O globo, n.31897, 05/12/2020. Economia, p. 29

 

Governo brasileiro caminha para não banir Huawei do 5G

Manoel Ventura 

Naira Trindade 

05/12/2020

 

 

O governo federal está agindo para não banir totalmente a chinesa Huawei no fornecimento de infraestrutura para redes 5G no Brasil, cujo leilão está previsto para ocorrer em 2021. A pressão das empresas de telecomunicações e a importância que o fornecedor tem para a infraestrutura já montada no país estão pesando na avaliação do Palácio do Planalto, segundo fontes que acompanham o assunto. As principais empresas de telecomunicações do Brasil, que vão efetivamente contestar o leilão e montar a infraestrutura 5G - e, portanto, contratar fornecedores - ameaçam ir à Justiça caso a Huawei seja expulsa do país, cobrando do governo uma indenização por investimentos já realizados com equipamentos chineses , como o globo mostrou. Uma ala do governo, por outro lado, ainda defende que ao menos restrições pontuais sejam aplicadas à empresa, como a Proibição de sua atuação em infraestrutura crítica, como áreas de defesa. Esse modelo já foi analisado por técnicos do governo, meses atrás e, por ele, a empresa estaria fora em cerca de 30% da rede nacional.

FORTE PRESENÇA NO PAÍS

O principal obstáculo considerado pelo Palácio do Planalto para não barrar a Huawei, como querem os Estados Unidos, é a presença da empresa nas redes 4G e 3G. Segundo executivos da teles, quase metade da infraestrutura montada hoje foi cedida por chineses, além de já existirem contratos em vigor nesse sentido. Eles apontam que se trata de uma média, e há regiões e casos em que 100% da rede é Huawei.

5G será construído em redes 4G. portanto, banir qualquer empresa que já atue no país forçará a troca de equipamentos e aumentará os custos das empresas. Essa consideração está sendo levada em consideração pelo Platô para não barrar totalmente a Huawei.

No entanto, a ala mais ideológica do governo, comandada pelo chanceler Ernesto Araújo, ainda tenta ampliar algumas restrições.

A versão Usma do edital, ainda em elaboração pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), também não prevê restrições aos fornecedores. Mas técnicos da Anatel destacam que a agência não quer se pronunciar sobre o assunto nem colocará restrições aos fornecedores no edital. Mais do que uma internet de alta velocidade para telefones celulares, a quinta geração de redes de telefonia móvel representará um novo marco para a indústria, a agricultura de precisão e a criação de tecnologias para cidades inteligentes, segurança pública e Internet das coisas. Setores como a agricultura também chegaram ao patamar de que restringir uma empresa poderia custar as instalações.

ERICSSON E NOKIA NO JOGO

Os EUA estão pressionando para que países como o Brasil vetem a Huawei na construção de redes de infraestrutura com o argumento da Segurança da Informação. A empresa é uma das maiores fornecedoras mundiais de tecnologia 5G e tem como principais concorrentes a Ericsson da Suécia e a Nokia da Finlândia.

O que vai a leilão são as frequências com as quais o 5G vai operar. Será contestado por empresas de telecomunicações, que passarão a contratar fornecedores para montar a infraestrutura necessária à operação do 5G no Brasil.