O globo, n. 31929, 06/01/2021. País, p. 5

 

Eleição da Câmara divide até casal na bancada do PSOL

Maurício Ferro

06/01/2021

 

 

Partido ainda não se decidiu. Glauber Braga defende candidatura de esquerda, e Sâmia Bomfim quer adesão a Baleia Rossi

 Enquanto o restante da oposição declarou apoio a Baleia Rossi (MDB-SP) na disputa pela presidência da Câmara, o PSOL vive uma divisão interna que coloca em lados opostos até um casal de deputados. Glauber Braga (RJ) defende apoio a uma candidatura de esquerda, enquanto Sâmia Bomfim (SP), líder da bancada, prefere aderir já a Baleia Rossi. Na semana passada, os dois anunciaram que estão esperando um filho.

O partido tem dez deputados federais. Quatro deles, ouvidos pelo GLOBO, defendem aderir à candidatura do MDB para impor uma derrota ao nome apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro. Enquanto Glauber Braga prega o lançamento de um nome de esquerda fora da polarização Arthur Lira x Baleia Rossi, dois parlamentares preferem aguardar a reunião da bancada e outros três não responderam.

Sâmia Bomfim defende o apoio a Rossi para evitar o risco de Lira, que tem o apoio de Bolsonaro, vencer a eleição sem que haja um segundo turno. Na visão dela, Baleia “não é o ideal, mas é o possível”.

—Acho que é ruim o PSOL não ser identificado pela sociedade como o partido que atuou diretamente para a derrota do Lira. E pode ser que esse cenário se expresse já no primeiro turno. Não quero correr esse risco, portanto eu defendo internamente apoio ao Baleia, claro, para ser oposição já no dia seguinte. Sabendo dos limites todos, das diferenças, mas seria um movimento tático de evitar a vitória do Lira —avaliou a deputada.

Além disso, ela argumenta que uma adesão imediata ao bloco possibilita maior comprometimento com pautas de interesse da sigla, além de haver tempo para explicar a decisão para as bases do partido.

—Seria um voto tático para dar menos força para o Bolsonaro, e não mais força para a situação caótica sanitária e social que o Brasil se encontra. Mas, também pensando no que pode ser 2022, acho queo PSOL tem que sera linha de frente na derrota do bolsonarista. Portanto, acho que é possível explicar isso para a nossa base, para o nosso eleitorado, e seria o melhor para o PSOL neste momento —declarou.

Glauber Braga concorda que o objetivo é derrotar Lira, mas defende a necessidade de uma candidatura de esquerda para deixar “claras” as pautas do campo político para a sociedade. Para Braga, o apoio a Baleia Rossi só poderia ocorrer em um segundo turno dele contra o candidato apoiado por Bolsonaro.

—(A candidatura da esquerda) teria o compromisso de mais falar para fora do Parlamento, acumular força social, do que se preocupar exclusivamente com a vitória eleitoral para a presidência da Câmara, já que é uma eleição de dois turnos. Numa eleição de dois turnos você defende seu programa no primeiro e, depois, reduz danos no segundo. Essa é a minha avaliação, que tem diferenças na bancada. Por isso, a bancada e o partido vão sentar para poder tomar uma decisão —disse o deputado fluminense.

—O Lira não vamos apoiar de jeito nenhum. O PSOL não vai dar nenhum voto para a candidatura de Arthur Lira e para o governo de Jair Bolsonaro.

No caso de uma candidatura de esquerda ser a opção do partido, a preferência seria pelo lançamento de uma mulher. Luiza Erundina (PSOL-SP) e Benedita da Silva (PT-RJ) são citadas como alternativa.

Os deputados da legenda garantem que pretendem seguir unidos após a reunião que debaterá o tema, que deve acontecer nos próximos dias. Além da líder, os deputados Marcelo Freixo (RJ), Fernanda Melchionna (RS) e David Miranda (RJ) são os que defendem uma composição com o partido integrando desde já o bloco liderado por Baleia Rossi.

Apesar de a bancada ser pequena, uma adesão do grupo pode garantir que o bloco de Baleia Rossi fique com as três principais cadeiras na Mesa Diretora depois da presidência. O apoio atual, de 11 partidos, já garante as duas primeiras posições da Mesa.