Valor econômico, v. 21, n. 5163, 08/01/2021. Política, p. A9

 

Para aliados de Baleia, episódio prova que Câmara precisa ser independente

Marcelo Ribeiro

08/01/2021

 

Rodrigo Maia sugeriu que partidos políticos interpelem judicialmente Bolsonaro sobre frase em que diz que eleição de 2022 pode gerar crise
Aliados do deputado Baleia Rossi (MDB-SP) acreditam que a invasão do Congresso dos Estados Unidos por apoiadores do presidente Donald Trump pode gerar um fato positivo para a sua campanha à presidência da Câmara. Apesar de lamentarem o episódio, eles consideram que a invasão deve aumentar a percepção de que a Mesa Diretora da Casa precisa ser comandada por alguém independente, sem ligação com o Palácio do Planalto. Essa visão é contestada por aliados de Arthur Lira (PP-AL), candidato apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro, que ontem apresentou uma lista de dissidentes do PSL que o apoiam.

Em conversas reservadas, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), tem afirmado que o ocorrido nos EUA contribui para mobilizar os campos contrários a Bolsonaro e eleva a importância e a necessidade de um Parlamento independente do Poder Executivo.Pelas redes sociais, Maia criticou diretamente as declarações de Bolsonaro de que a eleição de 2022 pode gerar uma crise ainda maior que a que ocorreu nos Estados Unidos, caso o País não adote o voto impresso.
“A frase do presidente Bolsonaro é um ataque direto e gravíssimo ao TSE e seus juízes. Os partidos políticos deveriam acionar a Justiça para que o presidente se explique. Bolsonaro consegue superar os delírios e os devaneios de Trump”, sugeriu.

Integrante do bloco que apoia a candidatura de Baleia, o líder do PSB, Alessandro Molon (RJ), afirmou ao Valor que o episódio amplia os riscos de se entregar a Câmara a um grupo alinhado ao presidente. “Bolsonaro está avisando com dois anos de antecedência que dará um golpe, se não ganhar nas urnas em 2022”, disse Molon. “Imagina se o Congresso norte-americano não fosse independente. Imagina se não tivéssemos a Nancy Pelosi [presidente da Câmara dos Estados Unidos]”, completou.

Aliados de Lira, por sua vez, alegam que o episódio dos Estados Unidos não influenciará a eleição da Mesa Diretora, porque os dois principais candidatos a presidente da Câmara são independentes em relação ao governo federal.
Durante o lançamento de sua candidatura, o líder do PP destacou, por exemplo, que, em caso de vitória, mesmo tendo contado com o apoio de Bolsonaro durante a campanha, manterá independência em relação ao Poder Executivo. “Deixa eles continuarem cuidando dos votos do Capitólio que nós estamos cuidando dos votos da Câmara dos Deputados”, ironizou o deputado Marcelo Ramos (PL-AM).

No mesmo sentido, o líder do PSD na Casa, Diego Andrade (MG), disse que “uma coisa não tem nada a ver com a outra”. “Precisamos de um Congresso que queira desenvolver o país e não colocando armadilhas o tempo inteiro para prejudicar o governo. É isso que não podemos. No momento de dificuldade, todos têm que ter unidade. A disputa política deve ficar para época de eleição. Agora precisamos de unidade, diálogo e muito trabalho.”

Ontem, em uma demonstração de força, Lira contou com a atuação de Major Vitor Hugo (PSL-GO), que divulgou uma lista com assinaturas de 32 deputados do PSL que teriam pedido que o partido fosse incluído no bloco do líder do PP.

O ex-líder do governo alega que os parlamentares não foram consultados pela cúpula do partido sobre a entrada da sigla na legenda de Baleia.

O presidente da sigla, Luciano Bivar (PE), disse que a lista não tem base legal. Ainda assim, o documento demonstra que 30 deputados do PSL apoiam Lira.