Valor econômico, v. 21, n. 5168, 15/01/2021. Política, p. A12

 

Baleia conta com Doria para reverter dissidências

Marcelo Ribeiro

15/01/2021

 

 

Um grupo de 12 tucanos quer votar em Arthur Lira
Adversário político do presidente Jair Bolsonaro, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), entra em campo hoje para tentar mobilizar seus aliados em favor do deputado Baleia Rossi (MDB-SP) na disputa pelo comando da Câmara. O tucano oferecerá um almoço ao emedebista, parte da bancada do PSDB, deputados do DEM e do Cidadania.
Na sequência, Doria deve se reunir com parlamentares do DEM. Esta segunda rodada de conversas foi articulada pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e pelo vice-governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (DEM), que se encontraram ontem na sede do governo paulista.

O principal adversário do emedebista é Arthur Lira (PP-AL), que conta com o respaldo do Palácio do Planalto. Com a entrada nas articulações, Doria tenta conter o aumento das dissidências de parlamentares tucanos. Apesar de a candidatura de Baleia contar com apoio formal do PSDB, a expectativa é que pelo menos 12 deputados votem em Lira.

“O PSDB é um parceiro de primeira hora. Sempre lutou pela instituições democráticas. Antes mesmo do MDB, declarou sua independência ao governo. Fico feliz com o apoio do governador João Doria”, disse Baleia ao Valor.

Em caráter reservado, parlamentares do PSDB alinhados ao líder do MDB avaliam que o quórum do encontro promovido por Doria “não será dos melhores”. Isso porque os deputados estão convictos de que não serão punidos se embarcarem na candidatura de Lira.
Ao articular para ser escolhido para liderar a bancada, o deputado Rodrigo Castro (PSDB-MG) fez um acordo de cavalheiros com Celso Sabino (PSDB-PA), que já declarou publicamente que votará em Lira. Na ocasião, o parlamentar mineiro teria deixado claro que não puniria parlamentares que apoiassem o líder do PP na disputa pelo comando da Câmara. Essa postura foi determinante para sua eleição para comandar a bancada neste ano.

Mesmo com os rumores de que o almoço pode ser esvaziado, aliados de primeira hora de Baleia relativizam as ausências, alegando que alguns parlamentares estão se resguardando por serem do grupo de risco e não poderem se deslocar por causa da pandemia.

Segundo apurou o Valor, diante da possibilidade de o “encontro com muitas baixas” dar munição para que Lira comemore a adesão de tucanos à sua candidatura, Doria se antecipou e convidou parlamentares de São Paulo filiados ao DEM e ao Cidadania, que também fazem parte do bloco que sustenta a candidatura de Baleia.

Ciente da rejeição que uma ala da bancada nutre pelo governador de São Paulo, o deputado do MDB deve apostar em uma nova investida sobre deputados tucanos nas próximas semanas “sem a sombra de Doria”.

Nos bastidores, a ofensiva de Doria chegou a ser comemorada por aliados de Lira, que consideram que o nome do governador pode consolidar o apoio de alguns tucanos ao deputado alagoano, já que Doria não é uma unanimidade na bancada do PSDB na Câmara.

No ano passado, o líder do PP se aproximou de Celso Sabino (PSDB-PA) e tentou emplacar o nome dele na liderança da Maioria na Câmara no lugar de Aguinaldo Ribeiro (PP-PB). Desde então, ele e o paraense são próximos.

Sabino tem participado da comitiva de viagens de Lira pelo país e é um dos puxadores de votos do parlamentar do PP dentro do PSDB.
Por outro lado, deputados mais próximos do líder do MDB acreditam que a entrada de Doria nas articulações é acertada, já que a corrida pelo comando da Câmara pode ser uma prévia da disputa presidencial em 2022.

O tucano pretende concorrer ao comando do Palácio do Planalto e, por isso, tenta marcar posição contra Bolsonaro nas disputas do Legislativo.

Enquanto Lira conta com o apoio de Bolsonaro e investiu na negociação no varejo, Baleia apostou a ficha na influência de governadores sobre os votos dos parlamentares - aliados dele avaliam que ele conta com apoio de pelo menos dois terços dos governadores.

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Van Hattem, Janones e Frota lançam candidaturas

Marcelo Ribeiro

15/01/2021

 

 

Candidaturas alternativas prometem desde independência até colocar em pauta impeachment de Bolsonaro
A eleição para a Presidência da Câmara dos Deputados tem mais três candidatos. Marcel van Hattem (Novo-RS), André Janones (Avante-MG) e Alexandre Frota (PSDB-SP) lançaram ontem candidaturas que, embora enfrentem grandes desafios para arregimentar um número substancial de votos, podem influenciar a disputa e forçar um segundo turno.

Os favoritos continuam sendo o deputado Arthur Lira (PP-AL), que é apoiado pelo governo, e Baleia Rossi (MDB-SP), representante do grupo do atual presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ). O líder da bancada da segurança pública, Capitão Augusto (PL-SP), e Fábio Ramalho (MDB-MG) também lançaram candidaturas independentes. Há ainda a expectativa em relação ao lançlançamento da candidatura de Luiza Erundina (Psol-SP), o que pode ocorrer ainda hoje.

Com uma bancada de oito deputados, o Partido Novo decidiu lançar Marcel van Hattem (Novo-RS), que disputou a principal cadeira da Mesa Diretora da Casa em 2019. Na ocasião, o parlamentar recebeu 23 votos.

“Muita gente tem falado que essa é uma eleição da traição. Discordo, é uma eleição de convicção, da consciência tranquila”, disse van Hattem. “Não quero viver em outro país, quero viver em outro Brasil. Por isso, decidi lançar minha candidatura”, completou.

O líder do Novo na Câmara, Paulo Ganime (RJ), destacou que os integrantes da legenda se juntaram a 43 parlamentares e assinaram manifesto em que pedem aos candidatos que se comprometam com a reforma administrativa e o regimento da Casa, com a organização dos trabalhos do Poder Legislativo e com a independência do Congresso. “Entendemos que na data de hoje não há nenhuma candidatura que se comprometa de forma veemente e fiel a esses pontos. Decidimos, em conjunto com toda a bancada, lançar uma candidatura realmente independente em relação ao Poder Executivo, à Presidência da República e em relação à oposição”, disse Ganime.
Mais cedo, o deputado André Janones (Avante-MG) também fez o lançamento de sua candidatura ao comando da Casa. Ele não conta nem mesmo com o apoio do próprio partido, que está no bloco que sustenta a candidatura de Arthur Lira (PP-AL). Em entrevista, assegurou que, caso seja eleito, a prorrogação do auxílio emergencial será a primeira proposta que colocará em votação.

Já Alexandre Frota optou por lançar a campanha virtualmente: “Posso prometer uma Câmara totalmente independente, uma Câmara livre. Vou abrir diálogo com todos os segmentos da Câmara, com todos partidos. Eu não tenho cargos para oferecer, ao contrário dos outros grandes candidatos, não tenho emendas de R$ 15 milhões, mas eu tenho um trunfo na mão: eu sou o único candidato à Presidência da Câmara com coragem suficiente para colocar no primeiro minuto de mandato o impeachment contra o presidente Jair Bolsonaro. Eu prometo que, antes mesmo de sentar na cadeira, esse processo já estará em andamento, coisa que sei que os outros candidatos não farão. Não têm coragem suficiente para fazer", declarou Alexandre Frota.