Correio braziliense, n. 21048, 09/01/2021. Economia, p. 6

 

Produção em 2020 foi a menor em 16 anos

Vera Batista 

09/01/2021

 

 

A pandemia e o distanciamento social tiveram forte impacto no setor automotivo. A produção de veículos no país ficou em 2,014 milhões de unidades, no ano passado, com uma queda de 31,6%, em relação aos 2,944 milhões registrados de janeiro a dezembro de 2019. Isso é o que mostra o balanço apresentado, ontem, pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). A quantidade de unidades exportadas também caiu significativamente (-24,3%), de 428.208 para 324.330, no ano passado, da mesma forma que o número de licenciamentos, que teve retração de 26,2% –– de 2,787 milhões para 2.058 milhões, em 2020.

O presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes, destacou que dezembro foi o melhor mês no ano (243.967 unidades), com média diária de 11,6 mil unidades. A produção chegou a 209.296 unidades, o que, segundo a associação, foi uma boa surpresa, apesar dos desafios logísticos, limitações de insumos e dos protocolos sanitários. "A indústria fez um grande esforço para atender a demanda, trabalhando aos finais de semana e suspendendo parte das férias coletivas, mas entra em 2021 com os estoques mais baixos de sua história, suficientes apenas para 12 dias de vendas", disse Moraes.

"No ranking mundial, a previsão é de que fecharemos o ano em 9º lugar na produção de veículos, e em 6º lugar no número de licenciamentos", afirmou. Independentemente da pandemia, na análise do presidente da Anfavea, os entraves para que o setor apresente melhores resultados ainda são o elevado custo de produção no Brasil e a baixa competitividade. "O país poderia gerar mais empregos e mais negócios", afirmou.

Perspectivas
Para 2021, a Anfavea ainda detecta "uma neblina" de incertezas sobre o andamento das reformas estruturais (administrativa e tributária), o fim do auxílio emergencial e de qual será o substituto que se adeque ao ajuste fiscal, além de expectativas sobre como o governo vai lidar com o teto dos gastos. A previsão da entidade é de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, soma das riquezas do país) de 3,5%, no ano. O câmbio pode apresentar certa instabilidade, mas deve encerrar 2021 em R$ 5, o que indica que haverá crédito suficiente para atender o crescimento do mercado, sinalizou o presidente da Anfavea.

"Não podemos esquecer que ainda estamos em uma pandemia", ressalvou Moraes, acrescentando que essa "neblina" ficou ainda mais densa no último dia de 2020 com o decreto, do governo de São Paulo, que elevou o Imposto sobre Circulação de Mercadorias (ICMS) para vários setores. "Fomos surpreendidos. Esse não é o momento de aumento de impostos", criticou.