O Estado de São Paulo, n.46355, 16/09/2020. Metrópole, p.A16

 

Ideb do ensino médio tem maior alta da história no País, mas não atinge a meta

Renata Cafardo

Victor Vieira

Daniel Bramatti

16/09/2020

 

 

Educação. Os maiores crescimentos nessa faixa foram do Paraná, 3º colocado no ranking, e da Bahia, que ficou em último; todos os Estados aumentaram notas de Português e Matemática na etapa, mas só dois bateram objetivos. Do 1º ao 5º ano, houve desaceleração

O ensino médio do País teve o maior crescimento da história no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 2019, passando de 3,8 para 4,2, após várias edições estagnado ou com avanço de 0,1. Apesar disso, ficou longe da meta, que era 5 para este ano. Já o desempenho das crianças de 1.º ao 5.º ano do ensino fundamental desacelerou e aumentou só 0,1, o menor avanço desde 2005, quando houve a primeira medição.

O Ideb sai a cada dois anos e é o principal medidor de qualidade da educação no Brasil, considera as redes pública e privada. A nota varia em uma escala de 0 a 10. Para calcular o índice, considera-se o desempenho dos alunos em Matemática e Português no Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), prova aplicada pelo Ministério da Educação (MEC), e também índices de aprovação e evasão.

Todos os Estados avançaram no Ideb do ensino médio público, segmento considerado o mais problemático no País pela dificuldade de atrair e manter o jovem na escola. Nos últimos anos, Estados passaram a investir em ensino integral para adolescentes. Já a reforma do ensino médio, aprovada em 2017 com o objetivo de modernizar e flexibilizar o currículo na etapa, ainda não foi colocada em prática e tem sido ignorada pelo governo Jair Bolsonaro. Radiografias feitas por uma comissão da Câmara dos Deputados para analisar o trabalho do MEC já apontaram "paralisia" em ações da pasta e "omissão" durante a pandemia. A pasta passou por turbulências este ano, com duas trocas de ministros em menos de um mês.

"Pelo contexto de 2019 não é factível atribuir o aumento do Ideb a alguma política coordenada nacionalmente, as respostas estão nos Estados", diz o secretário de Educação do Espírito Santo e vice-presidente do conselho de secretários do País, Vitor de Angelo. A rede estadual do Espírito Santo tem o segundo Ideb mais alto do Brasil e as melhores notas de Português e Matemática. Ele diz que, no Estado, o que fez diferença foi o acompanhamento de perto das escolas com desempenho mais fraco nos últimos exames.

Todos as redes estaduais também aumentaram as notas de Português e Matemática. Mesmo com o desempenho melhor dos adolescentes do ensino médio, os únicos Estados que bateram as metas foram Pernambuco e Goiás. Os maiores crescimentos do Ideb do ensino médio foram do Paraná, 3.º colocado no ranking (mesma posição de Pernambuco), e da Bahia, que ficou em último lugar.

O Ideb estabelece metas para cada rede e escola até 2021. E o Brasil não deve alcançar o objetivo estipulado para a próxima edição. Segundo tabulação do Estadão, teria de avançar no Ideb exatamente na mesma proporção em que cresceu desde 2005, mas em apenas dois anos. A previsão do Ideb era de que o Brasil chegasse a médias próximas de 6 em 2021, consideradas comparáveis à educação de um país desenvolvido.

A pandemia ainda vai trazer desafios extras para melhorar índices de aprendizagem entre crianças e adolescentes, diante de quase seis meses de escolas fechadas no País para conter a transmissão do vírus. "O período de excepcionalidade vai prejudicar em todas as etapas", diz o secretário do Espírito Santo. Ele lembra que o Ideb é calculado justamente usando taxas de aprendizagem e de evasão. "Vamos assistir em 2022 a um resultado muito ruim."

A gerente de pesquisa e desenvolvimento do Itaú Social, Patricia Guedes, chama a atenção para o fato de o resultado atual do ensino médio retratar apenas os "estudantes que ficaram". "Sem tirar o mérito de se garantir bons resultados para esses alunos, os números não contam toda a história, precisaríamos, como País, olhar também para aqueles que já deixaram o ensino médio", afirma. No Brasil, atualmente, 4 em cada 10 jovens de 19 anos não concluem a escola. E, com a pandemia, essa evasão tende a aumentar.

Públicas versus particulares. As escolas particulares avançaram menos que as públicas entre 2017 e 2019 nos dois ciclos do fundamental. Nos anos iniciais desta etapa (1.º ao 5.º ano), o Ideb na rede privada ficou parado pela primeira vez em 15 anos. No ensino médio, a nota das particulares passou de 5,8 para 6,0, enquanto a nota das redes estaduais do País, em conjunto, progrediu de 3,5 para 3,9. O Brasil tem 7,465 milhões de alunos no ensino médio – 84% deles nas redes estaduais.