O globo, n. 31929, 06/01/2021. Sociedade, p. 7

 

Redução do isolamento social leva a nova onda de Covid-19 em Manaus

Leandro Prazeres

06/01/2021

 

 

Número de internações já é maior do que no auge da doença no ano passado, e 91% dos leitos de UTI estão ocupados
Um dos estados mais castigados em 2020, o Amazonas sofre com a segunda onda da pandemia, que tem recorde de internações e alta nas mortes. Autoridades culpam o relaxamento das medidas de isolamento social. A previsão é que um novo pico da doença ocorra na semana que vem, devido às aglomerações registradas nas festas de fim de ano.

Em Manaus (AM), autoridades municipais e estaduais atribuem o aumento no número de casos e internações causadas pela Covid-19 ao relaxamento das medidas de isolamento social. Epicentro da pandemia no Brasil, a cidade vive agora sua segunda onda. A taxa de ocupação dos leitos de UTI para Covid-19 no Amazonas está em 91%, e o número de internações causadas pela doença já é maior do que no pico registrado no primeiro semestre de 2020.

Em meio à crise, o governo do estado suspendeu cirurgias eletivas e deverá receber uma nova leva de respiradores do Ministério da Saúde nos próximos dias. A estimativa é que o estado tenha um novo pico da doença até o fim da primeira quinzena de janeiro.

O Amazonas foi um dos estados mais afetados pela Covid-19 no ano passado. Em abril, o então secretário de Saúde do estado, Rodrigo Tobias, disse que o sistema estava à beira do colapso. Após uma breve redução no número de casos e óbitos, os índices voltaram a subir nas últimas semanas.

De acordo com o Ministério da Saúde, o Amazonas já registrou 204,9 mil casos de Covid-19 e 5.414 mortes. A taxa de incidência da doença no estado é de 4.943 casos por grupo de 100 mil habitantes, superior à média nacional, que é de 3.716/100 mil habitantes.

Segundo o boletim epidemiológico divulgado pela Fundação de Vigilância em Saúde (FVS) do Amazonas, o número de internações causadas pela doença chegou a 183 anteontem, o maior número registrado desde o início da epidemia. Desse total, 177 (96%) são em Manaus.

A secretária de Saúde de Manaus, Shadia Fraxe, atribui esse número ao relaxamento da população e às autorizações que afrouxaram as medidas de isolamento social.

—A gente está, sim, vivendo uma segunda onda da doença. Infelizmente, o relaxamento das medidas de biossegurança, o processo eleitoral e as festas de fim de ano criaram esse cenário — afirmou a secretária.

O secretário estadual de Saúde do Amazonas, Marcellus Campêlo, faz diagnóstico similar. Segundo ele, o estado está "colhendo os frutos" das aglomerações anteriores ao período natalino.

— Houve um relaxamento da população, apesar de toda a nossa propaganda para que isso não acontecesse. Vimos aglomerações em bares, praias e balneários. Depois, tivemos as convenções partidárias, o primeiro turno, muita aglomeração. E, logo em seguida, tivemos o período natalino. Estamos colhendo os frutos disso. E ainda vamos colher os frutos da aglomeração de Natal — afirmou o secretário.

Ainda de acordo com o secretário, a estimativa da equipe técnica do governo é que o sistema de saúde continue sob pressão nos próximos dias e que o pico de internações causado pelas aglomerações do final do ano ocorra entre os dias 13 e 15 deste mês.

Em meio a esse cenário, o prefeito de Manaus, David Almeida (Avante), anunciou em entrevista à CNN que determinou a abertura de seis mil covas em cemitérios da cidade em caráter emergencial. Além disso, o Ministério da Saúde confirmou o envio de 78 respiradores para equipar leitos de UTIs que deverão ser abertos nos próximos dias.