Valor econômico, v. 21, n. 5173, 22/01/2021. Política, p. A6

 

Baleia termina campanha pela Câmara visitando apenas 12 Estados

Raphael Di Cunto

Marcelo Ribeiro

22/01/2021

 

 

Começo tardio explica poucas viagens
Após os atrasos para definição de sua candidatura, só decidida na antevéspera do Natal, o deputado Baleia Rossi (MDB-SP) deve encerrar sua campanha à presidência da Câmara tendo visitado apenas 12 Estados, enquanto o deputado Arthur Lira (PP-AL), principal adversário, terá promovido reuniões com todas as bancadas estaduais até terça-feira.

Esse tipo de viagem costuma ser usada como demonstração de forças das candidaturas, para pedir o apoio dos governadores e prefeitos de capitais (capazes de influenciar alguns votos na disputa) e para conversar pessoalmente com os deputados num período em que eles estão de recesso e longe de Brasília.

A candidatura de Lira está definida há muito mais tempo e aliados de Baleia reconhecem que o adversário saiu na frente nesse planejamento. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), buscou unificar apoios a esquerda e a direita, num discurso de independência do Legislativo, mas essas siglas demoraram a definir o candidato.

Baleia deve visitar 12 Estados, contando Maranhão e Paraíba hoje e o Rio de Janeiro na segunda-feira. Ele ainda irá a São Paulo e Pernambuco novamente. A agenda privilegiou locais governadores por partidos aliados, como PSDB, DEM, PT e PSB, para buscar apoio contra “traições” dos deputados desses partidos, situação que mais preocupa a campanha neste momento.

Entre os encontros estiveram reuniões com os governadores do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), do Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja (PSDB), e de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM). O presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, visitou Leite e Azambuja dias depois para pedir empenho na busca de votos. Já Caiado estava reticente, por causa da aliança de Baleia com o PT e para não fortalecer o MDB, seu principal adversário local, mas os emedebistas acenaram com um possível apoio em 2022.

Futuro líder do PSDB na Câmara, o deputado Rodrigo de Castro (MG) reconhece que o ideal seria visitar todo o país, mas que o atraso levou a estratégia de concentrar as articulações nos partidos e no contato por telefone. “É um fato que o Baleia começou sua campanha atrasado, isso é uma realidade. Ele está se adequando a essa contingencia”, disse.
Já Lira tem viajado com uma grande comitiva de aliados em jatinho fretado pelo seu partido, o PP, e concluirá o roteiro na terça-feira na Bahia. A rotina é intensa e envolve encontros em dois Estados diferentes quase todos os dias com deputados, governadores e prefeitos. A presença de muitos parlamentares nessas reuniões têm sido alardeada como uma mostra de força de sua campanha.

Um exemplo citado por Lira é o Paraná. O candidato do PP foi recebido na terça-feira pelo governador Ratinho Júnior (PSD), seu apoiador, e mais de dois terços da bancada estadual. Baleia visitaria o Estado dois dias depois, mas cancelou a agenda com o argumento de que precisou mudar a data da viagem para Goiás por causa da missa de sétimo dia do ex-prefeito de Goiânia Maguito Vilela (MDB). Ele, porém, não remarcou o encontro.

Nos bastidores, aliados de Baleia reconhecem que parte das viagens foi cancelada pela dificuldade de unir numa foto os deputados do seu bloco, mas que no plano local são adversários ferrenhos. A bancada do PT, uma das maiores de São Paulo, por exemplo, não compareceu ao almoço com o governador João Doria (PSDB).

Baleia, porém, destaca que seu arco de partidos representa 20 dos 27 governadores e que está buscando os votos individualmente dos deputados. “Vou conversar com todos, mostrar que a nossa candidatura significa o fortalecimento do mandato de cada um. Todos os 513 deputados precisam ser valorizados e não podem ser comandados por uma panelinha de seis ou sete”, disse. Ele também afirmou que cancelou viagens para participar de debates no Roda Viva e na CNN Brasil, mas que o adversário “fugiu”.

Com apoio do governo Bolsonaro, contudo, Lira tem colhido votos no PSDB, DEM, SD, PSB e até do MDB, sigla presidida por Baleia. Dois dos três deputados emedebistas do Rio devem votar em Lira, segundo,, por influência dos evangélicos, do governo e até do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (MDB-RJ). A sigla dá como certa a traição de Gutenberg Reis, mas ainda tenta demover a deputada Daniela do Waguinho.
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Lira busca mercado financeiro em SP

Mônica Scaramuzzo

Carolina Freitas

22/01/2021

 


Candidato apoiado por Bolsonaro para a Presidência da Câmara reúne-se com pesos pesados do Itaú, Bradesco, Santander, representantes da Febraban e da XP
O deputado federal Arthur Lira (PP-AL), candidato à presidência da Câmara, participou de uma rodada de conversas com representantes do mercado financeiro em São Paulo entre quarta e quinta-feira. O parlamentar se encontrou com pesos pesados do Itaú, Bradesco, Santander e representantes da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) quarta. E, na manhã de ontem, esteve na sede da corretora XP, em São Paulo. Nenhum desses encontros constou da agenda oficial do parlamentar.

Executivos da XP convidaram o deputado para falar sobre seus planos, caso seja eleito para o comando da Casa. A corretora também pretende conversar com o deputado Baleia Rossi (MDB-SP), principal adversário de Lira. As eleições para a Mesa Diretora da Câmara serão em 1º de fevereiro.

O mercado financeiro quer entender os projetos que a Câmara pretende colocar em votação a partir de fevereiro. Há uma preocupação de que as reformas percam espaço na agenda do governo. Céticos em relação a uma agenda de reformas mais ambiciosas, executivos e banqueiros querem saber se Lira está disposto a levar adiante votações sobre o tema ainda no primeiro semestre deste ano.

Aos executivos de bancos e da corretora, Lira fez um discurso pró-mercado e disse que a prioridade dele, se eleito, será discutir a PEC Emergencial.
“Ele reforçou que a Câmara vai ser um ambiente de diálogo para aprovar as medidas econômicas necessárias”, disse uma fonte que participou da conversa.

No entendimento de uma parte dos executivos do mercado financeiro, Lira é “o melhor candidato para o curto prazo”. Baleia Rossi é visto como um bom articulador, mas, de acordo com fontes ouvidas pelo Valor, por ser o candidato de Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara, está mais alinhado à esquerda. Lira, por sua vez, conta com apoio do Palácio do Planalto.

Para o mercado financeiro, não há espaço para levar adiante os pedidos de impeachment contra o presidente Jair Bolsonaro.

Lira estendeu o tom pró-mercado à palestra que fez ontem na sede da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), na capital paulista, a dirigentes da entidade. O parlamentar defendeu também um “tripé de reformas” a ser erguido no primeiro semestre e afirmou que um eventual novo auxílio emergencial tem que ser do tamanho que o mercado possa “suportar”.

“O auxílio foi providencial para a manutenção aquecida da economia. Sabemos que ele conteve falhas. A base de recebimento vai ser bem menor”, afirmou Lira a dirigentes da ACSP, em agenda pública. “Tenho a impressão de que, dentro do teto, com o Orçamento aprovado, o mercado aceitaria entre R$ 20 bilhões e R$ 50 bilhões [de gasto com auxílio emergencial] por um período máximo de seis meses.”

Para Lira, os recursos para o benefício devem vir por crédito extraordinário, com prazo e valores definidos. “No máximo R$ 50 bilhões para um público selecionado, para receber R$ 300 por mês.”

O auxílio foi pago pelo governo federal de abril a dezembro do ano passado, para ajudar desempregados e trabalhadores informais durante a pandemia. As nove parcelas do auxílio beneficiaram no ano passado 68 milhões de pessoas, em um gasto de R$ 292 bilhões, segundo dados da Caixa.
Lira disse que o atraso do Congresso em discutir o Orçamento 2021 impede que, agora, o governo e os parlamentares possam providenciar um novo auxílio. “A não instalação da Comissão Mista de Orçamento (CMO) no ano passado nos deixou sem Orçamento no momento em que finalizou o auxílio emergencial”, disse. “Não ter o Orçamento aprovado impede que o Congresso ou o governo possam sanear o problema agora.”

O parlamentar disse que, se eleito presidente da Câmara, vai imediatamente instalar a CMO para que se discuta Orçamento e em seguida dará seguimento à PEC Emergencial. “Enquanto a gente discute a PEC Emergencial, o governo deve ter condições de tratar do auxílio emergencial.”

Lira defendeu que seja criado um programa de auxílio “permanente, responsável e dentro do teto de gastos” e que o benefício emergencial funcione como “ponte” para o auxílio permanente.

Dentro do “tripé de reformas”, Lira colocou como prioridade a administrativa. Sobre a tributária, disse ser necessário apresentar um relatório sobre a matéria. “De nada adianta ficar emitindo opinião sobre uma PEC sem saber que alterações ela vai sofrer.”

Rival de Lira na disputa pelo comando da Câmara, Baleia Rossi é autor da PEC 45, umas das principais propostas de reforma tributária em tramitação no Congresso.

Apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro e pelos partidos do Centrão, Lira repetiu a ideia de que o novo comando da Câmara precisa pacificar as relações entre os Poderes. É uma referência aos conflitos entre Rodrigo Maia e Bolsonaro.

Nos eventos públicos em São Paulo, Lira esteve cercado por deputados bolsonaristas e expoentes do Centrão. Acompanhavam Lira, por exemplo, o presidente do PSD, Gilberto Kassab; e os deputados Marcelo Ramos (PL-AM), Marcos Pereira (Republicanos-SP), Vitor Hugo (PSL-GO) e Coronel Tadeu (PSL-SP), que usava ontem máscara estampada com a bandeira do Brasil e as palavras “Fechado com Bolsonaro”.
Lira foi questionado por jornalistas sobre a fala do procurador-geral da República, Augusto Aras, de que uma investigação sobre a omissão de Bolsonaro diante da pandemia caberia ao Congresso. “A responsabilização de quem não cumpre sua obrigação acontece em diversas escalas de Poder. O Congresso tem obrigação de fiscalizar, como é também função do Ministério Público.” Em seguida, sustentou que o momento da pandemia não é de “encontrar culpados” mas de resolver o problema.