Valor econômico, v. 21, n. 5168, 15/01/2021. Brasil, p. A4

 

Manaus vive caos, com hospitais sem oxigênio

Cristiane Agostine

15/01/2021

 

 

Médicos têm de escolher quais pacientes serão atendidos
Manaus enfrenta um cenário caótico no combate à covid-19, com hospitais e postos de saúde superlotados e sem cilindros de oxigênio para atendimento. Médicos relatam que têm de escolher quais pacientes serão atendidos e as mortes por falta de oxigênio se acumulam. Os cemitérios estão lotados e tiveram de instalar câmaras frigoríficas. Com o colapso no sistema de saúde, o governo estadual iniciou ontem a transferência de 750 pacientes para serem atendidos em sete Estados, e determinou toque de recolher.

O cenário é pior do que o vivido pela capital do Amazonas na primeira onda de casos de covid-19, entre abril e junho. Na época, o maior cemitério público da capital abriu valas coletivas para enterrar os corpos e caixões foram empilhados, com o colapso do sistema funerário. Agora, a falta de cilindros de oxigênio agrava a situação, com dezenas de mortes já registradas por asfixia.
Profissionais da área de saúde que trabalham em hospitais e postos de Manaus afirmaram que a situação é dramática e muitas pessoas vão morrer ainda por falta de assistência. Familiares de pacientes que estão sendo tratados em casa, por não conseguirem atendimento hospitalar, relataram que não conseguem reabastecer cilindros alugados.

Nos últimos sete dias, a média móvel de mortes no Estado cresceu 183%. São mais de 219 mil casos de covid-19 e 5,8 mil mortes pela doença no Estado. E é na capital do Amazonas onde estão concentrados os leitos de UTI do Estado e hospitais.

O Ministério da Saúde mobilizou governadores de seis Estados e do Distrito Federal para transferir 750 pacientes com a doença. Os atendimentos serão divididos entre Piauí, Rio Grande do Norte, Goiás, Distrito Federal, Paraíba, Maranhão e Pará.

Ontem, o governador do Estado, Wilson Lima (PSC), anunciou ações para tentar conter a disseminação da doença, como a proibição para a circular entre 19h e 6h em Manaus e o fechamento de todos os serviços, exceto os essenciais para a vida, no Estado por dez dias. Lima suspendeu também o transporte coletivo de passageiros entre rodovias e rios.

O governador desconversou sobre os problemas na gestão que levaram ao colapso no sistema de saúde e disse que o aumento expressivo de casos de covid-19 e de internações se deu por conta de uma variação do coronavírus, com maior poder de transmissão. “ O que está acontecendo hoje no Amazonas é algo extraordinário, resultado de uma mutação do vírus, que está sendo estudada. Há indícios de uma infecção muito veloz. É um vírus que se propaga com muita rapidez”, disse.

Segundo Lima, a White Martins, que fornece oxigênio ao Estado, avisou na quinta-feira da semana passada que não daria conta de atender à demanda dos hospitais e postos. A empresa disse que poderá importar oxigênio da Venezuela. As ações do governo não evitaram o caos. O governador ponderou que o problema foi agravado pela dificuldade logística para transportar os cilindros, que não podem ser enviados em aviões comuns. O avião da Força Aérea Brasileira que estava levando os cilindros para o Estado carrega, por viagem, 5 mil metros cúbicos de oxigênio, enquanto a necessidade tem sido de 70 mil metros cúbicos por dia, segundo Lima.

O governo federal pouco agiu para impedir o colapso em Manaus. Na segunda-feira, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, esteve na capital para defender o uso de remédios sem comprovação científica para combater a covid-19. No dia seguinte, o presidente Jair Bolsonaro responsabilizou o governo estadual e a prefeitura por “deixar acabar” o oxigênio que seria destinado aos pacientes de covid-19. Disse ainda que Pazuello teve que viajar para a cidade para “interferir” na situação local, que estava um “caos”. Ontem, ao lado de Bolsonaro, o ministro da Saúde reconheceu o colapso.
O combate à pandemia no Estado foi marcado por denúncias de corrupção e por ações controversas. A compra de respiradores pelo governo estadual foi feita em uma loja de vinhos, por preços mais altos do que do mercado. A ação foi investigada em uma operação da Polícia Federal, que levou à prisão a secretária de saúde responsável pela compra. A PF pediu a prisão do governador, mas o Superior Tribunal de Justiça negou.

As aulas presenciais foram retomadas em julho, na rede privada, e em agosto, na rede pública. Em dezembro, o governo estadual decretou o fechamento de shoppings, restaurantes e outros estabelecimentos, mas recuou da decisão no mesmo dia em que a determinação passou a valer, depois de protestos pela reabertura dos comércios. Na época, o recuo foi comemorado por deputados bolsonaristas, como Osmar Terra (MDB-RS), Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e Bia Kicis (PSL-DF).

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Pazuello afirma que cidade entrou em colapso e situação é ‘extremamente grave’

Carlo Mercuri

15/01/2021

 

 

O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, disse ontem que a cidade de Manaus entrou em colapso de saúde com o avanço nos casos de contaminação por covid-19. Segundo o ministro, a capital precisa de recursos humanos e oxigênio para os pacientes de maior gravidade. Pazuello participou da live semanal realizada pelo presidente Jair Bolsonaro.

“A situação é extremamente grave, com colapso no atendimento de saúde, crescimento das filas por leitos, com 480 pessoas na espera de vagas, e uma realidade da diminuição oferta de oxigênio”, afirmou o ministro.

Pazuello informou que a responsabilidade pela ação continua sendo da prefeitura e do governo do Estado. “Mas estamos apoiando em todos os aspectos; começando com a remoção de pacientes de menor gravidade para diminuir o impacto [na rede de Manaus] com aviões da Força Aérea”, disse.

O ministro disse também que outras seis aeronaves estão sendo utilizadas para levar oxigênio para a capital amazonense, além da contratação de pessoal para atendimento em Manaus.

Pazuello, que esteve na cidade na segunda-feira, voltou a defender durante a live a orientação que deu às autoridades locais para fazer o tratamento precoce contra a covid-19. Os medicamentos recomendados pelo Ministério da Saúde não têm eficácia comprovada e o uso não é consensual pela comunidade médica.

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Governador pede ajuda a outros Estados para contornar falta de oxigênio no AM

Marcelo Ribeiro

15/01/2021

 

 

Amazonas começou a transferir pacientes para outros locais a fim de desafogar sistema hospitalar
Com o aumento de casos de coronavírus e dificuldades para a aquisição de oxigênio em Manaus, parlamentares do Amazonas ampliaram a ofensiva para que medidas sejam tomadas e pediram ajuda ao governo federal e a outros Estados.

Ontem, o governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), reconheceu que o Estado enfrenta o pior momento desde o início da pandemia, com dificuldades para adquirir oxigênio em meio ao aumento de casos e óbitos em decorrência do coronavírus.

A Secretaria de Saúde em Amazonas informou que o Estado foi comunicado um dia antes do colapso do plano logístico para algumas entregas de oxigênio.

Com a ausência de oxigênio, o governo amazonense calculou que é necessário transferir imediatamente pelo menos 700 pacientes para outros Estados para abrir espaço para outros doentes e conseguir reequilibrar o sistema. Diante do quadro, o deputado Marcelo Ramos (PL-AM) e outros parlamentares se mobilizaram em uma força-tarefa para buscar soluções.

Ramos foi um dos responsáveis por encabeçar a operação com os governadores. Ele acionou os governadores do Piauí, Wellington Dias (PT), Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), e São Paulo, João Doria (PSDB). O objetivo é transferir pacientes para para desafogar os hospitais e Manaus. A remoção começou no fim da tarde de ontem.

Em outra frente, o deputado do PL entrou em contato com o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), para que o governo brasileiro pedisse aos Estados Unidos um avião militar para transportar oxigênio até Manaus.

Em conversa com o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, Ramos foi informado de que o único avião brasileiro apto a fazer esse tipo de transporte estava em manutenção.

“Fale com ministro Pazuello, que me disse que tem o problema de transporte para o Amazonas, porque o único Hércules do Exército está em manutenção, e ele pediu ao governo americano para emprestar um avião chamado Galaxy, porque nem todo avião transporta oxigênio. Falei com o ministro Ernesto, que está intercedendo junto à embaixada americana.”
O deputado Átila Lins (PP-AM) tentou, sem sucesso, convencer o Ministério da Educação para que o governo não tentasse reverter a decisão da Justiça de cancelar o Enem no Estado. A Advocacia-Geral da União (AGU) entrou com recurso ontem para derrubar a decisão.