Correio braziliense, n. 21051, 12/01/2021. Política, p. 4

 

Mourão critica ataques de Maia

Ingrid Soares 

12/01/2021

 

 

O vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) afirmou que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) está extrapolando nas críticas ao governo. O general caracterizou como uma "briga de rua" as rusgas trocadas entre o comandante da Casa e o presidente Jair Bolsonaro.

"Eu tenho apreço pelo deputado Rodrigo Maia, pela trajetória política dele, mas, nitidamente, ele está perdendo a mão. Parece que esse final de período dele aí, de cinco anos como presidente da Câmara, está mexendo com a cabeça dele, em consequência das declarações que são totalmente fora de propósito, que não contribuem e não constroem nada em termos de política no nosso país. É pura e simplesmente uma briga de rua", afirmou Mourão, em entrevista à Rádio Gaúcha.

O pano de fundo, justificou Mourão, é a briga pelo comando da Câmara. Maia quer emplacar Baleia Rossi (MDB-SP) como sucessor, enquanto o Planalto apoia Arthur Lira (PP-AL). "Julgo que é essa questão da disputa da Presidência da Câmara, onde ele tem um candidato e o nosso governo tem outro candidato, e uma derrota do grupo do deputado de Rodrigo Maia o deixaria numa posição desvantajosa", frisou. "Acho que isso leva a que ele tenha algumas atitudes que, na minha visão, não são as mais corretas nem as mais elegantes", observou.

No sábado, Maia atacou o presidente. "Bolsonaro é covarde", escreveu, em rede social, ao compartilhar uma notícia segundo a qual o chefe do Executivo teria culpado o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, pelo atraso da vacinação no Brasil. Horas depois, em nova publicação, o presidente da Câmara postou: "Bolsonaro: 200 mil vidas perdidas até agora. Você tem culpa".

Também na sexta-feira, Maia e Bolsonaro protagonizaram um embate em torno da disputa na Câmara. O chefe do Executivo disparou contra o deputado por causa da aliança com o PT em prol de Baleia Rossi e disse que as duas partes são "muito parecidas". Em resposta, o presidente da Câmara disse "não se surpreender" com as críticas do presidente. "Só compreendem o nosso gesto aqueles que defendem a democracia antes de tudo", rebateu.

Eleições
Para as eleições presidenciais de 2022, Mourão disse não enxergar, no atual cenário político, um nome capaz de enfrentar Bolsonaro. "Hoje, não tem liderança consistente de oposição ao presidente Bolsonaro. O pessoal vai ter de remar um pouquinho mais para poder aglutinar apoios e, a partir daí, apresentar uma liderança viável para o restante da população", declarou.

A respeito de uma eventual frente ampla de partidos para lançar candidato único, o vice-presidente afirmou que considera "difícil", "porque os interesses são muito fragmentados aqui no Brasil". A exemplo de Bolsonaro, o general defendeu o voto impresso. "Isso acabaria com toda e qualquer dúvida. Tem gente que pega, diz que digitou, mas não saiu o que digitou. A partir do momento que você digitar e sair o comprovante em quem você votou, acho que acaba essa discussão. Eu sou a favor do voto impresso."

O vice-presidente retomou o trabalho, ontem, no Planalto, após se recuperar da covid-19. Ele defendeu a vacinação contra a doença. "Eu acho que a vacina é para o país todo. Não é uma questão individual. O indivíduo aqui está subordinado ao coletivo, neste caso", afirmou. O general ressaltou que pretende tomar a vacina na vez dele, sem furar a fila. "Eu sou do grupo dois, de acordo com o planejamento (do plano de vacinação). Tomo antes, se for uma questão propagandística", disse.

As declarações de Mourão vão na contramão do que defende Bolsonaro. O presidente já afirmou que não vai se imunizar e tem frisado que a vacinação não será obrigatória.