Valor econômico, v. 21, n. 5160, 05/01/2021. Brasil, p. A5

 

PT apoia Baleia Rossi e bloco de emedebista tem onze partidos

Marcelo Robeiro

05/01/2021

 

 

Apoio a Baleia Rossi é a primeira aliança tática de petistas com o MDB desde o impeachment de Dilma
Em uma votação apertada, a bancada do PT decidiu ontem que apoiará a candidatura do líder do MDB na Câmara, Baleia Rossi (SP), ao comando da Casa. A legenda se junta a PDT, PSB, PCdoB e Rede no embarque a postulação do emedebista. É a primeira aliança tática entre PT e MDB desde o impeachment de Dilma Rousseff, em 2016.
A formalização da adesão das siglas de esquerda deve ocorrer na quarta-feira, quando o líder do MDB lançará oficialmente a campanha. Enquanto 27 deputados do PT votaram pelo apoio a candidatura de Baleia, 23 queriam que o partido apostasse em uma candidatura própria ou adiasse a decisão. Um parlamentar se absteve e outro não compareceu ao encontro.
Pelo Twitter, Baleia comemorou as adesões na oposição. “Divergimos em muitos assuntos. Mas estamos juntos na defesa de uma democracia viva e forte”.

Ao comunicar a decisão, o líder do PT na Câmara, Ênio Verri (PR), afirmou que a tese que sustentou a posição vencedora foi a de se alinhar a um candidato que não tenha o apoio do presidente Jair Bolsonaro. O líder do PP na Câmara, Arthur Lira, é quem conta com o apoio do Palácio do Planalto para a disputa.
“Cinco partidos de oposição estão nesse bloco de 11 partidos que apoiam Baleia Rossi. Há um rol de compromissos que ele assumiu em defesa da democracia, dos trabalhadores, de emprego, e de renda emergencial. “Para o PT, é fundamental derrotar Bolsonaro em todos os sentidos”, disse Verri, depois do resultado.
“O apoio a essa candidatura é centrado, ancorado em torno de questões que são fundamentais para o funcionamento da Câmara, como a defesa da Constituição, a autonomia e a independência do Poder Legislativo”, acrescentou o líder da Minoria na Casa, José Guimarães (PT-CE).

Consideradas as atuais bancadas da Câmara, o bloco de Baleia passa a ter 278 parlamentares, enquanto o grupo de Lira conta com 206 deputados. Mas há a expectativa de dissidências de ambos os lados. Para a distribuição de cargos da Mesa, porém, o grupo de Baleia deve ter preferência e fazer as duas primeiras escolhas, o que pode fazer com que promessas feitas por Lira a aliados não sejam cumpridas.

Após a adesão de partidos de oposição, aliados de Baleia já trabalham com a expectativa de que o Psol também entre no bloco que sustenta a candidatura do líder do MDB na Câmara.

Em caráter reservado, parlamentares do Psol reconheceram que a bancada do partido está dividida e que deve haver uma reunião ainda na primeira quinzena de janeiro. Ainda que alguns defendam a candidatura própria, seria crescente a tendência de se juntar ao grupo de Baleia.

Além da possível adesão de Psol, interlocutores de Baleia também acreditam que o embarque quase unânime de partidos da oposição à candidatura do emedebista pode abalar o apoio de algumas legendas a Lira.

O Solidariedade é um partido, na avaliação de aliados do emedebista, que poderia engordar a base que sustenta a postulação do líder do MDB. Atualmente, o partido, com 13 deputados, compõe o bloco de apoio a Lira.

A direção do Solidariedade e a bancada do partido se reunirão na próxima semana. Ainda que a legenda tenha proximidade com Lira, há relatos de insatisfação pelo fato de “ele ser um candidato muito associado a Bolsonaro”.

Com 11 partidos em seu bloco, Baleia dará o pontapé inicial em sua campanha ainda nesta semana. Após lançamento de candidatura na quarta-feira, o líder do MDB na Câmara começará a viajar pelo país já no dia seguinte.

O primeiro destino será o Ceará, onde se encontrará com lideranças da oposição, como o governador Camilo Santana (PT) e os irmãos Ciro e Cid Gomes (PDT). Assim como Lira, seu adversário na eleição, Baleia também aposta nas dissidências do outro grupo para vencer a eleição de fevereiro. Aliados apontam que um dos puxadores de voto poderia ser Alexandre Kalil, do PSD, prefeito reeleito de Belo Horizonte, que tem boa avaliação e sinalizou que ajudará, mesmo sendo de um partido que está no bloco de Lira.

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Lira conta com disputa por cargos

Marcelo Robeiro

05/01/2021

 

 

PSL deve ser primeiro alvo de estratégia

 

De olho na presidência da Câmara dos Deputados, o líder do PP na Casa, Arthur Lira (AL) explora divisões em partidos alinhados com a candidatura do lider do MDB na Câmara, Baleia Rossi (SP), seu principal adversário na disputa, para ampliar o número de dissidências no bloco do postulante apoiado pelo presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para sucedê-lo.

Ex-partido do presidente Jair Bolsonaro, o PSL é um dos alvos da estratégia. Dividido desde novembro de 2019, a sigla já votará dividida na disputa. Uma ala deve acompanhar o presidente nacional da legenda, Luciano Bivar, e apoiar Baleia, enquanto outro grupo, mais próximo de Bolsonaro, aposta as fichas em Lira, que é o candidato apoiado pelo Palácio do Planalto.
Por ter uma bancada numerosa, de 53 parlamentares, o PSL terá direito a um dos cargos na Mesa Diretora. Assim que Baleia acenasse para um dos nomes do partido para concorrer a esse posto, Lira iniciaria o movimento para que uma candidatura avulsa dentro do PSL fosse lançada. Dessa maneira, o parlamentar poderia ampliar as dissidências dentro da legenda. A mesma dinâmica seria replicada em outros partidos aliados de Baleia.

O líder do PP e seus aliados aguardarão a definição final dos blocos para avançar com a ofensiva. Só depois dessa etapa, cada um dos partidos escolherá os cargos que terão direito na Mesa Diretora. Com a configuração de qual legenda fará a indicação para os postos, Lira poderá investir em nomes que não tenham contado com o respaldo de Baleia. A expectativa é que o movimento deflagre “divisões irreversíveis” em legendas alinhadas com o emedebista.

Além do PSL, o DEM e PSDB também estão na mira do grupo do candidato do PP. Eles acreditam que a maneira como Maia conduziu as negociações, tirando as chances de Elmar Nascimento (DEM-BA) participar da disputa, irritou o baiano e aliados mais próximos e garantirão votos da sigla a favor de Lira. Já no PSDB, a expectativa é que o núcleo mais resistente às influências do governador de São Paulo, João Doria, também dê apoio ao líder do PP na Casa. Entre os partidos de oposição, interlocutores de Lira afirmam que ele deve ter votos no PT, no PSB e no PDT.