O globo, n. 31931, 08/01/2021. País, p. 6

 

Os estrategistas por trás da campanha na câmara

Natália Portinari

08/01/2021

 

 

Marqueteiro Chico Mendez produziu vídeo para Rossi, que tenta engajar a sociedade civil no discurso 'de fora para dentro' da Casa. Orientada pelo consultor Mário Rosa, Lira aposta em conversas individuais com deputados para obter votos
Assessoradas por estrategistas, as campanhas de Baleia Rossi (MDB-SP) e Arthur Lira (PP-AL) à presidência da Câmara dos Deputados adotam diferentes táticas de comunicação para conseguir o voto dos parlamentares. Baleia aposta em campanha digital, criticando o governo Jair Bolsonaro, enquanto Lira investe em estratégia mais "analógica".

Em evento na última quarta-feira, Baleia lançou a candidatura apoiada por 11 partidos de centro-direita e esquerda. Ele defendeu a "vacina para todos e de graça", dizendo que o Congresso deve agir para garanti-la. A ideia é se opor à política do Bolsonaro, com bandeiras como a defesa da democracia e dos direitos das minorias.

Antes de seu discurso, foi exibido um vídeo produzido por Chico Mendez, marqueteiro que atuou em 2018 na campanha de Henrique Meirelles (MDB) à presidência da República. Mendez ficou conhecido por seu trabalho de sucesso na eleição do PT Fernando Pimentel ao Governo de Minas Gerais em 2014.

A identidade visual da campanha da baleia possui uma imagem que representa os assentos da câmera com as cores azul, vermelho e amarelo, ou seja, direita, esquerda e centro. Havia até um slogan exposto nos cartazes: "Câmara livre, democracia viva". A aposta é engajar a sociedade civil.

"COMO ESCOLHA DO PAPA"

Arthur Lira, por outro lado, conta com a assessoria do consultor político Mário Rosa. Ele disse ao GLOBO que não é pago pelo PP e está apenas dando conselhos para a amizade que tem com o senador Ciro Nogueira (PI), presidente do partido. Trabalhou com o ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira e com os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Lula.

Para Rosa, a eleição para a presidência da Câmara é "como a escolha do Papa" - é decidida de forma secreta, por um grupo de pessoas que já se conhecem e pouco influenciadas pela opinião pública. A estratégia é ganhar o voto dos deputados com viagens e conversas individuais, sem apelar à pressão popular.

—Eles (Baleia e Rodrigo Maia) têm que decidir se querem o Oscar de melhor campanha ou ganhar a eleição para prefeito —ironicamente. - Tem uma campanha aparentemente muito ligada à voz das ruas e outra, ligada aos deputados.

O slogan da campanha da Lira já traduz esta abordagem: "para que toda a Câmara tenha voz". A ideia é não entrar em debates nacionais e também fugir do confronto com Rodrigo Maia (DEM-RJ), atual presidente e principal aliado de Baleia Rossi.

Em suas postagens em redes sociais e conversas com deputados, Lira também vem tentando desconstruir a imagem de que a baleia é uma candidata independente do governo. Ele lembra que o MDB hoje tem a liderança do governo no Congresso e no Senado e que Baleia está alinhada com o Executivo nas votações.

Os aliados das baleias, por outro lado, afirmam que a câmara se tornará uma "atração" do Palácio do Planalto sob a gestão de Lira. Eles argumentam que o deputado do PP vai usar a Câmara como instrumento de "leva lá, dá aqui" para negociar posições e emendas parlamentares ao orçamento. Nas últimas semanas, a Secretaria de Governo, responsável pela articulação política, ofereceu cargos em troca de apoio à Lira.

Em reunião na última quarta-feira na residência oficial da Maia, os dirigentes decidiram que o melhor discurso para ganhar votos é argumentar que se Baleia for eleito, o Bolsonaro deve falar com todos os dirigentes. Já se Lira sair vitoriosa, o contato será centralizado, dizem.

Eles também querem convencer os deputados de que a baleia não vai atrapalhar as negociações de postagens e emendas.

CAMPANHA DIFERENTE

A pandemia mudou a rotina das campanhas. Em anos anteriores, era comum distribuir cartilhas pelos corredores da Câmara, espalhar totens reproduzindo a imagem dos candidatos e realizar reuniões presenciais para definir endossos. Agora, Baleia e Lira devem intensificar a agenda de viagens aos estados para compensar a ausência dessas reuniões em Brasília.

Baleia reúne partidos com visões políticas opostas, unidos por uma Agenda de independência da Câmara. Tem o PT, com 52 parlamentares, e o PSL, com 53. Partidos de centro e esquerda completam a lista: MDB, PSDB, DEM, PSB, PDT, PCdoB, cidadania, PV e rede. Existem 11 legendas com 278 membros.

O bloco de Arthur Lira, por outro lado, tem 195 parlamentares mais alinhados ao governo. As maiores bancadas são as do PL, com 43 deputados, e do PP, com 40. Também fazem parte do grupo Republicanos, Solidários, Prós, PSC, Avante e Patriota.