Valor econômico, v. 21, n. 5165, 12/01/2021. Política, p. A10

 

Bolsonaro cobra voto de ruralistas em Arthur Lira

Fabio Murakawa

12/01/2021

 

 

Líderes do agronegócio no parlamento declararam apoio a Baleia Rossi
O presidente Jair Bolsonaro cobrou ontem deputados da bancada ruralista para que votem em seu candidato, Arthur Lira (PP-AL), na eleição para a presidência da Câmara.

Líder do Centrão, Lira disputa o cargo com Baleia Rossi (MDB-SP), cuja candidatura é apadrinhada pelo atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e conta com o apoio dos partidos de esquerda. Bolsonaro disse ainda que a eleição na Câmara “tem que ser coração, não tem que ser razão”.

A fala do presidente ocorre depois que o presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FAP), Alceu Moreira (MDB-RS), anunciar voto a Baleia, que é seu colega de partido. O próximo presidente da frente, Sergio Souza (MDB-PR), também já teria sinalizou apoio ao emedebista.

Questionado pelo Valor sobre a declaração do presidente, Moreira respondeu: “A eleição não é entre Rodrigo Maia e Bolsonaro”.

Ao falar com apoiadores no Palácio da Alvorada, Bolsonaro cobrou os deputados ligados ao agronegócio, que estão divididos.

“O campo nunca teve um tratamento justo e honesto como teve como teve comigo, em todos os aspectos. Alguns parlamentares do campo, em vez de apoiar o nosso candidato, estão apoiando o outro o outro candidato”, disse Bolsonaro. "Não entendo essa... Nós temos que ter unidade.”

O presidente lembrou, então, que PT, PCdoB e Psol apoiam Baleia. E afirmou que essas legendas "não deixaram a gente votar" a medida provisória que obriga a publicação de balanços de empresas em jornais impressos.

O fim dessa exigência está previsto para ocorrer em dezembro de 2021, de acordo com lei sancionada por Bolsonaro em abril de 2019. Mas o envio da MP pelo presidente, antecipando o prazo, foi visto como uma retaliação às críticas que ele vinha recebendo da imprensa. A MP perdeu a validade em dezembro daquele ano depois que o Congresso deliberadamente deixou de votá-la.

“Nós não podemos ter dois anos pela frente com a esquerda fazendo a pauta [da Câmara]. Do lado de lá, estão o PT, o PCdoB e o Psol, que atrapalharam a gente por dois anos. Fizeram as pautas. Que não deixaram a gente votar, por exemplo, a medida provisória dos balancetes”, afirmou. “Então, pelo amor de Deus, pô! O que eu fiz para o campo? O campo está bombando, o campo tem que estar comigo, pô. Isso é o mínimo de razoabilidade que eu peço para eles para poder levar as nossas pautas para a frente.”
Ainda cobrando os ruralistas, Bolsonaro prosseguiu nas cobranças citando a MP da regularização fundiária, que caducou no ano passado no Congresso, como exemplo de medida que poderia beneficiar o campo, atribuindo a Maia a caducidade.

“O mínimo que eu peço para os parlamentares do campo, que eu tenho profundo apreço por eles, é que vote no nosso candidato para a Mesa, para a gente não deixar mais caducar medidas provisórias”, disse. “E agora eu vejo o pessoal do agronegócio, alguns poucos, apoiando um candidato que está do lado da esquerda.”

O presidente disse não ter “nada pessoalmente contra” Baleia Rossi, que ele chama de “o candidato do outro lado”.

“Pessoalmente, eu gosto dele. Agora, ele está junto com PT, PCdoB e Psol”, afirmou.