Valor econômico, v. 21, n. 5167, 14/01/2021. Política, p. A8

 

Tucanos aderem a Pacheco e o colocam com maioria para se eleger

Vandson Lima

Renan Truffi

14/01/2021

 

 

Simone Tebet ganha apoio do Cidadania e do Podemos
A falta de consenso no PSDB pode ter decidido a eleição à presidência do Senado. Ao melhor estilo tucano, a sigla resolveu não fechar posição em favor de nenhum candidato e liberar a bancada. Na prática, quatro senadores do partido votarão em Rodrigo Pacheco (DEM-MG) - candidato apoiado pelo atual presidente, Davi Alcolumbre (DEM-MG) e que conta conta com a simpatia do presidente da República, Jair Bolsonaro. Outros três apoiarão Simone Tebet (MDB-MS).

Assim, salvo por eventuais traições, possíveis em uma votação secreta, ou por mudanças de lado, a eleição do Senado tende a estar liquidada. Pacheco teria o apoio integral de PSD, PT, PSC, PL, Pros, Republicanos e PP. Somados ao DEM, esses partidos possuem 38 senadores. Com os quatro tucanos, Pacheco chega a 42 e ultrapassa os votos necessários para garantir a maioria absoluta entre os 81 senadores e ser eleito presidente do Senado pelos próximos dois anos
A cisão do PSDB é um duro golpe para a candidatura de Simone Tebet, que esperava ter os votos da sigla. O Valor apurou que Roberto Rocha (MA), Izalci Lucas (DF), Rodrigo Cunha (AL) e Plínio Valério (AM) deverão votar em Rodrigo Pacheco. A favor de Simone Tebet estão apenas Tasso Jereissati (CE), José Serra (SP) e Mara Gabrilli (SP).
De acordo com o senador Plínio Valério, a divisão não gerou atritos ou troca de farpas entre os sete senadores. “Tem fumaça branca, mas sem consenso. O consenso é de que não haverá consenso”, ironizou.

“Foi uma discussão sem alterações, sem nada, todo mundo colocando seu ponto de vista. Foi sem problemas, não teve racha. Cada um vota de acordo com sua consciência e interesses políticos”, complementou.

O movimento de onda criado pela candidatura do DEM fez com que uma ala dos tucanos passasse a defender uma posição mais pragmática desde a semana passada. Conforme outros partidos começaram a anunciar adesão à chapa de Pacheco, cresceu a pressão no PSDB por uma aproximação com o DEM, para não perder espaço na formação da Mesa-Diretora e na distribuição do comando das comissões.

Também contribuiu para a divergência dos tucanos a suposta dificuldade de Simone construir uma unanimidade mesmo dentro do MDB, algo que a candidata contesta.

Mais cedo, Podemos e Cidadania haviam anunciado apoio a Simone Tebet. A bancada do Podemos, com nove senadores, decidiu por maioria, mas nem todos da sigla garantiram votos à senadora do MDB. Marcos Do Val (ES) e Romário (RJ) estariam inclinados a votar em Pacheco. Já no Cidadania, o apoio dos três senadores foi unânime.

Segundo Lasier Martins (Podemos-RS), Tebet assumiu compromisso com pautas de combate à corrupção, mas foi cuidadosa sobre a possibilidade de dar prosseguimento a pedidos de impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) - uma pauta do “Muda Senado”, grupo do qual o Podemos faz parte.

Lasier admite que Pacheco parece estar bem mais perto da vitória. Mas os apoiadores de Simone apostarão na pressão popular para virar votos. “Há dois anos, fizemos uma campanha forte contra Renan Calheiros (MDB-AL). Os eleitores cobraram seus senadores e deu certo. Estamos apostando nessa pressão popular novamente”.