Valor econômico, v. 21, n. 5173, 22/01/2021. Brasil, p. A2

 

Desinformação ameaça campanha de vacinação entre povos indígenas

Daniela Chiaretti

22/01/2021

 

 

Mensagens sobre “feitiço”, “chip líquido” e outras afugentam índios da imunização
Na aldeia guarani Te'yikue, em Caarapó, circula a informação que os índios que forem vacinados contra covid-19 virarão vampiros. Mensagens de whatsapp dizem que quem tomar vacina morre em seis meses e que os índios são cobaias, por isso são grupo prioritário na campanha de combate à pandemia. Repetem o que ouvem de religiosos - de que se trata da “marca da besta” e o que está na seringa é um “chip líquido”. O que se ouve entre guarani kaiowa e guarani nhandeva no Mato Grosso do Sul também sobe os rios da Amazônia e são mentiras que se alastram nas aldeias do Xingu. A forte onda de fake news causa medo e provoca resistência à vacinação em povos indígenas em todo o Brasil.

Segundo dados da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), referência nacional do movimento indígena, 46.355 índios de 161 povos foram confirmados com covid-19 desde o início da pandemia. Morreram 928, entre eles lideranças como o cacique Aritana, do Alto Xingu. O número real é muito maior, porque não contabiliza os que morreram nas aldeias, sem notificação oficial.
Sofrem particularmente os índios não aldeados. São os que vivem nas cidades, na beira das estradas e em territórios não homologados pela União. Nestes casos, não são atendidos pela Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), braço do SUS criado em 2010 para dar atenção básica aos índios. Segundo estudo feito por pesquisadores da Universidade de Pelotas, a prevalência do coronavírus entre índios urbanos é cinco vezes maior da encontrada entre não índios.