Correio braziliense, n. 21017, 09/12/2020. Ciência & Saúde, p. 13

 

Início da vacinação acende esperança

09/12/2020

 

 

Britânicos começam a imunização da população enquanto países se preparam para receber as doses dos fabricantes e ajustar medidas de proteção contra a disseminação da covid-19. Nos EUA, Trump decreta prioridade para vacinas e Biden quer pressa para evitar atrasos

A imagem de uma senhora britânica vestida em um pulôver com motivos natalinos foi compartilhada por todo o mundo, ontem. Margaret Keenan, 90 anos, sentada em uma poltrona com o braço estendido, conversando com uma enfermeira em um hospital de Coventry, na Inglaterra central, foi a primeira paciente do mundo a receber a vacina contra a covid-19 desenvolvida pela Pfizer e BioNTech.

"Eu me sinto muito privilegiada por ser a primeira pessoa a ser vacinada contra a covid-19. É o melhor presente de aniversário antecipado que poderia esperar", declarou, diante dos fotógrafos e das câmeras de televisão, que registraram o momento às 6h30 (3h30 no horário de Brasília). A idosa completará 91 anos na próxima semana.

Margaret está isolada desde o início da pandemia, em março, e graças à vacina, da qual receberá uma segunda dose em 21 dias, disse que pode " pensar em passar um tempo com minha família e amigos no Ano Novo", afirmou, de acordo com a agência France Presse. O segundo vacinado no país foi um homem chamado William Shakespeare, de 81 anos, que se declarou "muito feliz". "É incrível observar a vacina, é incrível ver este tremendo impulso para toda a nação, mas não podemos relaxar", declarou. Ainda "não derrotamos o vírus", destacou, antes de pedir a todos que aceitem a injeção sem medo.

O Reino Unido, o país europeu mais afetado pela pandemia, com mais de 62.000 mortes confirmadas, começou a vacinar sua população contra o novo coronavírus, priorizando os idosos, seus cuidadores e profissionais de saúde. Essa é a primeira campanha desse tipo em um país ocidental. As autoridades de saúde acreditam que o processo será longo e complicado do ponto de vista logístico. A segunda onda da covid-19, na Europa, ultrapassou as 20 milhões de infecções.

Rainha como exemplo

A vacinação começou apenas em hospitais, 50 no total, devido à necessidade de manter o produto a uma temperatura muito baixa, entre -70ºC e -80ºC. O país recebeu as primeiras 800 mil doses da vacina Pfizer/BioNTech nos últimos dias, procedentes de laboratórios na Bélgica. As autoridades já alertaram que a maior parte da campanha acontecerá em 2021. O governo espera vacinar todas as pessoas vulneráveis até abril, mas isto dependerá do ritmo de entrega das próximas doses da vacina.

O sucesso da vacinação é crucial para o governo do primeiro-ministro Bóris Johnson, muito criticado por suas políticas erradas no combate à pandemia e que enfrenta uma revolta entre os conservadores contra as severas restrições locais que entraram em vigor em 2 de dezembro após o segundo confinamento. "Graças à vacina, agora temos um pouco de esperança", disse John Bottomly, um aposentado de 78 anos, em frente ao Royal Preston Hospital de Lancashire, no nordeste. "Vamos dizer adeus ao vírus assassino", acrescentou.

Mas nem todos estão tão entusiasmados. "Para ser sincero, não vou tomar, nem ninguém da minha família. Muitos estão céticos, acredito que talvez dentro de um ano esta vacina poderia acabar gerando mais problemas do que soluções", afirmou Barry Maxwell, um carpinteiro de 37 anos, em Edimburgo.

Para combater as hesitações de alguns britânicos em receber a injeção, a rainha Elizabeth II, de 94 anos, e seu marido, o príncipe Philip de 99, poderão ser vacinados em público nos próximos dias.

Oxford 70% eficaz

O Reino Unido comprou 40 milhões de doses da vacina Pfizer/BioNTech, suficientes para 20 milhões de pessoas. Será "uma corrida de fundo e não de velocidade" alertou o diretor-médico da saúde pública britânica, Stephen Powis.

O número representa menos de um terço da população (66,5 milhões), mas o país conta com a autorização em breve de outras vacinas, incluindo a da americana Moderna e, especialmente, a britânica da AstraZenaca/Oxford, cujos testes foram endossados, ontem, pela revista científica The Lancet, confirmando uma eficácia média de 70%. Desta última, as autoridades de saúde britânicas reservaram 100 milhões de doses.

Existem atualmente 51 vacinas candidatas, 13 delas em fase final de ensaios clínicos, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), que considera que a vacina não deve ser obrigatória, exceto em circunstâncias profissionais específicas. Nos Estados Unidos e na União Europeia, órgãos reguladores anunciarão suas aprovações em breve e os países poderão iniciar suas campanhas de vacinação, provavelmente a partir de janeiro.

A Rússia começou no fim de semana passado a administrar sua vacina, Sputnik V, ainda em fase de ensaios clínicos, e a China também fornece uma vacina experimental a um grupo reduzido da população.