O Estado de São Paulo, n.46363, 24/09/2020. Metrópole, p.A14

 

Vacina chinesa é segura, diz governo

Felipe Resk

24/09/2020

 

 

Doria anunciou resultados de estudo na China. Eficiência ainda será analisada

O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), anunciou ontem que estudo feito em 50 mil pessoas na China indica segurança da Coronavac, o imunizante contra a covid-19 desenvolvido em parceria pelo laboratório Sinovac com o Instituto Butantã. Segundo o governo de São Paulo, 94,7% dos voluntários não apresentaram nenhum efeito adverso, índice que se equipararia a outras vacinas já amplamente usadas no Brasil, como a da gripe.

O resultado divulgado é referente à aplicação emergencial de 67.260 doses da Coronavac em um total de 50.027 pessoas, que foi autorizada pelo governo chinês para alguns grupos, como pacientes de risco e funcionários da Sinovac. Por sua vez, o estudo clínico – que é realizado em diferentes países ainda com alta transmissão, incluindo o Brasil – está em fase 3, ainda em andamento. Só esta última pesquisa é que vai atestar ou não a eficácia da vacina.

Mesmo sem resultados clínicos conclusivos, a gestão Doria tem expectativa de conseguir iniciar a vacinação ainda na segunda quinzena de dezembro. Segundo o governo, São Paulo deve receber 60 milhões de doses até fevereiro.

De acordo com dados apresentados pela gestão, apenas 5,3% das pessoas que receberam emergencialmente a vacina na China apresentaram sintomas adversos – a maioria, no entanto, sem gravidade. Entre os efeitos colaterais, os mais comuns foram dor no local de aplicação (3,08%), fadiga (1,53%) e febre (0,21%).

Destes, só quatro voluntários teriam apresentado quadros considerados mais graves. No grupo, teriam sido relatados sete efeitos colaterais, ao todo, que incluem falta de apetite, dor de cabeça e febre acima de 38,5ºc.

"Esses resultados comprovam que a Coronavac tem excelente perfil de segurança e confirma a manifestação feita pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que a indicou como uma das oito vacinas mais promissoras do mundo", afirmou Doria. "A vacina da gripe, por exemplo, apresenta efeitos adversos pouco nocivos em não mais do que 10% da totalidade das pessoas."

Na apresentação, Doria chegou a afirmar que a Coronavac também teria demonstrado eficácia em 98% dos casos. O índice, na verdade, diz respeito à soroconversão calculada – ou seja, quantas pessoas teriam apresentado resposta imunológica ao coronavírus, mas ainda sem a garantia de que, de fato, a presença de anticorpos protege contra a infecção.

Presidente do Instituto Butantã, Dimas Covas disse que ainda é cedo para falar da eficiência. "O estudo de fase 3 está em andamento e os resultados são de conhecimento de quem controla o estudo, um organismo internacional", afirmou. "Ainda não temos dados disponíveis sobre a eficácia. A partir do dia 15 de outubro, podemos ter os resultados de eficácia que permitirão o registro da vacina na Anvisa."

"O único dado que conseguimos extrair do estudo clínico é que aparentemente a vacina é segura. O que não significa que ela protege. Isso veremos com o tempo, observando se as pessoas que foram vacinadas têm covid-19 ou não e indiretamente se elas produzirão anticorpos", analisa Alexandre Naime, chefe da Infectologia da Unesp e consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia.

Testes. No Brasil, os testes em voluntários de saúde começaram no dia 21 de julho. Segundo o governo, mais de 5,6 mil dos 9 mil médicos e paramédicos já teriam recebido a Coronavac, sem nenhum registro de reação adversa até o momento. A previsão é de que todas as doses para a pesquisa sejam aplicadas até o próximo mês.

Após a administração das vacinas, os pacientes ainda são monitorados por um ano. Essa fase é importante para saber se há diferença de resultado entre o grupo em que o imunizante foi aplicado e o que recebeu placebo – para só então concluir sobre a eficácia.

Diretor da Sinovac na América do Sul, Xing Han demonstrou otimismo em obter bons resultados. "Estamos confiantes com a Coronavac tanto para segurança quanto para eficiência. Os testes estão sendo bem feitos e daqui a um ou dois meses já saem os resultados da fase 3, com curto prazo para registro na Anvisa", disse.

Segundo o governador Doria, o primeiro lote com 5 milhões de doses da Coronavac, produzidas na China, chegará a São Paulo ainda em outubro.