Correio braziliense, n. 21016, 08/12/2020. Política, p. 4

 

Articulação e pressão pelo voto impresso

Ingrid Soares 

08/12/2020

 

 

"Já estou conversando com lideranças no Parlamento. Quem decide o voto impresso somos nós, o Executivo, e o Parlamento", afirmou, quando uma apoiadora disse a ele que "exigia o voto impresso". "E acima de nós, o povo, que quer o voto impresso", completou Bolsonaro.

No último dia 29, ao votar no Rio de Janeiro, no segundo turno das eleições, o presidente repetiu a afirmação e disse que o tema será pauta do governo no próximo ano.

"O que eu espero do sistema eleitoral brasileiro? Que nós possamos ter, em 2022, um sistema seguro que possa dar garantia ao eleitor. A questão do voto impresso é uma necessidade, está na boca do povo, as reclamações são demais. Não adianta bater no peito e falar que é (a urna eletrônica) segura, não tem como comprovar. Estamos vendo o trabalho dos hackers aí. Tenho conversado com várias lideranças do Congresso e nós devemos, no decorrer do ano que vem, partir para isso. A decisão é do Executivo e do Poder Legislativo: a busca pelo voto impresso", sentenciou.

Em 2015, o Congresso aprovou a implantação do voto impresso, mas foi derrubado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 2018. Em setembro deste ano, a maioria da Suprema Corte entendeu como inconstitucional a impressão do voto, confirmando a decisão liminar de 2018.

O presidente e seus aliados têm colocado em dúvida o processo eleitoral. No último domingo, um grupo de apoiadores fez protesto na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, defendendo a mudança. A deputada federal Bia Kicis (PSL-DF) estava no local e colocou em dúvida a credibilidade da urna eletrônica. A parlamentar tem um Projeto de Emenda à Constituição (PEC) que propõe a impressão do voto, a ser conferido e depositado pelo eleitor em urnas de forma automática e sem contato manual, para fins de auditoria.

O presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Luís Roberto Barroso, se manifestou sobre a possibilidade, dizendo que seria um retrocesso. A Corte informou que a impressão do voto foi testada no pleito de 2022, quando o eleitor fazia a conferência visual do voto, sem manuseá-lo. À época, segundo o TSE, além dos custos altos para a implantação, "o grande número de falhas devido à natureza mecânica do processo também impediu o transcurso fluente dos trabalhos nas seções eleitorais".

Bolsonaro e apoiadores, porém, jamais apresentaram provas de fraudes nas urnas eletrônicas. Em março deste ano, o presidente disse que ganhou as eleições em primeiro turno, em 2018, e que tem provas de fraudes no sistema de votação. Porém, jamais as divulgou. (Colaborou Sarah Teófilo)