. 3

 

MDB ensaia abandonar Tebet

Jorge Vasconcellos 

28/01/2021

 

 

A poucos dias da eleição à Presidência do Senado, marcada para 1º de fevereiro, a bancada do MDB passou a cogitar a possibilidade de desistir da candidatura própria, representada por Simone Tebet (MS), em favor de um acordo com o presidente da Casa, Davi Alcolumbre (DEM-AP), principal fiador do postulante ao cargo Rodrigo Pacheco (DEM-MG). A informação foi passada a jornalistas, ontem, pelo líder do MDB na Casa, Eduardo Braga (AM), logo após uma reunião da bancada.

Segundo o parlamentar, a discussão foi motivada pela não confirmação de apoios que haviam sido prometidos por alguns partidos para a campanha do MDB. Apesar do risco de divisão, Tebet afirmou que seguirá na disputa, independentemente do posicionamento da legenda. 

Braga terá um novo encontro com Alcolumbre, hoje, para avançar na discussão de um acordo. Uma das opções levantadas durante a reunião, segundo ele, é o partido liberar a bancada na votação em plenário. Assim, Tebet poderia prosseguir com uma candidatura avulsa. 

“Nós não discutimos a desistência (de Tebet) e, sim, o cenário, porque a candidatura da Simone foi construída por aclamação. Quando fizemos isso, estávamos diante de expectativas de apoio de alguns partidos, que, em parte, não se confirmaram”, justificou o líder do MDB. “A senadora reafirmou que é candidata e que compreende a decisão do partido, mas que manterá a sua candidatura. Ela poderá levar a sua candidatura ao plenário, essa é uma questão que o MDB está discutindo.” 

Por trás da decisão da legenda há uma certa frustração com as alianças conquistadas por Tebet ao longo da campanha. Ela recebeu apoios do Cidadania e PSB, mas não conseguiu a adesão de siglas que se apresentavam como aliadas, casos do Podemos, da Rede e do PSDB. Do lado adversário, a campanha de Pacheco, que conta com o aval do presidente Jair Bolsonaro, é sustentada por nove siglas, e o parlamentar tem sido apontado como favorito na disputa. 

Após a reunião da bancada, Tebet disse à imprensa que manterá a candidatura “até o fim”. Ao ser perguntada se a bancada estava unida, ela afirmou que não sabe e pediu que a pergunta fosse feita a Eduardo Braga. 

Em seguida, o líder do MDB, questionado sobre a fala da colega, declarou que “não poderia mentir” ao dizer que há união na bancada porque, ontem, vários senadores da legenda se manifestaram contra a candidatura de Tebet.

Na noite de terça-feira, Davi Alcolumbre procurou Braga e Fernando Bezerra Coelho (PE), líder do governo no Senado. A conversa incluiu a negociação de espaços para o MDB ocupar com uma eventual vitória de Pacheco, incluindo a Vice-Presidência do Senado, a segunda-secretaria e a presidência de comissões importantes, como a de Constituição e Justiça (CCJ), hoje comandada por Tebet. 

Segundo afirmou Eduardo Braga, o Presidente do Senado disse que pretendia demonstrar “o seu interesse de buscar um consenso, um entendimento”. Braga ressaltou, também, que o partido quer “construir pontes” com Alcolumbre e seu grupo político. Ao negar que esteja de olho em cargos, o parlamentar frisou que o ideal é que as negociações sejam feitas com base na proporcionalidade. Maior bancada do Senado, o MDB conta com 15 representantes.