O globo, n. 31930, 07/01/2021. País, p. 5

 

No Senado, MDB tenta evitar apoio do planalto ao rival

Julia Lindner

07/01/2021

 

 

Maior bancada da Câmara ainda não tem candidato definido e ameaça retaliar eventual adesão do governo a Pacheco

Surpreso com as movimentações de Rodrigo Pacheco (DEM-MG) em sua candidatura à presidência do Senado nesta semana, o MDB prepara uma ofensiva para tentar evitar possível interferência do Palácio do Planalto na disputa, como acontece na Câmara.

Os governantes no Senado, Fernando Bezerra (MDB-PE), e no Congresso, Eduardo Gomes (MDBTO), ficaram com a tarefa de enviar ao Executivo a mensagem de que um desacordo com a lenda, a maior bancada da Câmara com 13 senadores, podem prejudicar a articulação política nos últimos dois anos de gestão de Jair Bolsonaro e até contribuir para a abertura de Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI) - que dependem de pelo menos 27 assinaturas.

Senadores do partido também lembram que está pendente o julgamento de um processo de cassação do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente. A representação está no Conselho de Ética da Câmara desde fevereiro do ano passado.

A insatisfação do MDB com a candidatura de Pacheco se intensificou depois que o DEM conquistou o apoio do PSD, segunda maior bancada da Câmara com 11 membros. A costura foi feita pelo atual presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), que acenou com postagens e é citado para se tornar ministro do Bolsonaro. Para os emedebistas, embora o Planalto diga que permanecerá neutro, Alcolumbre explora o capital político do governo nas negociações e não foi negado pelo executivo.

SEM UNIDADE

Em resposta ao MDB, os membros do DEM argumentam que os emedebistas devem primeiro resolver questões internas, como o nome de seu candidato. Enquanto Pacheco já colhe declarações de apoio do PSD e do Pros, que tem três senadores, os emedebistas só devem definir quem representará a lenda na disputa na próxima semana.

A decisão foi antecipada após a intensificação dos movimentos de DEM. Normalmente, os emedebistas esperam para fazer o anúncio perto do processo, que ocorre no início de fevereiro.

O líder do MDB no Senado, Eduardo Braga (MDBAM), um dos pré-candidatos da sigla, reclama do posicionamento do álcool na disputa. Na visão do emedebista, houve um acordo entre eles que foi rompido depois que o Supremo Tribunal Federal (STF) barrou a possibilidade de reeleição na Câmara.

- O MDB não só ajudou, mas deu o tom da gestão de David, o tom do equilíbrio e da moderação, enquanto o "Senado muda" queria o rompimento (...) Nós, do MDB, dizíamos "ok" pela possibilidade de re -eleição, desde que seja a única reeleição e através da PEC (proposta de emenda à Constituição), e ele (álcool) preferiu protocolar a PEC. Só houve o compromisso de que em não funcionar (a reeleição), ele começaria a construir uma solução com o MDB, o que não ocorreu - disse Braga.

Ao GLOBO, Alcolumbre disse que pretende manter o diálogo com todas as siglas e que o MDB tem tanta legitimidade quanto o DEM para lançar sua própria candidatura:

- Eu falo com todas as partes. O MDB é um dos maiores partidos do Brasil, reconheço a importância do MDB na condução desses dois anos no Senado. Reconheço que o próprio MDB também tem legitimidade para se candidatar, como todos os partidos. O que procuramos fazer é conversar. Posso propor uma candidatura, não posso propor dois, três ou quatro.

Disse também que Pacheco não é candidato do governo e negou que tenha conquistado apoio de outras legendas para o correligionário:

- A candidatura do Rodrigo é pelos democratas e apoiada pelo presidente (Senado) como eleitor até 31 de janeiro. Sou eleitor. Recebo apoio do meu partido.

_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Se­na­dor do DEM ga­nha pon­to no PT

07/01/2021

 

 

> Depois de decidir na Câmara na última segunda-feira, o PT adiou reunião que teria ontem sobre que rumo seguir na disputa pelo comando do Senado.

> Os petitistas já se reuniram com o senador Rodrigo Pacheco (Dem-MG) na semana passada e saíram com uma boa impressão do candidato do atual presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEMAP), segundo o colunista Lauro Jardim.

> Pacheco conquistou um ponto junto aos petitistas ao conseguir o apoio do PSD anteontem. Se o partido decidiu lançar o senador Otto Alencar (PSD-BA), por exemplo, o PT cogitou apoiá-lo nas relações que mantém com ele na Bahia. À medida que A Lenda de Gilberto Kassab se junta a Pacheco, o apoio do PT se aproxima.

> Para acertar o martelo, os petitistas tentam mapear os rumos do MDB e as chances de vitória de um eventual candidato da sigla, que ainda não decidiu se vai lançar um nome ou não.

> À espera, o PT liderado por Rogério Carvalho (SE), marcou nova reunião para a próxima segunda-feira.

> Na Câmara, em votação apertada, os petitistas decidiram, por 27 a 23, apoiar a candidatura da deputada Baleia Rossi (MDB-SP) à presidência da Câmara. Ele é apoiado pelo atual presidente da casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

> Inicialmente o partido resistiu a apoiar Rossi porque ele havia votado a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff.