Correio braziliense, n. 21028, 18/12/2020. Cidades, p. 19

 

Início de uma recuperação

Cibele Moreira 

18/12/2020

 

 

 Apesar de ainda registrar resultados negativos, a economia da capital do país mostra leves sinais de recuperação. O Índice de Desempenho Econômico do Distrito Federal (Idecon-DF) — medição que avalia esse cenário —, apresentou variação de -0,6% no terceiro trimestre de 2020, na comparação ao mesmo período do ano passado. No entanto, o resultado apontou melhora significativa em relação ao segundo trimestre do ano, quando apresentou queda de 3,9%. Os dados fazem parte do Boletim de Conjuntura Econômica, divulgado ontem pela Companhia de Planejamento do DF (Codeplan).

Os dados do Idecon-DF resultam da avaliação de três setores: agropecuária, indústria e serviços. A alta de 3,3 pontos percentuais sustentou-se pelo crescimento dos dois primeiros, cujos indicadores avançaram 2% e 1,3%, respectivamente. Contudo, sofreu impactos da desaceleração do setor de serviços, que apresentou contração de 0,7% em comparação a 2019.

Para o economista Renan Silva, o DF vive um momento de recuperação parcial da economia. "Tivemos o consumo represado devido às medidas restritivas da pandemia. Mas a flexibilização (delas) e os juros baixos possibilitaram esse crescimento mais acelerado do que o esperado", pontua. O especialista observa que os setores de imóveis e da indústria contribuíram para essa recuperação no terceiro trimestre do ano. Renan entende que os resultados geram perspectivas mais positivas para 2021, principalmente com a possibilidade de vacinação contra a covid-19 e com a volta da confiança dos consumidores. "Será um ano de alento para a economia local", completa.

O afrouxamento das restrições ao comércio e à prestação de serviços não essenciais melhorou o consumo das famílias, segundo o boletim da Codeplan. Os dados revelam que a população passou a responder mais rapidamente às tentativas de estímulos econômicos do setor produtivo do que simplesmente à oferta de bens e serviços. Isso gerou pressão sobre os preços, e a inflação acumulada no período chegou a 1,29%, pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

No acumulado em 12 meses, o indicador registrou variação de 2,81%, o que indica que o IPCA deve fechar 2020 próximo ao centro da meta (4,0%). Os principais produtos que influenciaram para a subida estão nos grupos de transporte — que apresentou variação positiva de 0,91% — e de alimentação e bebidas (0,34%).

Setores
O setor com maior crescimento no 3º trimestre, em relação ao mesmo período do ano passado, foi a agropecuária — com alta de 2%. O crescimento decorreu, principalmente, do crescimento da produção local de feijão (38,7%). Presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Distrito Federal (Fape-DF), Fernando Cezar Ribeiro afirma que o índice tem se mantido desde o início do ano. "Esse crescimento de 2% vem desde janeiro. Vários setores apresentaram variação positiva. Aqui no DF, a maior pauta é a exportação de soja, que teve aumento no valor da venda da saca, saindo de R$ 85 para R$ 180. Essa alta também contribuiu para o impacto econômico", calcula.

Fernando Cezar destaca, ainda, a produção de milho e de feijão, que tiveram boa safra neste ano. Por outro lado, o setor de hortifrúti sofreu com as restrições da pandemia, no primeiro momento, após fechamento das feiras populares. "Os produtores sentiram uma baixa no faturamento, mas também se reinventaram, com novas formas de comercialização, como o delivery e o drive-thru. Criaram-se novos mecanismos, e os impactos foram minimizados", observa. Para o ano que vem, ele acredita que os 2% podem se manter ou alcançar 3%.

A indústria apareceu em seguida, com variação positiva de 1,3%. Na avaliação do presidente da Federação das Indústrias do Distrito Federal (Fibra), Jamal Jorge Bittar, a recuperação no setor ocorre de forma moderada. "Os números ainda não compensaram os de antes da pandemia — o que não surpreende, considerando o ano complexo. Mas estamos otimistas", ponderou. Para 2021, as expectativa são melhores. "Esperamos uma retomada no setor. De forma suave, com otimismo, porém realista", acrescenta.

Para Jamal Bittar, uma segunda onda de casos da covid-19 pode causar impactos negativos para o setor, devido às possíveis restrições. Por outro lado, a promessa de imunização traz mais esperança. "A vacina é o grande evento para o ano que vem. Havendo a imunização, o cenário muda, porque as pessoas terão mais segurança", considera o presidente da Fibra.

O setor de serviços, que representa 95,3% da economia do DF, teve variação negativa de 0,7%. Essa retração se refletiu no resultado negativo de áreas como o comércio, que registrou queda de 1,9% nas atividades, no terceiro trimestres deste ano. Em relação ao varejo, o boletim indicou retração de 6,1% até setembro. Ainda assim, o índice ficou melhor do que o dos seis primeiros meses do ano, quando o acumulado do semestre fechou em -10,6%.

Para o presidente do Sindicato do Comércio Varejista do Distrito Federal (Sindivarejista-DF), Edson de Castro, a melhora era esperada, por causa das datas comemorativas da segunda metade do ano. "A tendência dos meses que compõem o terceiro e o quarto trimestre do ano é de crescimento, principalmente por causa do Dia dos Pais, do Dia das Crianças e do Natal", comenta. "Caso novas restrições (ao comércio) não ocorram, estamos otimistas e esperamos que a economia se recupere 100% em breve", diz Edson.