O globo, n. 31926, 03/01/2021. Sociedade, p. 10

 

Mortes por Covid-19 crescem 64% em dezembro

Bruno Alfano

03/01/2021

 

 

Aumento no Brasil é em relação a novembro. Desde julho, pais registrava quedas no número mensal de óbitos; foram 21.811 vidas perdidas e 1.339.503 infectados no último mês de 2020, recorde de casos desde o inicio da pandemia

 As mortes por Covid-19 no Brasil aumentaram 64,45% de novembro para dezembro, mostram dados apurados pelo consórcio de veículos de imprensa junto às secretarias de Saúde do país. Enquanto novembro teve 13.263 óbitos pela doença, em dezembro o número foi de 21.811.

Já a quantidade de casos bateu recorde em dezembro. Foram 1.339.503 pessoas infectadas, a maior marca mensal atingida desde o início da pandemia e um aumento de 67% em comparação ao mês anterior, quando houve 801.547 contaminados registrados. O consórcio de imprensa é formado por O GLOBO, Extra, G1, Folha de S.Paulo, UOL e O Estado de S. Paulo e reúne informações das secretarias estaduais de Saúde divulgadas diariamente.

A iniciativa foi criada depois do registro de inconsistências nos dados apresentados pelo Ministério da Saúde. Segundo especialistas, essa explosão de casos e mortes em dezembro é consequência de eventos que causaram aglomerações nos últimos meses. E também marca o início de um nova tendência de crescimento de infecções impulsionada por feriados antes das festas de fim de ano, afirmam os pesquisadores. De acordo coma epidemiologista EthelM aci el, professora titular da Universidade Federal do Espírito Santo, os números refletem o efeito dos feriados de 12 de outubro ,2 de novembro e os dias das eleições municipais (primeiro e segundo turno) que causaram aglomerações em diversas cidades do país.

Na avaliação dela, os próprios políticos não deram bons exemplos para evitar espaços com muitas pessoas e, consequentemente, a transmissão do coronavírus.

— As eleições tiveram influência. Infelizmente, o que nós vimos foram políticos e pessoas se aglomerando — avaliou a especialista ao G1. A epidemiologista afirma ainda que, com as comemorações do fim de ano, o cenário deve piorar em janeiro.

— As festas que aconteceram no fim de ano, com certeza, causarão muitos casos e mortes pois as pessoas não estão fazendo o distanciamento, elas estão se aglomerando —disse.

Nas redes sociais, circulam vários registros de festas de fim de ano com aglomerações em conhecidos destinos turísticos, como praias do Nordeste,de São Paulo e do R iode Janeiro, onde se registraram eventos lotados, sem distanciamento social adequado, nem uso de máscara —medidas que, até agora, são as únicas comprovadamente eficazes para controlar a propagação do vírus da Covid-19 antes de a vacina chegar.

‘PONTA DO ICEBERG’

O físico Domingos Alves, responsável pelo Laboratório de Inteligência em Saúde da Faculdade de Medicinada USP em Ribeirão Preto, concorda coma avaliação da epidemiologista Ethel Maciel. Ele afirma que os números de dezembro são o começo do que deve ser uma nova escalada da pandemia no país. —Aindaéa pontado iceberg. Os dados vãos e agravar em janeiro. Nós teremos uma mortalidade por Covid-19 no Brasil não vista até agora na pandemia.

O número de óbitos vai explodir — disse o pesquisador ao G1. Dezembro, mesmo antes de terminar, já era o mês com mais mortes pelado ença desdes etembro. E é a primeira vez, desde julho, que a quantidade de mortes em um mê sé maior que avista no mês anterior. Apenas três unidades da federação registraram mais mortes em novembro pela doença do que no mês seguinte (Goiás, Piauí e Maranhão). Em Mato Grosso do Sul, dezembro foi o mês com o maior número de mortes pela Covid-19 desde o início da pandemia: 560. O estado teve tendência de alta nos óbitos, segundo a média móvel diária, em todos os dias de dezembro exceto no primeiro.

No Rio, houve crescimento de 47% no número de mortes comparando os dois últimos meses do ano —de 1.990 para 2.940. O recorde do mortes foi em maio, quando 4.490 pessoas perderam avida no estado pela pandemia. Já o número de casos em dezembro foi o maior num único mês de 2020: 80.294.

Em São Paulo, foram 2.784 mortes em novembro contra 4.622 em dezembro — um crescimento de 66%. O número de infectados foi, respectivamente ,125.526 e 220.644, um salto de 75% na comparação de um mês com o outro.

MATERNIDADE NO COMBATE

O Amazonas passou de 351 mortes em novembro para 391 em dezembro, enquanto saltou de 16.517 para 22.813 casos. Em maio, quando registrou 36 mil contaminados, o estado viveu o colapso do sistema de saúde e registrou 1.599 mortes. Ontem, o número de internações em Manaus já era maior do que em maio. Por isso, o governo do estado anunciou que usará um andar do Instituto da Mulher e Maternidade Dona Lind upara atenderpa cientescom Cov id -19 na capital. A medida, no entanto, foi criticada pelo presidente do Sindicato dos Médicos do estado, Mário Viana.

— Vai ser um foco de infecções dentro da maternidade. Por maisque seis o leu mandar, será um ris copar aos profissionaise pacientes que estão na unidade —afirmou ao G1. O governo estadual alegou que serão usadas portas de entrada segregadas e equipes de profissionais distintas para proteger as grávidas dos pacientes com Covid-19.