Correio braziliense, n. 21055, 16/01/2021. Política, p. 3

 

Procurador defende punição por mortes

Renato Souza 

16/01/2021

 

 

O procurador Igor Spindola, que está à frente das ações do Ministério Público Federal (MPF) no combate à pandemia no Amazonas, afirmou que serão investigadas as mortes provocadas pela falta de oxigênio nos hospitais de Manaus. A suspeita é de improbidade administrativa.

A capital amazonense enfrenta uma grave crise devido à disparada de internações por causa da covid-19, ao mesmo tempo em que a quantidade de oxigênio enviado ao estado não foi reforçada. "Foram registradas mortes, e eu informei isso para outros colegas. É preciso ter uma investigação de improbidade", destacou Spindola, ao Correio.

A empresa White Martins, fornecedora do produto, disse que o governo federal foi informado, com um mês de antecedência, do risco de ausência de oxigênio em leitos de UTI e de emergência em razão do aumento de internações. No entanto, não ocorreram ações suficientes para impedir o problema. "O terror que foi aqui, ontem (quinta-feira), não deve se repetir. As ações judiciais já deram algum efeito. A União está se movimentando, a logística, que não existia, apareceu da noite por dia, sendo que deveria ter aparecido antes", frisou. "Mas, o leite derramado, a gente só consegue compensar punindo mesmo. Nesse caso, precisa de uma investigação e, daí, demora um pouco mais."

De acordo com o procurador, a situação ainda é grave, com falta de oxigênio em diversos locais. A expectativa é de que a situação seja contornada com a chegada de suprimentos transportados de outros estados pela Força Aérea Brasileira (FAB). "O Hospital Universitário é federal, da universidade federal, onde as residências médicas acontecem. Eles deram um jeito de suprir o oxigênio até o dia de hoje (ontem), com a indústria local. Mas, eles precisam receber o carregamento da White Martins, e nós vamos acompanhar", ressaltou.

Asfixia
Spindola afirmou que, no auge da escassez, faltou oxigênio em 200 leitos de UTI. A situação mais grave foi registrada no Hospital Universitário, onde, segundo ele, seis pacientes morreram asfixiados ao mesmo tempo. "A nossa preocupação, no momento, é buscar oxigênio. A morte de pacientes de toda uma ala ocorreu no Hospital Universitário. Até ontem à noite (quinta), foi confirmado o óbito de seis pacientes dessa ala. Mas, no meio do dia e até o final do dia, é possível que tenham ocorrido outras", disse. "Eu ainda não consegui falar com o doutor Júlio (Júlio Mário de Melo e Lima), responsável pela unidade de saúde, pois ele estava transtornado, porque ainda falta oxigênio, e a vida dos pacientes está em risco." Conforme Spindola, depois de serem apresentadas ações na Justiça contra a omissão do Estado, o governo federal começou a se movimentar para amenizar a situação.

Em nota, o Hospital Universitário Getúlio Vargas informou que, "durante o período em que a unidade ficou sem oxigênio, na manhã de quinta-feira, quatro pacientes vieram a óbito, sendo três do Centro de Terapia Intensiva (CTI) e um da enfermaria". Ainda de acordo com a unidade, "o CTI, por exemplo, contava com 29 pacientes na manhã de quinta".

A White Martins informou que identificou a disponibilidade de oxigênio da Venezuela e que começou a cuidar da logística para o transporte. "Ontem (quinta), surgiu essa opção de chegada de oxigênio da Venezuela, pois é o único local possível de chegar, por terra, a Manaus. Isso foi anunciado como uma medida do Estado da Venezuela, mas, na verdade, foi uma ação da própria empresa. Ontem, falaram que o oxigênio saiu de lá, mas isso leva dois dias. Não sabemos a quantidade que vai chegar, mas vai chegar", emendou Spindola.