Correio braziliense, n. 21064, 25/01/2021. Brasil, p. 5

 

Pazuello vai a Manaus sem data de retorno

25/01/2021

 

 

Após ser alvo de um pedido de abertura de inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, viajou para Manaus e, de acordo com a assessoria do Ministério da Saúde, ficará na região pelo "tempo que for necessário". Ele é acusado na Justiça de se omitir em relação a grave crise de saúde que atinge o Amazonas, com o avanço desenfreado da pandemia da covid-19. É a terceira vez no mês que o ministro vai até a maior cidade da Região Norte.

Pazuello desembarcou na noite de sábado, ao mesmo tempo em que 132,5 mil doses da vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford em parceria com a farmacêutica AstraZeneca chegaram ao estado. Ao todo, o Amazonas recebeu 458 mil imunizantes, contando o lote da CoronaVac, comprada pelo Instituto Butantan. A expectativa é de que, até o fim de março, sejam enviadas ao local 1,5 milhão de doses, para uma população de 4,2 milhões de habitantes.

Na primeira visita no ano, o ministro levantou polêmica ao discursar sobre a vacinação sem apontar uma data para que a imunização começasse. Pazuello afirmou que as doses seriam aplicadas "no dia D, na hora H". Apesar da frase ter repercutido no país e no exterior, outros atos seriam decisivos para a responsabilização do ministro sobre o caos na cidade. Enquanto estava na região, Pazuello recomendou que moradores utilizassem medicamentos sem eficácia científica comprovada, como a cloroquina, ao recomendar a administração do "tratamento precoce" para a covid-19.
Ao mesmo tempo, o Ministério da Saúde colocou no ar o aplicativo TrateCov, que deveria acelerar o diagnóstico de casos da doença no Amazonas. No entanto, após preencher um formulário, pacientes eram orientados a adquirir e utilizar medicamentos como a hidroxicloroquina e azitromicina, que não combatem a doença, de acordo com os estudos realizados sobre o assunto, e podem gerar graves efeitos colaterais, inclusive, levar à morte.

No dia 12, quando Pazuello retornou a Brasília, o sistema de saúde de Manaus entrou em colapso e o oxigênio acabou nos hospitais, provocando a morte de dezenas de pessoas por asfixia. O governo federal admitiu que já sabia do problema desde o dia 8. Mas a empresa White Martins, que fornece o gás, afirmou que tinha informado o Ministério da Saúde e o governo do estado sobre o aumento da demanda com um mês de antecedência. Os fatos foram levados até a Procuradoria-Geral da República (PGR) por um grupo de senadores.

Após ouvir Pazuello e o corpo técnico do Ministério, o procurador-geral da República, Augusto Aras, solicitou ao Supremo Tribunal Federal (STF) que abra inquérito para investigar o caso. Além de ser afastado do cargo, se ficar claro que o ministro cometeu crime, ele pode responder criminalmente e ser preso, seja no exercício do cargo ou fora dele.

A crise continua no Amazonas e pacientes estão sendo transferidos para outros estados. Mesmo moradores acometidos por outras doenças devem ser deslocados para outras unidades da federação, em razão da superlotação dos hospitais. A taxa de mortalidade na região está em 170 óbitos pela covid-19 para cada 100 mil habitantes, a mais elevada do país.

Comboio
O Ministério da Saúde informou que, quatro dias após saírem de Porto Velho (RO) com 160 mil metros cúbicos (m³) de oxigênio para suprir demanda da rede hospitalar de Manaus (AM), um comboio com seis carretas chegou à capital do Amazonas, no Porto da Ceasa, no início da tarde de ontem. O comboio foi acompanhado por uma equipe e máquinas do Departamento Nacional de Infraestrutura do Transporte (Dnit), órgão do Ministério da Infraestrutura. Uma das carretas, a sétima, sofreu danos durante o caminho e deveria chegar só à noite em Manaus.

A pasta disse que, por meio do Centro de Operação de Emergência, "monitora, diariamente, o abastecimento de oxigênio na rede hospitalar de Manaus e auxilia no transporte do oxigênio que vem de outras cidades". Em média, a produção de oxigênio diário está em 30.345 m³, e o volume adicional levado de outras regiões é de 62.062 m³. O consumo médio da rede hospitalar, em Manaus, é de 80 mil m³, o que exige esforço diário para manter o consumo, que aumentou em 300%.

"A chegada dos 160 mil m³ alivia, mas não resolve em definitivo o problema do abastecimento da rede hospitalar. É necessário conter os níveis de contágio, reduzindo as internações para que o consumo possa ir, gradativamente, voltando aos níveis anteriores", afirmou o ministério, em nota.

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Sete dias de lockdown

Marina Barbosa 

25/01/2021

 

 

O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, chegou a Manaus em um momento de endurecimento das medidas de isolamento social. Para conter a circulação da nova cepa da covid-19, o governo do Amazonas determinou que as pessoas saiam de casa apenas para atividades essenciais a partir de hoje.

As novas medidas restritivas foram anunciadas no fim de semana pelo governador, Wilson Lima (PSC), e vão vigorar até domingo, com fiscalização da Polícia Militar. Segundo o governador, que, inicialmente, havia descartado a possibilidade de um lockdown, a medida é necessária para conter aglomerações e a circulação do vírus, já que a rede de saúde do estado continua operando acima do limite. Ontem, por exemplo, 18 pacientes foram transferidos da capital amazonense para Minas Gerais. Com isso, chegou a 247 o número de pacientes transferidos a outros estados.

Segundo o decreto estadual, apenas profissionais de atividades essenciais podem se deslocar pelo estado nos próximos sete dias. O setor industrial também foi autorizado a funcionar no limite de 12 horas diárias, mas a Honda decidiu suspender a produção de motocicletas até 3 de fevereiro.
Os demais amazonenses só devem sair de casa para atividades essenciais, como uma ida ao supermercado, à farmácia e ao médico. Algumas dessas atividades também têm limites de horário. Mercados, por exemplo, só podem funcionar das 6h às 19h, tanto que alguns amazonenses correram para fazer feira nos últimos dias. A Polícia Militar vai fiscalizar o cumprimento das medidas.

Fura-fila
A partir de hoje, a prefeitura de Manaus também terá que divulgar diariamente a lista de vacinados contra a covid-19 na cidade. A transparência nos dados da imunização foi exigida pela Justiça Federal do Amazonas, ontem, após várias denúncias de "fura-filas" na vacinação.

Segundo decisão da juíza federal Jaiza Maria Pinto Fraxe, a divulgação da lista de vacinados tornou-se necessária para garantir "respeito ao princípio constitucional de transparência e direito à informação sobre a distribuição e aplicação de insumos que são tão valiosos para salvar vidas e que, descaradamente, têm sido desviados". A distribuição das doses da vacina da AstraZeneca que foram destinadas a Manaus, neste fim de semana, estão condicionadas ao cumprimento da medida.
A magistrada determinou que as pessoas que furaram a fila da vacinação em Manaus não terão direito à segunda dose até que chegue a sua vez no plano de imunização, sob pena de prisão em flagrante delito caso desrespeitem a ordem novamente. "O juízo não aceitará desculpas de qualquer privilegiado", ressaltou a juíza, que ainda pediu para que a secretária de Saúde de Manaus, Shadia Fraxe, esclareça porque já tomou a vacina.

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Rondônia vai transferir pacientes 

25/01/2021

 

 

Vizinho do Amazonas, atual epicentro da pandemia da covid-19 no Brasil, o estado de Rondônia também vê a rede pública de saúde chegar ao limite por conta do avanço de casos do novo coronavírus. Por isso, vai transferir pacientes para outros estados e pede que médicos se apresentem para intensificar o tratamento da covid-19 na rede estadual.

A transferência de pacientes foi anunciada pelo governador de Rondônia, coronel Marcos Rocha (sem partido), após o prefeito da capital Porto Velho, Hildo Chaves (PSDB), anunciar o colapso do sistema municipal. Pacientes de covid-19 que estão na fila de espera por um leito em Rondônia serão transferidos, portanto, para hospitais federais localizados em outros estados. O transporte será feito por aeronaves cedidas pelo Comando Militar da Amazônia, segundo Rocha.

"O avanço rápido da doença fez com que a capacidade dos leitos chegassem no limite", disse Rocha. Ele admitiu que o rápido aumento de casos pode estar relacionado à nova cepa da covid-19, identificada em Manaus. "Como estamos do lado do Amazonas, é possível que tenha chegado aqui", disse, por meio das redes sociais.

Procurado, o governo de Rondônia não informou a quantidade e o destino desses pacientes, mas o último balanço epidemiológico do estado informa que há 579 pacientes da covid-19 internados. Por conta disso, o estado também deve receber médicos, monitores multiparamétricos e bombas de infusão, por intermédio do Ministério da Saúde, para intensificar o combate ao vírus. O governador explicou que há leitos em desuso no estado por falta de médicos e disse que, por isso, há pacientes na fila de espera da Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Ele também fez um apelo para que os profissionais do estado se apresentem para ajudar no tratamento dos pacientes da covid-19, com remuneração garantida.

Diante da gravidade da situação, o governo de Rondônia já deu início à distribuição das 13 mil vacinas da AstraZeneca, que chegaram ao estado ontem. Ainda assim, Rocha pediu cautela e consciência à população. Ele destacou que não é hora de fazer festas e aglomerações. E pediu respeito às medidas que podem conter o avanço da doença, como o distanciamento social, o uso de máscaras e de álcool em gel.

"Estamos recebendo a vacina, mas há uma necessidade que quero deixar bem clara para toda a população: a prevenção é o melhor remédio neste momento. Nós vamos vencer a pandemia, mas precisamos agir com prevenção", destacou, comparando a pandemia a uma situação de guerra. "Na guerra, não escolhemos nada, nós perdemos as pessoas", completou. (MB)