Valor econômico, v. 21, n. 5167, 14/01/2021. Brasil, p. A6

 

Empresários destacam papel da vacinação na retomada

André Guilherme Vieira

14/01/2021

 

 

Avaliação foi feita a integrantes do governo em reunião realizada pela Fiesp
Em reunião virtual realizada ontem com o secretário-executivo do Ministério da Saúde, Elcio Franco, e os ministros da Casa Civil, general Braga Netto, e das Comunicações, Fábio Faria, 28 empresários ligados à Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) ressaltaram a importância da campanha nacional de vacinação contra a Covid-19 para a retomada econômica em 2021. O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, não participou da videoconferência.

Os ministros e o número dois da Saúde tentaram aliviar a ansiedade dos empresários, integrantes do Conselho Superior Diálogo pelo Brasil da Fiesp, com vários mais alinhados ao presidente Jair Bolsonaro. Afirmaram que a imunização começará simultaneamente em todo o país até o final da primeira semana de fevereiro. Braga Netto, no entanto, não quis definir uma data “para não gerar expectativa”.

Em uma tentativa de tranquilizar a audiência, Elcio Franco e Braga Netto afirmaram que a imunização será imediatamente iniciada assim que a Anvisa aprovar as vacinas do Instituto Butantan e da Fundação Oswaldo (Fiocruz). Não informaram, no entanto, se a Anvisa aprovará rapidamente as vacinas produzidas pelo Instituto Butantan e Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Os empresários demonstraram disposição para ajudar o governo. O vice-presidente do grupo Raia-Drogasil, Eugênio de Zagottis, presidente da Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma), colocou à disposição 4.500 lojas com estrutura para vacinar, além de 7 mil farmacêuticos. Os ministros disseram que levariam a informação ao presidente Jair Bolsonaro. E informaram que estão avançadas as negociações com a Azul Linhas Aéreas para viabilizar o transporte gratuito das vacinas no país.

Alguns dos empresários manifestaram a intenção de adquirir lotes das vacinas para a venda pela rede privada. Mas o ministro Braga Netto reiterou que a vacinação, por ora, ocorrerá integralmente pelo setor público. Também não foi estipulada uma previsão de data para que as vacinas possam ser compradas pela rede privada, apesar da insistência para que os ministros indicassem uma previsão.
O secretário-executivo Elcio Franco disse que assim que a vacinação for iniciada, o governo terá capacidade para ministrar 25 milhões de doses por mês em meados de março, contando com a estrutura produtiva do Butantan e da Fiocruz. Segundo Franco, o governo federal já tem 50 mil pontos de vacinação à disposição e reservou cerca de R$ 20 bilhões para a realização da campanha nacional de imunização.

Durante o encontro também foi informado que um representante da União Química está na Rússia negociando a importação de doses da vacina Sputnik. A negociação envolveria a realização da fase três do imunizante no Brasil, para que ele possa ser utilizado em caráter emergencial no país.
A reunião durou uma hora e meia. Participaram o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, e os empresários: André Gerdau - do grupo Gerdau; Candido Pinheiro Koren de Lima Junior - do grupo Hapvida; Carlos Sanches - do grupo EMS; Christian Gebara - presidente da Vivo; Constantino Junior, da Gol; Dan Ioschpe - do grupo Iochpe-Maxion; Elie Horn - da Cyrela; Eugênio De Zagottis - vice-presidente do grupo Raia Drogasil; Eugênio Mattar - da Localiza; Fábio Coelho - presidente do Google Brasil; Fernando Cestari de Rizzo - do grupo Tupy; Fernando Galletti de Queiroz - do grupo Minerva Foods; Flávio Rocha - da Riachuelo; Francisco Gomes Neto - presidente da Embraer; Jerome Cadier - da Latam; João Guilherme Sabino Ometto - do Grupo São Martinho; John Peter Rodgerson - CEO do Grupo Azul Linhas Aéreas; Juliana Azevedo - presidente da Procter & Gamble Brasil; Lorival Nogueira Luz Junior - CEO do grupo BRF; Luiz Carlos Trabuco Cappi - presidente do conselho do Bradesco; Marcelo Melchior - presidente do grupo Nestlé Brasil; Paulo Sousa - presidente da Cargill; Ricardo Perez Botelho - CEO do grupo Energisa; Roberto Fulcherberguer - V ia Varejo; Roberto Simões - presidente da Braskem; Rubens Menin - da MRV; Salo Seibel - da Duratex; Victório De Marchi - Ambev e Wesley Batista Filho - presidente da JBS.

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União Química fecha acordo para receber imunizante russo

Assis Moreira

14/01/2021

 

 

Fundo soberando da Rússia vai ceder 150 milhões de doses importadas para laboratório brasileiro
O CEO do Fundo Soberano da Federação da Rússia, Kirill Dmitriev, anunciou ontem em Moscou acerto com a companhia brasileira União Química para fornecer 150 milhões de doses de sua vacina Sputnik V anticovid para o Brasil neste ano. Pelo Twitter, o fundo soberano anunciou também que vai nesta semana junto com a parceira brasileira pedir à Anvisa uma autorização de uso emergencial para a vacina russa no país. Uma delegação da empresa brasileira se encontrou ontem em Moscou com o executivo russo.

Em comunicado oficial, o fundo soberano primeiro informou sobre um acerto com a União Química para o fornecimento de 10 milhões de doses para o Brasil neste primeiro trimestre. O primeiro lote será entregue ainda neste mês.

O plano de fornecimento para o país é de 150 milhões de doses em 2021, mas não significa que tudo será produzido no Brasil, segundo o porta-voz. “Não revelamos ainda o plano de produção da União Química”, disse.

Segundo o fundo, a companhia brasileira começou neste mês no Brasil a produção da Sputnik V. Disse que, como parte da parceria com a União Química, facilitou a transferência de tecnologia para a produção no Brasil, incluindo documentos e biomateriais.

O porta-voz confirmou ao Valor que outras 140 milhões de doses estavam acertadas com a Bahia, Paraná e outros compradores cujos nomes não revela por enquanto.

Quando o acordo com a Bahia foi anunciado, no ano passado, o volume para fornecimento era de até 50 milhões de doses.

O preço da dose da Sputnik V é de menos de US$ 10, o que a torna viável para países em desenvolvimento, na avaliação em Moscou.

O fundo informou que com a União Química está começando a vacinação de brasileiros. Os primeiros são 20 brasileiros trabalhando na embaixada na Rússia.
Segundo os russos, o fundo e a União Química vão propor aos outros membros do Brics - China, Índia e África do Sul, além de Brasil e Rússia - a criação de uma “task force” para combater a covid-19 e cooperar na área de vacinas. A Sputnik tem eficácia de mais de 90% com proteção contra casos severos da covid-19, segundo os russos. Já foi aprovada emergencialmente em Argentina, Bolívia, Venezuela, Argélia, Sérvia e Palestina.

No total, a Rússia diz ter acordos com mais de 50 países para o fornecimento de 1,2 bilhão de doses neste ano. A capacidade de produção até agora está limitada a 500 milhões de doses, incluindo a fabricação em países parceiros, mas a ideia é expandir essa capacidade.
“Nossos parceiros da União Química estiveram entre os primeiros no mundo a mostrar interesse na Sputnik V”, disse Kirill Dmitriev. Destacou a cooperação para fornecimento e produção para começar a população brasileira “o mais rápido possível”. Insistiu que a vacina é segura e eficaz. E que alguns países da América Latina já começaram a vacinar sua população usando a Sputnik V “e esperamos que o Brasil vai se juntar a eles nas próximas semanas”. No total, mais de 1,5 milhão de pessoas já foram vacinadas com a Sputnik V.

O presidente da União Química, Fernando De Castro Marques, disse que a expectativa é protocolar junto à Anvisa o pedido de uso emergencial da vacina Sputnik V. Segundo ele, que está em Moscou em conjunto com mais sete executivos do laboratório, a companhia, o fundo russo e o Instituto Gamaleya, estão refinando os documentos para apresentar à agência.
"Assim que completar a documentação devemos entrar com o pedido. A maior parte dos problemas é de entendimento”, disse Castro Marques. “Os russos têm uma forma diferente de lidar com as coisas dos europeus e dos americanos. Então, estamos mostrando o que a Anvisa quer, como funciona o sistema regulatório brasileiro. Mas, não é nada que atrapalhe. É uma sintonia fina.”

O executivo ressaltou que o acordo de 150 milhões de doses para o Brasil prevê que serão produzidas pela União Química e importadas da Rússia. A fábrica da brasileira, a Bthek, em Brasília, terá capacidade de produção de 8 milhões de doses mensais.

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Falta de seringas é ameaça para sete Estados

Luísa Martins

14/01/2021

 

 

Segundo ministério, há risco nesses locais de não atender à demanda inicial de aplicação
Sete Estados correm risco de não ter, em seus estoques, agulhas e seringas em quantidade suficiente para atender à demanda inicial de aplicação das vacinas contra a covid-19, segundo informou o próprio Ministério da Saúde ao Supremo Tribunal Federal (STF).

A pedido do ministro Ricardo Lewandowski, a pasta informou que Acre, Bahia, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Pernambuco e Santa Catarina podem não ter insumos o bastante caso o governo concretize o objetivo de adquirir 30 milhões de doses de diferentes vacinas para a doença até o fim deste mês.

Contudo, o Departamento de Imunização e Doenças Transmissíveis do ministério afirma que a hipótese mais provável é que esse abastecimento ocorra de forma gradativa, de modo a não prejudicar a meta inicial de vacinação às mais de 49 milhões de pessoas que integram os grupos prioritários, como idosos, portadores de comorbidades e profissionais de saúde.

“Atualmente, o quantitativo disponível no conjunto dos Estados é suficiente para o início da campanha de vacinação contra a covid-19, em janeiro e fevereiro, uma vez que o fornecimento e a distribuição das vacinas serão realizados de forma gradual, de acordo com a disponibilidade dos laboratórios”, diz o texto, assinado pelo diretor do setor, Lauricio Monteiro Cruz.

Ele aponta que, com os recentes acordos firmados pela pasta, a estimativa concreta está no recebimento de 10,7 milhões de doses da vacina em janeiro e de 9,3 milhões de doses em fevereiro. “Isso demonstra que a necessidade imediata desses insumos não será em sua totalidade.”

De acordo com o documento, somados os estoques dos Estados, são 80 milhões de seringas e agulhas disponíveis para o início da campanha de imunização, prevista para ter início ainda neste mês de janeiro, conforme anunciado pelo ministro da Saúde, Eduardo Pazuello.

A área técnica do ministério diz que a União não tem um estoque próprio, já que a compra dos insumos necessários à vacinação cabe aos governadores. Porém, conforme mostrou o Valor, Pazuello vai requisitar às fabricantes de agulhas e seringas os estoques excedentes desses materiais, sem prejuízo a contratos já firmados com outros entes federados. Com essa iniciativa, o governo estima obter 30 milhões de unidades, que serão armazenadas como “reserva de emergência” em caso de falta nos Estados.

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Atraso ameaça 2021 melhor, diz vice da Fiesp

Fabio Graner

14/01/2021

 

 

Para Roriz, falta de medidas para melhorar o ambiente de negócios no país é outro entrave
O ano de 2021 tem risco de não ser muito melhor do que 2020, diante do atraso do governo na questão do plano de vacinação e da falta de medidas para melhorar o ambiente de negócios no país. A avaliação foi feita ao Valor pelo vice-presidente da Fiesp e presidente da Abiplast, José Ricardo Roriz Coelho.

“A gente começou o ano com alguns pontos de incerteza muito grande, não só para a economia como para a população em geral. Precisamos de um plano robusto de vacinação, a ser divulgado com clareza para a população, que teria um impacto muito forte na economia. Isso ajudaria a população e permitiria à economia olhar o médio prazo, e não só o curtíssimo prazo como está ocorrendo agora”, afirmou.
Para ele, a saída da Ford do Brasil evidencia os problemas crônicos da economia brasileira e a falta de perspectiva de uma retomada mais robusta do nível de atividade e da demanda. Roriz trabalha com um crescimento da ordem de 3% para 2021, mas ressalta que, depois da queda do ano passado, é muito aquém do que o país precisa.

“A questão da Ford, vejo análises equivocadas, falando dela defasada tecnologicamente. Ora, ela ganhou prêmio nos Estados Unidos com carro elétrico. A Ford, do tamanho que tem, não é por questão de tecnologia que vai sair. Sem dúvida nenhuma ela está saindo porque as condições de se produzir no Brasil são inadequadas para se atrair investimentos, ter boa margem”, disse.
Ele destacou que os subsídios recebidos pelo setor automotivo são “simplesmente para se ter um tratamento igualitário com as indústrias automobilísticas de outros países”. Roriz destacou que a questão da Ford é muito séria, evidenciando um processo negativo de primarização da economia brasileira, decorrente de falta de reformas para melhorar a situação tributária, desburocratização e outras.
“A gente precisava de uma pauta conduzida e liderada pelo presidente da República para enfrentar todos esses problemas de ambiente de negócios, de reformas. Quem pauta é o presidente. Essa agenda não pode estar só no Ministério da Economia, quem controla esse processo é o presidente e hoje vemos uma total falta de convergência, embora os programas do Ministério da Economia façam todo sentido”, disse o empresário.

Roriz apontou que o fim do auxílio emergencial - que ele considera ter tido um volume acima do necessário, atingindo até quem não teria necessidade - deve afetar o desempenho da economia neste ano.

“Acabar com o auxílio abruptamente vai quebrar essa corrente de consumo e o impacto disso vai ser na demanda. Vai ter uma queda violenta de demanda e em um momento com muito desemprego, empresas mais endividadas, governos endividados e famílias endividadas”, disse. “Nós entramos em situação emergencial do ponto de vista econômico, sem ter resolvido o problema da covid”, acrescentou.

Apesar de ser vice-presidente da Fiesp, Roriz hoje está na oposição ao presidente da principal entidade dos empresários paulistas, Paulo Skaf, que tentou se viabilizar para mais um mandato, mas não conseguiu. Com isso, Skaf definiu o processo eleitoral em meio à pandemia, estabelecendo um prazo considerado curto para a apresentação das chapas. Nesse contexto, apear de ter apresentado sua candidatura à presidência, a chapa de Roriz foi impugnada pela comissão eleitoral. Ele tenta na Justiça reverter essa decisão para poder disputar o pleito. Roriz também pleiteia a presidência do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo).