Valor econômico, v. 21, n. 5162, 07/01/2021. Política, p. A10

 

Podemos e PSDB podem se unir a Simone

Renan Truffi

Vandson Lima

07/01/2021

 

 

Decisão pode ser tomada semana que vem
O xadrez da eleição para a presidência do Senado tem uma nova bola da vez: o bloco formado por PSDB e Podemos. O grupo tem 17 senadores ao todo - sete tucanos, dez do partido de Renata Abreu - e pode ser crucial para a eleição do próximo presidente da Casa. As duas legendas têm certa proximidade, ainda não se posicionaram, mas discutem nos bastidores a possibilidade de se unirem em prol da candidatura de Simone Tebet (MDB-MS).

O impasse deve ser discutido na semana que vem, quando a bancada do Podemos vai se reunir sob o comando do senador Alvaro Dias (PR) para deliberar sobre o assunto. Segundo interlocutores, a legenda está “rachada” e teria ao menos três alas com opiniões divergentes sobre os rumos da eleição.
Alguns senadores defendem uma candidatura própria, outros propõem uma composição com a maioria para garantir espaços em comissões e uma terceira ala quer que o partido ajude a patrocinar uma candidatura emedebista que tenha Simone como cabeça de chapa. Este último filão tem o objetivo de fazer frente à candidatura de Rodrigo Pacheco (DEM-MG), o sucessor de Davi Alcolumbre (DEM-AP).

O argumento é que, caso o MDB lance Simone, Podemos e PSDB poderiam se unir aos senadores de partidos menores, mas com pautas semelhantes, como PSL (dois senadores), Cidadania (três senadores) e PSB (uma senadora). A maioria deles pertencia a um grupo que ficou conhecido como “Muda Senado”, mas agora se identifica apenas como “independentes” porque passaram a ter rejeição na Casa.
De acordo com os cálculos, PSDB, Podemos e essas siglas menores conseguiriam entregar aproximadamente 20 votos para Simone, que se somariam aos 15 do próprio MDB. Na prática, a presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado teria em torno de 35 votos na largada e precisaria conquistar outros seis apoios para vencer.

Todo esse movimento depende, entretanto, da boa vontade do PSDB, que tem sido mais tímido nas discussões. O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), por exemplo, tem repetido apenas que os tucanos vão defender a tradição da proporcionalidade. Isso porque, até 2019, a maior bancada tinha direito a indicar o presidente do Senado. Essa regra foi quebrada justamente a partir da eleição de Alcolumbre, que venceu mesmo sendo de um partido menor, o DEM.

Essa estratégia não funcionaria, alertam alguns parlamentares, se o MDB optar por outros nomes para encabeçar sua candidatura. É que parte significativa dos dirigentes do Podemos, o partido mais numeroso desse grupo, tem restrições ao nomes de Eduardo Braga (MDB-AM) e Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), que também colocaram seus nomes como pré-candidatos.

“Nós devemos reunir a bancada para uma oposição oficial por volta do dia 13 ou 14 de janeiro. Vamos conversar com esses independentes, com o PSDB e discutir entre nós para ver o que a gente pode fazer. Para saber se é possível atuar conjuntamente ou se ficaremos juntos apenas no momento da formação das comissões [após a eleição da presidência]”, explicou Alvaro Dias.

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MDB pressiona presidente para interferir no Senado

Renan Truffi

Vandson Lima

07/01/2021

 

 

Partido está preocupado com o fortalecimento de Alcolumbre para eleger Pacheco
Líderes do MDB no Senado vão procurar o presidente Jair Bolsonaro para cobrar uma posição mais clara do governo federal na corrida pela presidência da Casa. Insatisfeitos, eles avaliam que o Palácio do Planalto está deixando o jogo correr a favor de Rodrigo Pacheco (DEM-MG). Isso porque o atual presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), padrinho de Pacheco, estaria usando a proximidade com o Executivo para fechar alianças, como as anunciadas com o PSD na terça-feira e Pros ontem.

Nos bastidores, os emedebistas acusam o presidente do Senado de estar prometendo cargos e favores, como forma de fortalecer a chapa do senador mineiro. O recado ao presidente será dado por parlamentares do MDB que terão agendas com Bolsonaro nos próximos dias. A ideia é mostrar que a gestão dele tem "muito mais a perder" se o partido for para o campo da oposição, principalmente no que se refere à situação política do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ). O filho do presidente é alvo de representação no Conselho de Ética por conta das denúncias envolvendo um suposto esquema de “rachadinha”, as quais ele nega.
Essa ala do MDB escalou alguns de seus principais integrantes para descobrir quais cargos estão sendo oferecidos a outras bancadas. No caso do PSD, por exemplo, o DEM prometeu que vai garantir a proporcionalidade na divisão de espaços. Isso quer dizer que o PSD pode continuar com a primeira vice-presidência do Senado, além do comando de comissões importantes, como a de Assuntos Econômicos (CAE) e Relações Exteriores (CRE) - todas já estão sob o guarda-chuva do partido. A novidade seria o controle da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), que hoje está a cargo de Simone Tebet (MDB-MS).

Para uma fonte, Alcolumbre se equivoca ao achar que pode “tutelar o Senado” e exagera nas pressões junto ao presidente. Aliados de Bolsonaro alegam que ele não pode deixar que seu nome seja usado de forma indevida. Para comandar o Senado, Davi teve que compor com o MDB, o que faz com que emedebistas considerem um desatino ele querer eleger um sucessor ao arrepio da bancada majoritária.
A reação parte de nomes como Eduardo Braga (AM), líder do MDB na Casa, Eduardo Gomes (MDB-TO), líder do governo no Congresso, e Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), líder do governo no Senado, todos pré-candidatos na disputa interna. Gomes e Bezerra Coelho tiveram papel crucial na votação de pautas importantes para o governo durante os primeiros anos da atual gestão.

Interlocutores de Alcolumbre respondem, no entanto, que o MDB nunca teve apoio do Planalto. Segundo assessores próximos do presidente do Senado, Bolsonaro prometeu apenas não interferir no pleito e está fazendo isso.
Ontem, Alcolumbre se reuniu com o líder do Pros no Senado, Telmário Motta (RR), outro partido que decidiu apoiar a candidatura de Rodrigo Pacheco. O parlamentar mineiro também participou da conversa que selou o acordo em Brasília. Ao todo, o Pros tem três senadores: Telmário Motta, Fernando Collor (AL) e Zenaide Maia (RN).

“O Davi se tornou um grade líder nesta gestão e, para substituir ele, tem que ser uma pessoa com mais ou menos esse perfil. E hoje quem tem esse perfil é o Rodrigo Pacheco. É um homem preparado, capacitado, muito inteligente, sereno, de procedimentos republicanos. É o cara que vai estar levando o Congresso no ritmo necessário”, defendeu Telmário.

Com isso, o DEM aumenta sua base de votação para a disputa, que está marcada para acontecer no início de fevereiro. No total, a legenda já tem agora 19 votos (cinco do próprio partido, três do Pros e 11 do PSD). O MDB, por sua vez, deve filiar os senadores Veneziano Vital do Rêgo (ex-PSB) e Rose de Freitas (ex-Podemos) somente na semana que vem. Assim, os emedebistas começam a corrida eleitoral apenas com os 15 votos da sua própria bancada na Casa.