Valor econômico, v. 21, n. 5165, 12/01/2021. Brasil, p. A4

 

Governo quer usar 1ª dose de vacina para conter pandemia, diz Pazuello

Murillo Camarotto

12/01/2021

 

 

Segundo o ministro, a vacinação “vai começar no dia D e na hora H em todos os Estados do Brasil”
O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, informou ontem que o governo quer priorizar a primeira dose da vacina contra a covid-19 para fazer a imunização em massa da população. Somente após essa fase é que seria iniciada a segunda aplicação no país.

Durante evento em Manaus, Pazuello deu essa informação quando se referia especificamente ao uso da vacina do laboratório AstraZeneca, desenvolvida em parceria com a Universidade de Oxford e com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

De acordo com ele, a primeira dose da vacina proporciona uma proteção de 71% contra a doença, enquanto que as duas aplicações, combinadas, levariam a imunização “para pouco mais de 90%”.

“É uma estratégia que a SVS [Secretaria de Vigilância em Saúde, do ministério] vai fazer pra reduzir a pandemia. Talvez o foco seja não na imunidade completa, mas na redução da contaminação e aí a pandemia diminui muito”, explicou o ministro.

Pazuello fez um novo balanço de todas as vacinas que poderão ser utilizadas no país e voltou a dizer que somente a produção doméstica possibilitará a imunização em massa de toda a população. “Ficou difícil para as importadas”, afirmou o ministro.

De acordo com Pazuello, a análise de uso emergencial em andamento na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) corresponde às 6 milhões de doses da Coronavac que foram importadas da China e às outras 2 milhões de doses da vacina da AstraZeneca trazidas da Índia.
Ainda não há pedido de uso para as vacinas que serão produzidas aqui - pouco mais de 200 milhões de doses da Fiocruz e 100 milhões do Instituto Butantan.

Pazuello acredita que, se a aplicação das 8 milhões de doses importadas começar ainda em janeiro, o Brasil poderá liderar rapidamente o número de imunizações do mundo, considerando a capacidade instalada no Sistema Único de Saúde (SUS).

O ministro informou que, na avaliação do governo, a vacina do laboratório Janssen-Cilag “é a melhor de todas”, mas que a capacidade de entrega é de apenas 3 milhões de doses, em maio. Ele também reclamou do preço da vacina da Moderna (US$ 37 a dose) e das condições exigidas pela Pfizer.
Apesar da campanha contra as vacinas promovida abertamente pelo presidente Jair Bolsonaro, Pazuello reconheceu que a população quer ser vacinada, mas voltou a defender que a imunização não seja obrigatória. “Lembrando que existem outros poderes na República”, afirmou ele.

O ministro também repetiu que a vacinação vai começar em todo o território nacional no mesmo dia e horário, em recado indireto a governadores que têm marcado suas próprias datas para o início da imunização. “Vai começar no dia D e na hora H em todos os Estados do Brasil.”

Pazuello também reclamou de supostas reivindicações de reajuste salarial por parte de profissionais de saúde. Segundo o ministro, pedidos de melhor remuneração, feitos neste momento, “ficam parecendo extorsão”.

“Precisamos reverenciar o pessoal que está trabalhando e trazer de volta o pessoal que cansou. O momento, agora, não é de reivindicações, não é de abono salarial, o momento é de salvar vidas”, afirmou o ministro.

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SP mantém data de vacinação e pode adiar 2ª dose

Ana Conceição

12/01/2021

 

 

O governador João Doria afirmou que o governo federal não firma uma data para início da vacinação por interesse eleitoral
Em meio à espera da aprovação da Coronavac e do vaivém de informações sobre a documentação necessária para o uso emergencial da vacina, o governo de São Paulo apresentou ontem a logística da vacinação no Estado e admitiu a possibilidade de atrasar a aplicação da segunda dose do imunizante para que mais pessoas recebam a primeira. O governador João Doria (PSDB) reiterou que a vacinação começará em 25 de janeiro.

Na entrevista para divulgar o plano logístico, em que cerca de 2 milhões de doses serão distribuídas por semana, Doria cobrou celeridade da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) na aprovação da vacina desenvolvida pelo Instituto Butantan em parceria com o laboratório chinês Sinovac e detalhes do Plano Nacional de Imunização (PNI), do Ministério da Saúde.

“O senso de urgência amparado pela ciência deve prevalecer”, afirmou Doria. Na visão do governador, o processo da Coronavac tem sido postergado em favor da vacina produzida pela Fiocruz/Oxford, do governo federal. “Atrasar, burocratizar para quê? Para servir qual interesse? É hora de colocar o sentimento acima de qualquer discussão política e partidária, ideológica.”

Segundo Doria, a data de início do programa de vacinação em São Paulo está mantida porque até agora não são conhecidos os detalhes do PNI, como quantas doses e qual o critério de distribuição para cada Estado. Adversário do presidente Jair Bolsonaro, o governador paulista disse que o governo federal não firma data para início da vacinação por interesse eleitoral.

Na semana passada, foi assinado um contrato de exclusividade entre o Ministério da Saúde e o Butantan que entrega toda a produção da Coronavac ao PNI. Doria não vê isso como impedimento para o início da vacinação no Estado e diz que o plano paulista pode se acoplar depois ao programa federal.

O secretário de Saúde, Jean Gorinchteyn, afirmou que o Estado vai respeitar o PNI, mas que, como a Coronavac é, por enquanto, a única vacina disponível, a parcela que cabe a São Paulo pode ser menor que a esperada inicialmente. Nesse sentido, o coordenador-executivo do Centro de Contingência do Coronavírus, João Gabbardo, disse que há possibilidade de a segunda dose da vacinação ser postergada. “O Centro de Contingência não se posicionou sobre o tema, mas é uma possibilidade. Mesmo com um número menor de vacinas, o Estado poderia manter seu cronograma priorizando idosos e trabalhadores da área de saúde.” Pelo cronograma inicial haveria um prazo de 14 a 28 dias entre a aplicação da primeira e da segunda dose.
Segundo o plano logístico apresentado ontem, serão distribuídas aos municípios paulistas cerca de 2 milhões de doses da Coronavac por semana. O Butantan tem 10,8 milhões de doses da vacina em estoque e capacidade para produzir 1 milhão de doses por dia.

Segundo Eduardo Ribeiro, secretário-executivo da Saúde de São Paulo, as vacinas contra a covid-19 irão do Instituto Butantan para uma central logística e de lá partirão semanalmente, e de forma direta, para os 200 municípios mais populosos (com mais de 30 mil habitantes) do Estado. Os 445 municípios restantes irão se abastecer semanalmente a partir de 25 centrais logísticas.

Cerca de 77 mil pessoas estarão diretamente envolvidas na vacinação, 25 mil policiais e 52 mil profissionais de saúde em 5,2 mil salas de vacinação, que poderão ser ampliadas para 10 mil. O Butantan divulga hoje os dados de eficácia global da Coronavac. Contra casos leves, a eficácia é de 78%. A Indonésia aprovou ontem o uso emergencial da Coronavac e divulgou uma eficácia global de 65,3%.

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Sigilo barra divulgação de eficácia da Coronavac

12/01/2021

 

 

Cálculo com base em dados do Butantan sugere efetividade de 64%
A divulgação incompleta dos dados de eficácia da vacina Coronavac, da farmacêutica chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantan se deve ao contrato de confidencialidade entre as duas organizações. O contrato impede o instituto paulista de divulgar os dados gerais.

Na semana passada, o Butantan divulgou que o produto é eficaz em 78% dos casos leves, mas não divulgou a eficácia geral. Reportagem do portal UOL publicada ontem indica que a eficácia da Coronavac ficou “abaixo dos 60%, mas acima dos 50%” recomendados pela Organização Mundial da Saúde e exigidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Segundo o Butantan, “quaisquer informações sobre a eficácia da vacina contra o coronavírus que não sejam as apresentadas pela instituição na última semana são meramente especulativas”. A taxa deve ser divulgada hoje.

O contrato diz, segundo reportagem da rede CNN Brasil do ano passado, que “a menos que expressamente permitido por este acordo ou com o consentimento prévio escrito e expresso da Sinovac, o Butantan não irá manusear, utilizar, descartar, divulgar para, permitir que seja utilizado ou compartilhar com terceiros ou suas próprias filiadas (exceto com as autoridade regulatórias) o dossiê do produto de propriedade e fornecido pela Sinovac”.

Mesmo assim, por insistência de jornalistas, o diretor do Butantan, Dimas Covas, relatou alguns dados aproximados da fase 3 da pesquisa. Segundo ele, foram 218 infecções, sendo 160 no grupo placebo e pouco menos de 60 no grupo vacinado. A partir desses dados, a taxa de eficácia calculada seria de cerca de 64% - acima da apurada pelo UOL -, 14 pontos percentuais abaixo dos 78% de prevenção de casos leves e 14 pontos percentuais acima dos 50% da eficácia mínima.