Correio braziliense, n. 21025, 17/12/2020. Economia, p. 8

 

Guedes promete "economia verde"

Rosana Hessel 

17/12/2020

 

 

Na contramão da agenda ambiental do presidente Jair Bolsonaro e do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, o ministro da Economia, Paulo Guedes, reconheceu que a economia global está cada vez mais verde, além de digitalizada, ao convidar investidores estrangeiros a apostarem no Brasil, mas não detalhou medidas do governo para uma economia mais sustentável.

"Sabemos que o futuro é verde e sabemos que o mundo é digital. Estamos abertos para investimentos estrangeiros e estamos recuperando a nossa dinâmica de crescimento interna. E permanecemos como uma das maiores e mais prósperas fronteiras de investimento para a próxima década", afirmou Guedes, em um pronunciamento, de pouco mais de 20 minutos, gravado para uma conferência do The International Economic Forum of The Americas (Iefa), em Montreal, no Canadá. "Espero que invistam no Brasil", afirmou.

Ainda ontem, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) cobrou o combate do desmatamento ilegal na Amazônia, ao divulgar relatório sobre a economia brasileira. O documento diz que "o desmatamento é uma importante fonte de emissões de gases de efeito estufa e voltou a subir recentemente". Por isso, pede o cumprimento das leis e proteções que já se mostraram capazes de reduzir o desmatamento, além de reforço da fiscalização.

Na ocasião, Guedes disse que "o Brasil entende a importância da dimensão ambiental para tornar o crescimento econômico mais sustentável". Ele voltou a dizer que "a agropecuária brasileira não precisa derrubar uma árvore para aumentar a produtividade", mas reconheceu que o país tem que "erradicar a mineração ilegal, a derrubada de florestas ilegal e o desmatamento ilegal". E afirmou que "os recursos naturais valem mais preservados do que destruídos", pois representam uma riqueza do país e também serão a fonte da bioeconomia, a nova dimensão econômica mundial.

O ministro, entretanto, não citou medidas de proteção ambiental do governo e, como exemplo de digitalização, mencionou apenas a operação de distribuição do auxílio emergencial por meio de conta poupança digital da Caixa, que registrou 100 milhões de usuários desse serviços, tornando-se o "maior banco digital do mundo". Segundo ele, o Brasil está se preparando para se tornar uma economia aberta. "Estamos nos preparando para o futuro digital", garantiu.

Despreparo
Contudo, um relatório do Fórum Econômico Mundial divulgado nesta quarta-feira, curiosamente, revela que o Brasil é um dos países pouco preparados para uma transformação econômica nos próximos cinco anos que implique melhora nos serviços públicos, investimentos verdes e digitalização.

Brasil, Grécia e México figuram como os três piores em termos de confiança no governo e índice de corrupção, segundo a pesquisa feita junto a executivos de grandes multinacionais. (Com Marina Barbosa)

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Bolsa segue em alta com otimismo no exterior 

Israel Medeiros 

17/12/2020

 

 

Após zerar, na terça-feira, as perdas provocadas pela pandemia ao longo do ano, a Bolsa de Valores de São Paulo (B3) registrou mais um dia de alta: o Ibovespa fechou, ontem, aos 117.857 pontos, com ganho de 1,47%. O dólar subiu para R$ 5,10, com valorização de 0,34%.

Contribuiu para a confiança dos investidores o avanço das negociações de um pacote de estímulos monetários nos Estados Unidos, que pode injetar US$ 748 bilhões na economia americana. Na Europa, as negociações do Reino Unido para uma saída amigável da União Europeia também parecem ter progredido.

Paula Zogbi, da Rico Investimentos, explica que o possível entendimento pelo pacote nos EUA e o desempenho de ações como as da Vale e de bancos contribuíram para a alta do Ibovespa. Já na Europa, as notícias sobre o Brexit foram positivas para o mercado, mas as medidas de isolamento em algumas das principais economias europeias no Natal causaram preocupação.

Victor Beyruti, da Guide Investimentos, acredita que a alta da bolsa deve se sustentar pelo menos até o primeiro trimestre de 2021, com expectativas de estímulos vindos dos EUA e a consequente entrada de capital estrangeiro em mercados emergentes. Mas a continuidade do movimento após o primeiro semestre é uma dúvida.

"O problema fiscal está aí, e também há a questão da distribuição de vacinas. Sem a sinalização do governo de que o teto de gastos será mantido, esse dinheiro que está entrando pode ir embora na mesma velocidade", alertou.

*Estagiário sob a supervisão de Odail Figueiredo

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OCDE: Brasil pode ter outra década perdida 

Marina Barbosa 

17/12/2020

 

 

O Brasil corre o risco de enfrentar uma "recessão prolongada, como a década perdida dos anos 1980" ou uma recuperação econômica "lenta e decepcionante" caso não retome o ajuste fiscal e destrave as reformas econômicas no pós-pandemia. O alerta consta no Relatório Econômico da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) sobre o Brasil 2020.

O documento explica que a pandemia de covid-19 "mergulhou a economia em uma recessão profunda" e calcula que, por isso, o Brasil vai acabar este ano com uma queda de 5% do Produto Interno Bruto (PIB). A OCDE ainda projeta um deficit primário de 10,7% do PIB e um endividamento de 91,4% do PIB para o país, por conta do aumento dos gastos e da redução de receitas provocada pela pandemia. E conclui que "melhorar os resultados fiscais continua sendo um dos principais desafios do Brasil".

"Fortaleçam o fiscal. A questão fiscal já era desafiadora e agora espera-se um acréscimo de 20 pontos percentuais do PIB na dívida pública bruta. De acordo com nossas projeções, a dívida ficará ligeiramente acima de 100% do PIB em 2026. O desafio reside em gastar melhor, em vez de gastar mais", alertou o secretário-geral da OCDE, José Ángel Gurría.

A OCDE recomenda que o Brasil reveja subsídios ineficazes, regimes fiscais especiais e gastos tributários; melhore a eficiência dos gastos públicos, ajustando as despesas com o funcionalismo; e reduza a rigidez orçamentária por meio da desvinculação e da desindexação do Orçamento. Para a organização, isso é necessário para que o país garanta o cumprimento das regras fiscais, como o teto de gastos, e diz que um eventual abandono dessas regras "poderia inviabilizar a recuperação".

Além disso, a OCDE afirma que o país precisa avançar nas medidas econômicas que podem melhorar o ambiente de negócios, como a reforma tributária, pois entende que "sem profundas mudanças estruturais para aumentar a produtividade, a recuperação será lenta e decepcionante". E garantiu que, apesar de ser difícil encontrar consenso político sobre o assunto, "a recompensa do progresso da reforma seria substancial e rápida o suficiente para ser politicamente atraente". "Essa ação pode gerar um crescimento médio anual de 0,9 pontos percentuais ao longo de 15 anos, fazendo que o crescimento do próximo ano seja 1/3 maior que os 2,6% atualmente projetados", disse Gurría.

Compromisso
Presente na cerimônia virtual de apresentação do relatório da OCDE, o ministro da Economia, Paulo Guedes, garantiu que as reformas econômicas estão no "centro da programação econômica do governo". Ele também mostrou comprometimento com o ajuste fiscal e o teto de gastos. "As mensagens da OCDE estão em consonância com o que o Banco Central e o governo têm pensado", reforçou o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

Guedes voltou a dizer que as medidas emergenciais lançadas na pandemia da covid-19 foram necessárias, mas não podem ser permanentes, pois já somam 8,5% do PIB. Por isso, reforçou, o governo vai acabar com o auxílio emergencial no próximo dia 31 para voltar ao Bolsa Família em 2021.

A OCDE, no entanto, entende que o Bolsa Família pode contribuir com a redução da pobreza no Brasil. Por isso, recomendou a ampliação do programa. O secretário do Tesouro Nacional, Bruno Funchal, disse que o orçamento anual do Bolsa Família já foi ampliado de R$ 29 bilhões, em 2020, para R$ 34 bilhões em 2021, para que mais famílias sejam atendidas. E admitiu que o orçamento pode ser revisto para cima novamente desde que caiba no teto de gastos. E a única forma de fazer isso, emendou o secretário-executivo do Ministério da Economia, Marcelo Guaranys, é cortando outras despesas.

Diante dessas sinalizações, o diretor do Departamento de Economia da OCDE, Álvaro Pereira, disse que, apesar da preocupação com a situação fiscal e ambiental do país, é só uma questão de tempo para o Brasil entrar na organização. Guedes garantiu que "o Brasil está pronto para ingressar na OCDE" e disse que a medida, perseguida pelos últimos governos, "torna o caminho à prosperidade mais curto".

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Vacinação fará a diferença no PIB 

17/12/2020

 

 

A vacinação contra a covid-19 vai acelerar a recuperação econômica. A avaliação é da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que alerta: a economia global pode crescer até 2% menos que o esperado em 2021 caso os planos de imunização não avancem pelo mundo. A OCDE projeta que o PIB mundial vai cair 4,2% em 2020 e crescer na mesma proporção em 2021. "Se não houver vacinação, ou uma mitigação do que está acontecendo, a recuperação vai ser mais lenta", alertou o diretor do Departamento de Economia da OCDE, Álvaro Pereira.