O Estado de São Paulo, n.46362, 23/09/2020. Política, p.A10

 

Presidente distorce dados em discurso

Alessandra Monnerat

Daniel Bramatti

Fabrício de Castro

Gabi Coelho

Guilherme Bianchini

Pedro Prata

Samuel Lima

Tiago Aguiar

23/09/2020

 

 

Bolsonaro ignora estudos internacionais sobre preservação ambiental no País e dá versão alterada de decisão do STF no combate à covid

Em seu discurso ontem na abertura da Assembleia-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), o presidente Jair Bolsonaro ignorou estudos internacionais sobre preservação ambiental no País e afirmou, sem base em informações oficiais, que "índios e caboclos" são responsáveis por incêndios nas florestas, segundo checagem feita pelo Estadão Verifica.

Além de questões ambientais, o presidente ainda distorceu uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre medidas de enfrentamento do novo coronavírus nos Estados e municípios e inflou o valor do auxílio emergencial pago aos mais pobres e aos trabalhadores informais afetados pelas medidas de isolamento social impostas pela crise sanitária.

Em meio às queimadas que assolam o Pantanal e a Amazônia, Bolsonaro tentou defender seu governo ao dizer que o Brasil é um dos países que mais preservam suas florestas tropicais, desconsiderando que o País registrou a maior perda deste tipo de cobertura vegetal em 2019.

Sobre a pandemia, Bolsonaro – que já foi diagnosticado com coronavírus – disse que "o lema 'fique em casa' e 'a economia a gente vê depois' quase trouxeram o caos social ao País". Citou a hidroxicloroquina, medicamento que não tem comprovação científica de sua eficácia no tratamnto da covid-19. O uso da substância é defendido pelo presidente, embora tenha sido descartada de testes pela Organização Mundial da Saúde (OMS).