O globo, n.31903, 11/12/2020. País, p. 10

 

Antagônicos, PSOL e NOVO dividem padrão de votação

Guilherme Caetano 

11/12/2020

 

 

Antagônicos nas pautas econômicas, similares no desempenho eleitoral. As eleições municipais mostraram semelhanças nas urnas entre dois partidos que costumam rivalizar com contundência nas Casas Legislativas, um à esquerda, o outro à direita: o PSOL e o Partido Novo. Ambos podem ser chamados de “partidos das metrópoles”.

A explicação é a característica observada no desempenho das duas legendas no último pleito, no qual tiveram votações inexpressivas em cidades pequenas, mas que se avolumaram em grandes centros urbanos. Os dados foram levantados pelo cientista político Jairo Nicolau, que afirma se tratar de um padrão particular do PSOL e do Novo.

O PSOL, por exemplo, teve 0,1% dos votos nas cidades com até 20 mil habitantes onde lançou candidatos. A taxa aumenta gradativamente quanto maior é o tamanho do município, chegando a 1,6% nas cidades com população entre 150 mil e 500 mil e disparando nas maiores, onde obtém 5,3% dos votos.

O Novo segue o mesmo padrão: pertode0%nascidadesdeaté150milmoradores,passandopara0,7%nasde150 mila500mil,echegandoa2,3%nascidades acima de 500 mil pessoas. A Rede Sustentabilidade é outro partido que se aproxima dessa tendência, mas não chega a ter um resultado expressivo nos grandes centros.

Para efeito de comparação, o PT, maior partido de esquerda, obteve em torno de 5% em cidades pequenas e médias, e sobe para algo perto de 7,3% nos grandes centros. Siglas do centrão, como Progressistas e PSD, demonstram padrão contrário ao do PSOL. Tiveram votações entre 10% e 12% nascida desde até 20 mil habitante sede 5% nos grandes centros.

PAUTA IDEOLÓGICA

Comparando os gráficos de percentual de votos por população da cidade, nenhum outro partido sobe uma “ladeira íngreme” na chegada às cidades de milhões de pessoas como PSOL e Novo. Professor de ciência política da UFPR e estudioso de partidos políticos, Bruno Bolognesi atribui esse padrão ao tipo de agenda defendido pelas duas legendas e a uma base social comum, um eleitorado de classe média alta, universitária, mais abundante em grandes cidades. Segundo ele, um traço importante é o fato de os dois partidos serem altamente ideológicos e defenderem pautas “não concretas” para o eleitor de cidades menores.

—PSOL e Novo defendem pautas. “identitárias”, baseadas em valores. Para o prefeito de cidade pequena, que está preocupado em asfaltar rua e pintar escola, isso não faz sentido —afirma Bolognesi.

O melhor desempenho nas metrópoles fez com que 53% dos candidatos eleitos do PSOL viessem de cidades com mais de 200 mil eleitores. Em São Paulo, o partido conseguiu triplicar sua bancada na Câmara, passando de dois vereadores para seis. No Rio, o PSOL conseguiu formar a maior bancada, com sete parlamentares, ao lado de DEM e Republicanos. Presidente do PSOL, Juliano Medeiros diz que o próximo passo é se interiorizar:

— Esse processo não é fácil. Exige um custo material e político grande. Pretendemos dar um salto no processo de criação de diretórios municipais e comissões provisórias.