Valor econômico, v. 21, n. 5161, 06/01/2021. Brasil, p. A4

 

Governo diz que produto indiano será importado

Murillo Camarotto

Fabio Murakawa

06/01/2021

 

 

Ministérios da Saúde e Relações Exteriores emitem nota conjunta para negar que governo da Índia tenha proibido venda a outros países
O governo brasileiro negou ontem que a Índia tenha barrado a exportação de vacinas contra a covid-19 produzidas naquele país. Com isso, está confirmada a expectativa de chegada de 2 milhões de doses do imunizante desenvolvido pela farmacêutica AstraZeneca em parceria com a Universidade de Oxford e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Em nota conjunta, o Ministério das Relações Exteriores e o Ministério da Saúde garantiram que não há qualquer problema com a importação da vacina.
A ação dos dois ministérios foi necessária após declarações do presidente do Instituto Serum - laboratório responsável pela produção da vacina na Índia - de que o governo local havia proibido a comercialização do produto com outros países.

“O governo brasileiro, por meio dos ministérios da Saúde e das Relações Exteriores, esclarece que não há qualquer tipo de proibição oficial do governo da Índia para exportação de doses da vacina contra o novo coronavírus produzidas por farmacêuticas indianas”, afirma a nota.

O documento informa que o secretário-executivo do Ministério da Saúde, Elcio Franco, se reuniu com o embaixador da Índia em Brasília para tratar do tema. Também reitera que o Serum esclareceu que as vacinas podem ser vendidas para qualquer país.

A confirmação da chegada do lote de doses reforça a possibilidade de que a vacinação possa, enfim, começar no Brasil. É aguardado para esta semana o pedido de uso emergencial da vacina da AstraZeneca. A previsão foi feita em reunião entre representantes do laboratório, a Fiocruz e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), na segunda-feira.

Caso o pedido seja mesmo apresentando, a expectativa é de que a Anvisa autorize em poucos dias o início da imunização. Nesse cenário, o presidente Jair Bolsonaro evitará que o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), dê a largada na vacinação.
Técnicos da AstraZeneca e da Fiocruz passarão a se reunir diariamente, por meio de vídeoconferência, para agilizar os trâmites da aprovação da vacina. O pedido de registro definitivo, que permitirá o uso em toda a população, está previsto para o dia 15.

“A Anvisa tem atendido todos os laboratórios que estão desenvolvendo vacinas a fim de orientar e esclarecer questões técnicas para a avaliação de vacinas”, afirmou a agência, em nota.

Até o momento, nenhum pedido de uso emergencial ou mesmo de registro definitivo de vacinas contra a covid-19 foi submetido à Anvisa. Também é aguardado para esta semana o pedido de uso emergencial da Coronavac, vacina desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac em parceria com o Instituto Butantan.

A apresentação dos resultados dos testes da Fase 3 da Coronavac já foi adiada duas vezes. O argumento do Butantan foi de que a fabricante pediu um pouco mais de tempo para consolidar os dados da segurança e eficácia.
Preliminarmente foi dada a informação de que o índice de eficácia havia ficado acima do mínimo de 50% requerido para aprovação de seu uso. Em sua live de Natal, Bolsonaro sugeriu que sabia dos resultados e de que eram pouco satisfatórios, mas preferiu não divulgar os números para o público.

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Indústria deve comprar 4 milhões de doses via Sesi

Fabio Graner

06/01/2021

 

 

Ideia é usar conhecimento desenvolvido em campanhas anuais de vacinação de trabalhadores do setor
O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade, disse ao Valor que a previsão é comprar quatro milhões de doses vacinas para imunização de trabalhadores do setor industrial por meio do Serviço Social da Indústria (Sesi). A estratégia de execução desse projeto, contudo, ainda não está pronta, pois primeiro depende da aprovação das vacinas pela Anvisa.

“Nosso programa é de comprar vacinas para os trabalhadores da indústria e fazer parcerias com empresas para vacinação pelo Sesi. Dependemos de liberação [dos laboratórios a serem aprovados] pela Anvisa. Nossa previsão é de 4 milhões mas estamos vendo como fazer este pedido”, afirmou.

Em nota, a entidade industrial complementou: “A CNI e o Sesi estão estudando a possibilidade de obter as vacinas contra a covid. No entanto, as entidades da indústria vão aguardar as devidas orientações do Ministério da Saúde para apoiar uma ampla vacinação dos trabalhadores da indústria”.

Presidente da Federação das Indústrias do Estado do Mato Grosso (Fiemt) e membro do conselho nacional do Sesi, o empresário Gustavo Oliveira explicou que a ideia é de um programa semelhante ao que hoje o setor industrial já faz no caso da gripe. Todo o ano há um processo de imunização executado por meio das unidades do Sesi em parcerias com as empresas.

“A gente tem discutido muito nas reuniões do conselho do Sesi como pode apoiar o país nessa pandemia da covid-19. A ideia é que a gente possa fazer como na influenza H1N1 e possa apoiar imunização brasileira”, disse.

Ele explica que há alguns fatores complicadores no caso da atual pandemia de covid-19, como a escassez de vacinas e a própria falta de organização do setor público em relação a esse processo de imunização. Oliveira destacou que está claro para os empresários que não se pode fechar qualquer vacina e, por isso, ainda será necessário esperar o processo de comprovação de eficácia e aprovação.
Segundo ele, já há um mapeamento sobre os trabalhadores do grupo de risco ou que convivem com quem tem mais chance de contrair formas graves da doença.

Oliveira disse que ainda não sabe qual será o custo desse processo. Segundo ele, em Mato Grosso, o custo de imunização é de R$ 50 por dose de vacina da H1N1, arcado pela unidade local e pelas empresas, sem contar o custo da vacina, comprada pelo Sesi Nacional.