Correio braziliense, n. 21055, 16/01/2021. Política, p. 2

 

OMS: "É muito fácil colocar a culpa no vírus"

Bruna Lima 

Maria Eduarda Cardim 

Sarah Teófilo 

16/01/2021

 

 

O diretor-executivo do Programa de Emergências de Saúde da Organização Mundial da Saúde (OMS), Michael Ryan, afirmou, ontem, que não se pode creditar à nova variante do coronavírus a tragédia que está acontecendo em Manaus. A capital do Amazonas sofre com um colapso no sistema de saúde, com relatos de pacientes morrendo por falta de oxigênio nas unidades hospitalares.

"A redução do distanciamento social, a fadiga, a exaustão de ter de lidar com essas medidas estão levando a isso. E nós estamos entrando em ondas que, como pode ser visto no caso de Manaus, o sistema de saúde já havia sido enfraquecido", frisou. "E, assim, é mais difícil sofrer um segundo e um terceiro socos. A situação é difícil e, nesse caso, não é uma nova variante levando a esse (aumento) de transmissão. Novas variantes podem ter um impacto, mas é muito fácil só colocar a culpa na variante e dizer que foi o vírus que fez isso."

O diretor completou: "Infelizmente, é também o que nós não fizemos que ocasionou isso. Nós temos de aceitar, como indivíduos, comunidades, governos, a nossa parcela de responsabilidade com esse vírus saindo do controle, ao mesmo tempo em que reconhecemos que as variantes do vírus tornam isso mais difícil".

O Ministério da Saúde confirmou, ontem, que foi notificado na quarta-feira, pelo governo do Amazonas, sobre uma reinfecção de covid-19 pela nova cepa variante de coronavírus identificada no estado (leia mais na página 4). O aumento de casos da doença, no estado do Amazonas, tem sido relacionado a esta nova cepa.

Em entrevista coletiva, a diretora-geral assistente para Acesso a Medicamentos, Vacinas e Produtos Farmacêuticos da OMS, Mariângela Simão, também comentou a situação do estado, dizendo que o caso deve servir de alerta para outros países. "Você tem o ressurgimento, mas, ao mesmo tempo, tem um enorme colapso da estrutura do sistema de saúde. E nós estamos vendo isso, também, em países desenvolvidos", destacou.

Mariângela Simão frisou que Manaus tinha estrutura instalada para a situação de emergência vivida no primeiro semestre do ano passado. "E, por causa do nosso falso senso de segurança, isso foi deixado. Então, é um alerta importante para outros países. Não deixe que o falso senso de segurança abaixe a sua guarda", pregou. "Se você tiver construído uma estrutura com UTIs, oxigênios, se você fez isso, não feche, porque não acabou. Precisamos aprender com o que está acontecendo em Manaus. Nós podemos prevenir outros danos se pegarmos essa mensagem e passarmos adiante. Não deixe a guarda abaixar, não acabou ainda", repetiu.