Correio braziliense, n. 21014, 06/12/2020. Mundo, p. 13

 

Começa vacinação em massa

06/12/2020

 

 

Moscou deu início à primeira campanha de vacinação em grandee escala contra a covid-19. A capital russa começou, ontem, a imunizar pessoas pertencentes a grupos de risco, como profissionais da saúde e professores. As autoridades responsáveis pela campanha montaram 70 centros de imunização, espalhados pela capital, para atender a milhares de interessados em receber a Sputnik V.

De acordo com o prefeito de Moscou, Serguei Sobyanin, 5 mil pessoas já haviam se candidatado para receber a primeira dose cinco horas depois da abertura do registro on-line para a imunização. "Quero ter certeza de que o coronavírus não infectará a mim e a meus parentes (...) Quero poder ir à academia com segurança e retomar uma vida normal", disse Serguei Bouslaïev, 42 anos, à agência France-Presse (AFP), ao justificar a sua candidatura.

Segundo o site Al Jazeera, o atendimento à população foi tranquilo na estreia da imunização, que seguiu um protocolo bem definido. Nos primeiros 10 minutos, a pessoa que foi ao centro de aplicação da vacina foi submetida a um checape, seguido de cerca de 15 minutos para o preparo do imunizante, que precisa ser mantido a -18°C. Em seguida, os vacinados ficaram em observação durante meia hora, e só depois foram liberados.

Aqueles que receberam a primeira dose deverão voltar em três semanas para a segunda, e a estimativa é de que a imunidade total seja adquirida após 45 dias. "Estamos simplesmente cuidando das pessoas. Queremos criar imunidade coletiva. Poderíamos esperar muito tempo enquanto todos pegam a covid-19, mas é claro que isso acarreta riscos significativos para a população", declarou Natalia Kuzenkova, médica-chefe da Policlínica Municipal Número 68 de Moscou, à agência alemã DW. "É por isso que queremos proteger as pessoas, especialmente os setores da sociedade que não podem se isolar", completou.

O governo russo informou que estão previstas a produção e a aplicação de 2 milhões de doses até o fim deste ano e que a vacinação será fornecida gratuitamente. A fase atual de imunização também vai contemplar trabalhadores com mais de 60 anos, pessoas com doenças crônicas, mulheres grávidas ou lactantes. Não há informações sobre quando a abordagem estará disponível para o público em geral.

Testes continuam

Antes do início da campanha, 100 mil pessoas foram vacinadadas ao longo da semana, segundo o ministro da Saúde, Mikhail Murashko. Apesar da imunização em massa, a Sputnik V segue sendo submetida a testes. Os cientistas dedicam-se à terceira e última fase dos ensaios clínicos, com 40 mil voluntários. Tendo como base os resultados preliminares, anunciaram, no mês passado, que ela tem taxa de eficácia de 95%. Estudos detalhados sobre a pesquisa, porém, ainda não foram divulgados em revistas científicas, como tem ocorrido com as outras fórmulas em desenvolvimento.

A Rússia foi o primeiro país a registrar a vacina contra o Sars-CoV-2, em agosto, antes mesmo do início dos testes clínicos em larga escala. A falta de divulgação de dados levou a comunidade científica a ficar receosa com o início da imunização. Ilya Graschenkov, cientista político e chefe do Centro para o Desenvolvimento da Política Regional da Rússia, chama a atenção para a faceta política da corrida pela fórmula que impedirá a infecção pelo coronavírus. "A vacinação pode ser comparada com a corrida espacial (...) O principal é reivindicar ser o primeiro — o primeiro país a produzir uma vacina e o primeiro a começar a vacinar as pessoas", declarou à agência DW.

Os russos entregaram amostras da fórmula a países como Hungria, Sérvia e Venezuela, enquanto negociam acordos de produção com Índia e China. Ao mesmo tempo, lidam com o aumento nos casos da doença. Ontem, o país registrou 28.782 novas infecções em 24 horas, novo recorde diário, elevando para 2.431.731 casos desde o início da pandemia — a quarta posição no ranking de infectados.

Reino Unido

Nesta semana, outros países deverão dar início a campanhas de vacinação. O Reino Unido co-meçará a proteger a população do Sars-CoV-2 a partir de terça-feira, usando a fórmula desenvolvida pela empresa americana Pfizer.

O mesmo imunizante deve ser usado pelos Estados Unidos a partir de sexta-feira. O país mais atingido pelo coronavírus também avalia o uso da vacina da Moderna e deve liberar a aplicação dessa fórmula também neste mês. Desde o início da pandemia, os EUA registraram mais de 14 milhões de casos da doença e 279 mil mortos .