Correio braziliense, n. 21065, 26/01/2021. Política, p. 4

 

Bolsonaro desdenha manifestações

Ingrid Soares 

26/01/2021

 

 

Apesar dos 61 processos de pedidos de impeachment contra ele, na Câmara dos Deputados, o presidente Jair Bolsonaro ironizou as carreatas que, no último final de semana, pediram sua saída da Presidência da República. Apesar de terem sido realizadas em várias cidades, aos apoiadores ele citou apenas a ocorrida em Campo Grande. Segundo ele, havia uns "10 carros" protestando a favor de sua saída do cargo.

"Vi uma carreata monstro contra mim, de uns 10 carros", desprezou, em conversa com apoiadores na saída do Palácio da Alvorada.

Em Brasília, com gritos de "Fora Bolsonaro" e buzinaço, centenas de carros saíram às ruas. A mobilização ocorreu no Eixo Monumental e na Esplanada dos Ministérios. No Rio de Janeiro, também houve carreata pedindo o afastamento do presidente, assim como em Porto Velho (RO), Cuiabá (MT) e Minas Gerais (MG). No domingo, Bolsonaro passeou de moto e não respondeu sobre a queda de popularidade do governo, segundo a pesquisa do Datafolha, publicada pelo jornal Folha de S.Paulo. A sondagem, divulgada no último dia 22, mostrou aumento na reprovação do governo, que passou de 32% para 40%. A aprovação também caiu, indo para 37% para 31% em dezembro.

A redução de apoio a Bolsonaro se manifesta, inclusive, na Câmara dos Deputados. Levantamento do Observatório do Legislativo Brasileiro (OLB), produzido pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), mostra que ele contou com uma base de votos menor do que a de antecessores nos dois primeiros anos de mandato. Mesmo com o apoio de partidos do Centrão e o alinhamento maior de deputados desse bloco ao Palácio do Planalto, a adesão supera apenas a observada durante o governo de Dilma Rousseff pouco antes do impeachment, em 2016.

Os dados mostram que, na primeira metade do mandato, Bolsonaro teve, em média, apoio de 72,5% na Câmara. O índice considera o alinhamento dos deputados com a liderança do governo em todas as votações, excluindo aquelas nas quais houve consenso, como o decreto de calamidade pública para enfrentar a pandemia de covid-19.

Apesar de ter maioria na Câmara para aprovar projetos, o presidente enfrenta dificuldades. Isso porque o porcentual de 72,5% indica que o apoio parlamentar ao governo é inferior à base que sustentava seus antecessores desde a gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (2003 a 2006 e 2007 a 2010).

A média de apoio ao governo em votações nominais na Câmara no primeiro mandato de Lula, por exemplo, foi de 77,1% até junho de 2004. Já o ex-presidente Michel Temer, que assumiu o governo após o afastamento de Dilma, obteve respaldo de 73,7% dos deputados. Nos meses que antecederam o impeachment de Dilma, no entanto, a adesão ao governo petista era de 58,2%.

72,5%
é a média de apoio que Bolsonaro teve, na Câmara, na 1ª metade do mandato. Segundo o Observatório do Legislativo, é maior apenas que a de Dilma pouco antes do impeachment