O globo, n.31896, 04/12/2020. Sociedade, p. 14

 

Na reta final

Ana Letícia Leão 

04/12/2020

 

 

Após a chegada de um novo lote da vacina chinesa CoronaVac a São Paulo, o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, afirmou que até 15 de dezembro pretende enviar a documentação final dos testes sobre o produto para análise da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). O imunizante é desenvolvido pela farmacêutica chinesa Sinovac em parceria com o órgão ligado ao governo paulista — que espera começar a vacinação no estado ainda em janeiro, caso ela seja aprovada.

— Teremos até o dia 15 a apresentação dos resultados de eficácia do estudo clínico que o Butantan patrocina para esta vacina nos 16 centros brasileiros — afirmou Dimas Covas, durante coletiva de imprensa no Palácio dos Bandeirantes.

— A vacina está cumprindo todos os protocolos, seguindo o que é proposto pela Anvisa. Nós não precisamos usar o registro emergencial (previsto para imunizantes ainda sem estudo final  publicado), porque vamos solicitar o registro normal.

A análise dos documentos, que inclui toda a fase de testagem, é o que vai embasar a agência reguladora a dar o aval ou não para que a vacina seja aplicada no Brasil.

A declaração do Butantan aconteceu um dia depois que o Reino Unido aprovou em caráter emergencial a vacina da Pfizer e se tornou o primeiro país ocidental a adotar oficialmente um imunizante contra a Covid-19. Na guerra contra o novo coronavírus, os britânicos prometem começar a vacinar a população na próxima semana. O imunizante é um dos mais promissores contra a doença, mas enfrenta desafios de logística por causa da baixíssima temperatura de armazenamento, problema que a CoronaVac não enfrenta.

Segundo o governador paulista, João Doria, uma proposta estadual de imunização será apresentada na próxima segunda-feira.

— Vamos apresentar de forma precisa, com cronograma, setores, volume de vacinas, regiões, áreas, logística e todo o processo. Já temos esse plano pronto há pouco mais de 20 dias — garantiu o tucano.

TROCA DE FARPAS

Doria criticou o plano preliminar de imunização apresentado na última quartafeira pelo Ministério da Saúde, que sinaliza o início da vacinação no país para março do ano que vem.

— Eu indago se os membros do governo federal não enxergam e não registram o fato de que temos mais de 500 brasileiros que morrem todos os dias de Covid-19. Por que iniciar uma imunização em março, se podemos fazer isso já em janeiro? — questionou o governador.

Na madrugada de ontem, chegou ao Aeroporto Internacional de Guarulhos a segunda leva de insumos para a produção da CoronaVac. Foram recebidos 600 litros da substância, capazes de gerar 1 milhão de doses. Em 19 de novembro, chegaram as primeiras 120 mil doses. A expectativa do governo de São Paulo é ter 46 milhões de doses prontas da vacina até meados de janeiro — o número equivale ao tamanho da população do estado; cada pessoa, porém, deve receber duas doses do imunizante.

O governo de São Paulo ainda aguarda uma sinalização do governo federal em relação à verba destinada à CoronaVac, além de uma possível inclusão do imunizante no Plano Nacional de Imunização (PNI). Segundo Doria, São Paulo fará uma imunização estadual caso fique de fora dos planos do Ministério da Saúde.

— Se o governo federal incluir São Paulo e a compra da vacina (CoronaVac), como é o seu dever e a sua obrigação, nós seguiremos com o Plano Nacional de Imunização. Se não o fizer, São Paulo começa a vacinar a partir de janeiro a totalidade da população, com recursos do governo do estado e com a sua capacidade de imunização, amparada no Instituto Butantan.

Na chegada dos insumos, ontem, a carga desembarcou do avião coberta por uma faixa onde se lia “A vacina do Brasil”. A CoronaVac já foi alvo de ataques do presidente Jair Bolsonaro, que fechou acordo para produzir e distribuir no Brasil o imunizante desenvolvido pela Universidade de Oxford em parceria com a farmacêutica AstraZeneca.

Os estudos clínicos da fase três da CoronaVac atingiram no final de novembro o número mínimo de infectados necessário para iniciar o processo de análise de eficácia do imunizante. Os resultados, porém, ainda não foram tornados públicos.