Valor econômico, v. 21, n. 5186, 10/02/2021. Política, p. A6

 

Audiência de Pazuello é última barreira contra CPI

Renan Truffi  

Vandson Lima

10/02/2021

 

 

Requerimento tem apoio de 30 senadores e preocupa governo

Pressionado por parlamentares de diferentes partidos, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), quer aguardar a realização de uma audiência com o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, antes de decidir sobre a instalação ou não da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que tem como objetivo investigar as ações e omissões do governo federal no enfrentamento à pandemia de Covid-19. O requerimento de apoio à CPI no Senado é sustentado por 30 senadores, de 11 diferentes partidos, e tem preocupado o Palácio do Planalto.

O assunto foi discutido ontem durante a reunião de líderes da Casa. Ficou estabelecido, no entanto, que os parlamentares irão avaliar, primeiro, as explicações de Pazuello. A audiência com o ministro está prevista para ser realizada amanhã, às 15 horas. O clima na reunião foi de animosidade por conta da morte do senador José Maranhão (MDB-PB), que teve complicações devido à Covid-19. Maranhão é o segundo senador que morre por conta do doença desde o início da pandemia. O primeiro foi Arolde de Oliveira, que tinha mandato pelo PSD do Rio de Janeiro.

Na conversa, os senadores chegaram à conclusão de que é preciso pressionar Pazuello por conta da morosidade na aplicação das vacinas. Os congressistas estão preocupados pelo fato de que, em vários Estados, as vacinas já acabaram e o governo não conseguiu fazer a reposição da substância. Em condição de anonimato, um senador fiel ao governo Jair Bolsonaro admitiu que, caso Pazuello não dê explicações satisfatórias, o apoio à instalação da CPI pode aumentar.

“Tem países com 80% da população vacinada e nós estamos num ritmo aquém do desejado. Isso coincidiu, infelizmente, com a morte do colega senador. Estão todos muito revoltados. Se ele [Pazuello] não for bem na audiência, a CPI vai se tornar uma necessidade”, disse uma fonte.

Durante a reunião, os senadores também discutiram a possibilidade de cobrar explicações do presidente da Anvisa. Antônio Barra Torres, mas optaram por deixar isso para um outro momento. Senadores da oposição, entretanto, acreditam que Rodrigo Pacheco esteja usando a audiência com o ministro para acalmar os ânimos. “A expectativa velada é de que a oitiva do ministro ajude a tirar assinaturas e inviabilizar a CPI”, disse um parlamentar.

A CPI da pandemia está sendo tratada por alguns senadores como um primeiro teste para o “governismo” de Rodrigo Pacheco. O senador mineiro foi eleito com a ajuda do Palácio do Planalto e, por isso, alguma bancadas desconfiam que ele vá “retribuir o favor” engavetando o pedido. No último biênio, o ex-presidente Davi Alcolumbre foi acusado por alguns congressistas de barrar CPIs e projetos que contrariavam os interesses do Executivo.

A CPI pode convocar pessoas para depor, ouvir testemunhas, requisitar documentos e determinar diligências, entre outras medidas. O relatório final poderá concluir pela apresentação de projeto de lei e, se for o caso, suas conclusões serão remetidas ao Ministério Público, para que promova a responsabilização civil e criminal dos infratores.