Correio braziliense, n. 21060, 21/01/2021. Política, p. 3

 

Risco ao país exige freios, afirma Mourão

21/01/2021

 

 

O vice-presidente Hamilton Mourão disse não ver motivos para a abertura de um processo de impeachment contra o presidente Jair Bolsonaro, mas defendeu que um chefe de Executivo precisará ser "parado", caso coloque o Brasil em risco.

"É óbvio que se um presidente colocar em risco a integridade do território, a integridade do patrimônio, o sistema democrático e a paz social do país, ele tem de ser parado pelo sistema de freios existente", afirmou o general, em entrevista ao jornal Valor Econômico.

Mourão reconheceu que Bolsonaro cometeu erros desde que assumiu o Palácio do Planalto, em 2019, mas destacou que nenhum deles justifica os cerca de 70 pedidos de afastamento do presidente que já foram apresentados ao Congresso.

"Se você botar numa coluna do nosso governo, você vai ver que teve mais acertos do que erros. Teve erros, que são sobejamente conhecidos. Mas, vamos olhar, por que vamos fazer o impeachment? Vai chegar daqui ao ano que vem. E, se o governo dele não for bom, ele não será reeleito, caso seja candidato à reeleição", ponderou.

O general comentou que Bolsonaro não pode ser responsabilizado pelos números expressivos da covid-19 no país — mais de oito milhões de infectados e mais de 200 mil mortes — nem pelo estado crítico do Amazonas, que viu o sistema de saúde entrar em colapso, nas últimas semanas, por conta da pandemia, sobretudo com desabastecimento de oxigênio medicinal.

"Ele não foi o responsável pelas pessoas saírem para a rua. Aí, tem uma responsabilidade compartilhada entre todas as esferas de governo. Nenhum dos nossos governadores e prefeitos conseguiu implementar um lockdown para valer. Até porque, no Brasil, esse troço não dá", frisou. "O Brasil é um país muito grande, muito desigual. Não é a França ou a Espanha, que você dá um grito em Madri e todo mundo ouve. Na China, o cara bota a força armada na rua, cerca, derruba a internet. É diferente daqui."

Segunda onda
Na avaliação de Mourão, as eleições municipais de 2020 e as festas de fim de ano contribuíram para que o país entrasse em uma segunda onda da crise sanitária, o que ele definiu como "repique". "O repique aconteceu porque nós tivemos um processo eleitoral em que todo mundo se atirou numa campanha. E, depois, numa questão de festas de fim de ano, em que todo mundo lavou as mãos e jogou a toalha nisso aí. Ou não lavou as mãos. Infelizmente, aconteceu isso aí e compete ao Estado, em todos os níveis, buscar uma solução." (AF)