Correio braziliense, n. 21057, 18/01/2021. Política, p. 3

 

"Um divisor de águas na história"

Augusto Fernandes 

18/01/2021

 

 

 Recorte capturado

A Diretoria Colegiada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) foi unânime ao aprovar o uso emergencial das vacinas CoronaVac, desenvolvida pela farmacêutica Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, e Covishield, produzida pela farmacêutica Serum Institute of India e AstraZeneca, Universidade de Oxford e Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), e também deixou claro que, como não há outra alternativa contra a doença no momento, os imunizantes são indispensáveis para todos os brasileiros.

Ontem, durante a sessão que autorizou a aplicação temporária das duas vacinas no Brasil, os cinco diretores da autarquia pediram que a população confie nos produtos. O cenário da pandemia no país, que já contabiliza quase 8,5 milhões de infectados e aproximadamente 210 mil mortos pela covid-19, foi o bastante para justificar o apelo da Diretoria Colegiada. "A aprovação da vacina é um desejo de todos, uma questão humanitária e de saúde pública. O momento é histórico, de enfrentamento real à pandemia, capaz de reverter esse cenário devastador. Um divisor de águas na história. Daí a importância de uma análise acertada, sempre pautada no equilíbrio e na cientificidade", disse a diretora Cristiane Jourdan.

A sessão de análise para uso emergencial das vacinas durou quase seis horas. Antes da decisão dos diretores da autarquia, a gerência-geral de medicamentos da Anvisa e outras duas áreas técnicas da agência analisaram os dois pedidos, recomendando a aprovação de ambos. Na Diretoria Colegiada, a relatora do assunto, Meiruze Sousa Freitas, votou a favor da utilização temporária da CoronaVac e da Covishield por entender que os benefícios conhecidos e potenciais dos imunizantes superam os riscos.

"O nosso país atualmente responde por 10% do total das mortes observadas no mundo. Até o momento, não contamos com alternativa terapêutica, aprovada e disponível para prevenir ou tratar a doença causada pelo novo coronavírus", destacou.

Sobre a CoronaVac, especificamente, a diretora condicionou o uso emergencial da vacina à assinatura e à publicação no Diário Oficial da União de um termo de compromisso a ser firmado entre a Anvisa e o Butantan por conta da falta de dados conclusivos sobre a imunogenicidade (a capacidade que uma vacina tem de estimular o sistema imunológico a produzir anticorpos) do imunizante — esses resultados terão de ser apresentados até 28 de fevereiro. Entretanto, mesmo sem cumprir essa formalidade, o governo de São Paulo começou a aplicar a CoronaVac ontem, imunizando 112 profissionais de saúde.

Prevenção
Apesar da aprovação das vacinas, os diretores da Anvisa ressaltaram que as medidas de prevenção ao novo coronavírus não podem ser relaxadas. "Esse é um passo importante, mas ainda muito inicial para um amplo programa de vacinação. Até que a vacina chegue à casa das famílias brasileiras, é importante que continuemos a promover o distanciamento social, o uso de máscaras, o hábito simples de lavar as mãos e o uso do álcool em gel, medidas ao nosso alcance que podem salvar vidas", declarou Alex Machado Campos.

Diretor-presidente da agência, Antonio Barra Torres reforçou o alerta e lembrou que o novo coronavírus é "um inimigo invisível agressivo e insidioso" que trouxe "desamparo, tristeza, desolação". "Hábitos culturais de um povo por natureza alegre e acolhedor, foram contidos, mutilados e indefinidamente proscritos. Vidas interrompidas, futuros ceifados, promessas perdidas. Que este modesto júbilo, quase calado por tanto pesar e sofrimento, não seja um motivo de relaxamento para as medidas de proteção, individual e coletivas ora em curso. A ameaça ainda está à porta, o lobo ainda ronda o nosso quintal. Nessa contenda, as máscaras são elmos, o álcool gel e a higiene das mãos são luvas e o distanciamento social é a forma de ainda mais nos unirmos, rumo à vitória que virá", discursou.

Além disso, ele pediu que os brasileiros acreditem na decisão que foi tomada pela Anvisa. "Essas vacinas estão certificadas. Foram analisadas por nós brasileiros em um tempo, o menor e o melhor, estabelecido por nossos especialistas."

Sputnik V
Nos últimos dias, a Anvisa recebeu o pedido para uso emergencial de uma terceira vacina contra a covid-19, a Sputnik V. No entanto, a autarquia alegou que a União Química Farmacêutica Nacional, responsável pelo imunizante no Brasil, não atendeu os critérios mínimos exigidos pela agência e devolveu o pedido. Por nota, o laboratório informou que os dados serão fornecidos em breve.

"A Anvisa solicitou informações adicionais, que serão fornecidas em breve. Este procedimento é padrão das agências reguladoras e não significa que o registro foi negado. Nossos serviços oficiais de comunicação estão trabalhando arduamente, para que haja total transparência com os brasileiros sobre o andamento dos fatos, que julgamos ser de máxima importância e urgência para todos."