Valor econômico, v. 21, n. 5185, 09/02/2021. Política, p. A12

 

Maia estuda trabalhar por fusão partidária

Raphael Di Cunto

Marcelo Ribeiro

09/02/2021

 

 

Ideia cogitada por deputado é atuar para unir Cidadania, PV e Rede para enfrentar Bolsonaro

Com a saída do DEM anunciada, mas ainda sem um destino certo, o ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM-RJ) afirmou a aliados que uma das opções na mesa é trabalhar pela fusão de partidos para criar uma estrutura forte para enfrentar o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na eleição de 2022, já que sua antiga legenda estaria mais alinhada a endossar o governo.

A união poderia envolver Cidadania, PV e Rede, partidos que já chegaram a conversar no passado sobre essa possibilidade, que até agora não avançou. Outros partidos como o PSL e o Solidariedade também poderiam entrar na composição, não necessariamente se fundindo às três siglas. O apresentador Luciano Huck é um potencial nome para se candidatar pelo bloco.

O presidente do Cidadania, Roberto Freire, afirmou ao Valor que a possibilidade de fusão está na mesa, mas que não é a prioridade para a campanha. “Se for por estrutura, então vai para PT, PSDB. Por favor. Essa campanha de 2022 precisa pensar o Brasil do futuro e isso não pode ser com velhas estruturas, inclusive partidárias”, disse. “Pode ter fusões e tudo isso, ninguém vai deixar de fazer, mas o importante é a sociedade. É ter projeto que o país se encante”, emendou.

Freire disse que conversou com Maia após a eleição da Câmara, em que o sucessor escolhido por ele saiu derrotado para o candidato do Palácio, Arthur Lira (PP-AL), e que deixou as portas abertas para filiação. “Convidei ele implicitamente, quando disse que estávamos abertos e dispostos a conversar a qualquer hora. Estou aguardando o tempo dele”, comentou

No PV, as conversas de fusão estão em modo lento, mas há defensores de uma união com o Cidadania, como o ex-candidato à Presidência Eduardo Jorge. A cúpula do partido tem buscado construir uma candidatura forte para ter votos suficientes e não ser afetada pela cláusula de desempenho em 2022, que deixará a sigla sem acesso ao fundo partidário e tempo de propaganda na TV caso não ultrapassada.

No Rede Sustentabilidade, a proposta de fusão é descartada pelo porta-voz do partido, Pedro Ivo, que disse que isso foi tratado ano passado e rejeitado, mas ganhou um importante aliado: o senador Randolfe Rodrigues (AP), antes contrário, agora disse ao Valor ter se tornado “um entusiasta” dessa eventual fusão de com o PV e com o Cidadania.

Ivo disse que o Rede elegerá sua nova direção partidária em 21 de março e que esse grupo organizará o processo eleitoral de 2022 e que está em avaliação a possibilidade de candidatura própria ou de alianças, mas sem fusão. “Quando essa discussão foi feita, ano passado, a Marina Silva [ex-presidenciável e principal figura pública da legenda] foi a primeira a se colocar contra. Ela nunca defendeu”, disse.

Maia tem conversado ao longo dos últimos meses com Huck e com o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), como possíveis nomes de centro-direita para disputar com Bolsonaro. O tucano fui um dos principais apoiadores da candidatura de Baleia Rossi (MDB-SP) para presidente da Câmara e o convidou Maia para se filiar ao PSDB após a briga com o DEM.

Nas conversas que manteve com aliados após a eleição, Maia se manteve em cima do muro sobre qual das duas candidaturas encampará, mas defendeu que os dois não tem chance de vitória ao mesmo tempo e que o Cidadania - provável destino de Huck após o racha no DEM - precisa fortalecer sua estrutura para dar suporte a uma campanha presidencial competitiva.

A aliança com os partidos do Centrão, se durar até 2022, dará a Bolsonaro uma estrutura partidária forte, com farto número de prefeitos e governadores, tempo de propaganda na TV e dinheiro dos fundos públicos para campanha. Isso tudo se somaria à exposição natural do cargo e a rede de militantes nas redes sociais que já o elegeram em 2018.

O PSL está dividido entre os bolsonaristas, que devem deixar o partido, e um grupo pequeno de parlamentares que é contra o apoio ao governo. O ex-presidente da Câmara se aproximou da cúpula do partido, que tem o maior tempo de propaganda da TV e fundo partidário da eleição, e já foi convidado a se filiar. Ele marcou conversa com a sigla para esta semana para discutir os cenários e têm argumentado que o PSL precisa adotar uma postura mais clara, sem ficar dividido entre o governismo e a independência, para ter força em 2022.

A fusão de partidos criaria um fato positivo a favor de uma candidatura alternativa e permitiria atrair mais quadros, na avaliação de Maia. Ele espera que aliados como o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (DEM), o acompanhem nesse projeto, mas apenas num segundo momento, para não parecer uma posição de confronto contra o governo federal.